04 Agosto 2014
Fala Jorge Himitian (na foto, o segundo, da esquerda para a direita), o homem que favoreceu o encontro entre Bergoglio e o pastor Traettino, que recebeu a visita no último dia 28 em Caserta: "O pedido de perdão nos comoveu".
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 29-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Quando o Papa Francisco proferiu aquelas palavras sobre o pedido de perdão aos evangélicos pelas leis raciais promulgadas pelos católicos durante o fascismo, aquilo foi para nós um momento explosivo. Na igreja, estávamos todos muito emocionados. Sim, podíamos esperar um gesto... Mas Bergoglio certamente não o prometera. Mas agora chegou. E o perdão é o primeiro passo para curar essa ferida histórica."
A passos rápidos, do lado de fora da Igreja Evangélica da Reconciliação, o pastor Jorge Himitian, chefe da comunidade cristã de Buenos Aires, chega ao seu carro. Deve voltar de Roma e tomar o voo para a Argentina, de onde chegou na sexta-feira passada para assistir à missa de Jorge Mario Bergoglio diante da prefeitura de Caserta e, depois, para o encontro privadíssimo entre o pontífice católico e os pentecostais, vindos da Índia e das Américas.
A Via Feudo San Martino é uma rua estreita e ensolarada, por onde o papa passou poucas horas antes de partir de helicóptero para o Vaticano. O que foi suficiente, porém, para deixar a sua marca mais uma vez, naquilo que o vice-diretor da Sala de Imprensa vaticana, Angelo Scelzo, define como um gesto de "porte histórico".
Himitian se senta de bom grado à sombra de um estacionamento, em uma cadeira de plástico, para falar saboreando um café. A sua família é amiga íntima de Bergoglio. A sua filha, Evangelina, vaticanista argentina, escreveu um dos livros mais bem informados sobre o percurso do novo pontífice, publicado também em italiano, Francesco. Il Papa della gente (Rizzoli). E Jorge Himitian é o homem que, em 2006, favoreceu o encontro entre o cardeal Bergoglio e o pastor Giovanni Traettino, que depois se tornaram grandes amigos.
Eis a entrevista.
Pastor Himitian, como ocorreu esse encontro exclusivo entre o papa católico e vocês?
Foi muito bonito. Emocionante. As palavras de Francisco foram explosivas. E também aquelas proferidas pelo pastor Traettino. Encontramo-nos realmente como irmãos. Irmãos unidos na diversidade, como está escrito na Carta aos Coríntios. A Igreja é una, mas o Espírito Santo produz diversidade.
O que mais lhe chamou a atenção daquilo que o papa disse?
Finalmente, as palavras de perdão por aqueles anos, pelas dificuldades criadas pelos católicos aos evangélicos pentecostais. Ele, com muita humildade, pediu perdão pelas perseguições. E pela sua ignorância.
Por que só agora?
Traettino já tinha feito um pedido a João Paulo II. Mas a resposta não havia chegado.
E depois?
Em 2006, organizamos no estádio Luna Park de Buenos Aires um encontro de 10 horas com 7.000 pessoas. Convidamos Bergoglio também, que participou com muito interesse, e, no fim, ele pediu que os pastores rezassem por ele. A partir daquele momento, os encontros ocorreram regularmente, a cada dois meses, ou no arcebispado ou na igreja evangélica. Assim nasceu uma amizade espiritual. E descobrimos um homem maravilhoso, disponível, sem compromissos.
Que em março de 2013 se tornou papa.
Imagine então a nossa alegria. Bergoglio era o nosso amigo. Dois meses depois, em maio, fomos ao Vaticano para a missa na Casa Santa Marta. Lá, depois da função religiosa, entreguei a Francisco uma carta de Traettino. Assim, eles, a cada dois meses, acabaram por se encontrar e falar. Por fim, um dia, o pontífice lhe disse: "Em breve, vou encontrá-lo".
Dito e feito, como é o seu costume.
Isso mesmo. De fato, eis-nos aqui, para um dia extraordinário que nunca esqueceremos, que em breve dará os seus frutos, no diálogo. E, além disso, esse é um homem que reza como um pregador. É verdade: Deus está agindo. Em cinco ou 10 anos, consideraremos o encontro de hoje como um encontro histórico.
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''O papa curou uma ferida histórica conosco'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU