Por: André | 24 Julho 2014
“O Papa reformará o papado, o que favorecerá as relações com os ortodoxos”. Palavra de Enzo Bianchi, prior da comunidade monástica de Bose, que desde terça-feira é um dos novos assessores do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o dicastério vaticano dirigido pelo cardeal Kurt Koch, responsável pelo ecumenismo.
O religioso comentou a surpresa da sua nomeação papal (“Não esperava por isso, ninguém me havia dito nada”), antecipou uma possível evolução sinodal da Igreja católica, indicou que espera que os cristãos no Oriente Médio (particularmente no Iraque e na Síria) não sejam abandonados por seus irmãos do resto do mundo e destacou que as diferentes confissões cristãs na Ucrânia foram capazes de evitar uma “imersão política”.
Fonte: http://bit.ly/1x3dOr4 |
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 23-07-2014. A tradução é de André Langer.
“Não esperava esta nomeação, me surpreendeu”, comentou Enzo Bianchi. “O Papa Francisco (na foto com Bartolomeu) me concedeu uma audiência no dia dois de julho; foi a terceira vez que o vi desde o início do seu pontificado, e estava muito contente. Falamos sobre a unidade da Igreja e do que se necessita fazer para promover esta unidade. Mas não me disse nada sobre esta nomeação”.
Em relação ao ecumenismo, “creio – explicou o prior de Bose – que o Papa tem uma preocupação principal: que a unidade não seja feita somente com a espiritualidade da unidade; é um mandamento de Cristo que é preciso colocar em prática. É um compromisso que lhe parece prioritário. Sobretudo com a Ortodoxia, sente que a unidade é uma meta urgente. Creio que o Papa quer alcançar a unidade inclusive reformando o papado. Um papado que já não atemoriza, disse o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, que tem uma amizade com o Papa”.
A reforma do papado significa “um novo equilíbrio entre a sinodalidade e o primado. Os ortodoxos praticam a sinodalidade e não contam com o primado. Nós, os católicos, contamos com o primado, mas também com um defeito de sinodalidade. Não há sinodalidade sem primado e não há primado sem sinodalidade. Isto ajudaria a criar um novo estilo de primado papal e do governo dos bispos”. Uma novidade que pode se traduzir em fatos: o sínodo dos bispos “existe desde o Concílio Vaticano II”, o conselho dos nove cardeais que ajudam o Papa no reforma da cúria e no governo da Igreja universal “foi desejado pelo Papa”, mas no futuro se poderia pensar na hipótese de um “organismo episcopal que ajude o Papa no governo da Igreja, sem colocar em discussão o primado papal”.
Enzo Bianchi, que dedicou sua vida ao compromisso ecumênico, destacou a “delicada situação” na Ucrânia, onde o conjunto das comunidades cristãs apresenta muitas fraturas. “No entanto, é preciso dizer que todas as Igrejas, ortodoxas de diferente índole, católicos latinos e greco-católicos, tiveram a inteligência suficiente para não fazer uma imersão política, e isto indica uma consciência eclesial maior do que se podia esperar”.
Em relação à dramática situação que os cristãos estão vivendo no Oriente Médio, Bianchi indicou que “necessitam sentir-se em fraternidade e solidariedade com outros cristãos”.
O prior de Bose aludiu ao “ecumenismo de sangue” que tantas vezes foi indicado pelo Papa Bergoglio: “Penso nos cristãos do Iraque e da Síria: nunca houve tantos mártires cristãos como nesta época, e são cristãos que pertencem a todas as Igrejas. O sangue dos diferentes cristãos se reúne além das decisões teológicas e dogmáticas”.
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“Francisco quer alcançar a unidade, inclusive reformando o papado”, diz assessor do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU