11 Agosto 2014
"Os membros do Hamas são todos 'animais'? Digamos que isso seja verdade. Mas eles estão lá para ficar, até mesmo Israel acredita que é assim, então por que não os ouvimos?" escreveu há poucos dias Gideon Levy, conhecido colunista do jornal israelense Haaretz, ao comentar a recusa categórica do governo Netanyahu de levar em consideração as solicitações apresentadas pelo Hamas para ir ao encontro de um cessar-fogo permanente.
A reportagem é do jornal Il Manifesto, 08-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Depois que já dissemos tudo o que há para dizer sobre o Hamas – exorta Levy –, que ele é fundamentalista, que ele é cruel, que ele não reconhece Israel, que ele atira contra civis, que ele está escondendo munição em escolas e hospitais, que ele não agiu para proteger a população de Gaza, depois de tudo o que foi dito, e com razão, deveríamos parar por um momento e ouvir o Hamas. Podemos até nos permitir nos colocarmos no lugar dele, talvez até mesmo apreciar a coragem e a resiliência desse nosso arqui-inimigo em circunstâncias adversas."
Ao contrário, observa o repórter, "Israel prefere fechar os seus ouvidos às demandas do outro lado, mesmo quando essas demandas são justas e correspondem aos próprios interesses de Israel no longo prazo. Israel prefere atacar o Hamas sem misericórdia e sem qualquer outro objetivo que a vingança. Desta vez, está particularmente claro: Israel diz que não quer derrubar o Hamas – até mesmo Israel entende que, ao contrário, vai se encontrar com a Somália nos seus portões –, mas também não está disposto a ouvir as demandas do Hamas..."
Na semana passada, relembra Levy, "foram publicadas, em nome do Hamas e da jihad islâmica, dez condições para um cessar-fogo de dez anos. Podemos duvidar se esses pedidos, de fato, são as demandas dessas organizações, mas elas podem servir como uma boa base para um acordo. Entre elss, não há uma condição que seja infundada. O Hamas e a jihad islâmica exigem liberdade para Gaza. Há uma demanda mais compreensível e justa?".
"Leia a lista das demandas – exorta o jornalista do Haaretz – e julguem honestamente se há uma única demanda injusta entre elas: a retirada das tropas das forças de defesa israelenses e a autorização dos agricultores de Israel de trabalhar em suas terras até o muro de segurança; a libertação de todos os prisioneiros da troca de Gilad Shalit que foram presos novamente; fim do cerco e abertura dos postos de fronteira; abertura de um porto e de um aeroporto sob a administração da ONU; expansão da zona pesqueira; supervisão internacional da passagem de Rafah; um compromisso israelense de manter um cessar-fogo de dez anos e o fechamento do espaço aéreo de Gaza à aviação israelense; permissão a residentes de Gaza a visitar Jerusalém e a rezar na mesquita de Al-Aqsa; um compromisso israelense para não interferir na política interna palestina como a unidade do governo; a abertura da zona industrial de Gaza. (…) Mas a verdade (amarga) é que, quando Gaza não está disparando mísseis contra Israel, ninguém se preocupa com ela. Olhe para o destino do líder palestino que se encheu com a violência. Israel fez tudo o que podia para destruir Mahmoud Abbas. E qual é a triste conclusão? Só a força funciona."
"Ao contrário do que a propaganda israelense tentar vender – escreve Levy – os mísseis (do Hamas) não caem do céu sem nenhum motivo. Volte alguns meses: a ruptura das negociações por parte de Israel; a guerra contra o Hamas na Cisjordânia, após o assassinato de três estudantes de um seminário rabínico, que há dúvidas de que o Hamas tenha planejado, incluindo a falsa prisão de 500 dos seus ativistas; o fim do pagamento dos salários dos trabalhadores do Hamas em Gaza e a oposição israelense à unidade do governo, que podem ter levado o Hamas à esfera política. Qualquer pessoa que pense que tudo isso seria aceito sem problemas deve sofrer de arrogância, complacência e cegueira. (...) Um porto em Gaza para exportar seus deliciosos morangos? Para os israelenses, isso soa como uma heresia. Aqui, mais uma vez, a preferência é pelo sangue (palestino) aos morangos (palestinos)".
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''Israel prefere o sangue palestino'', escreve jornalista israelense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU