21 Julho 2014
O diretor-presidente da Microsoft Corp., Satya Nadella, prometeu ser "ousado e ambicioso" para transformar a empresa e sua cultura. A primeira tarefa, disse ele ontem, será consertar alguns dos equívocos de seu predecessor.
A reportagem é de Shira Ovide, publicada pelo The Wall Street Journal e reproduzida pelo jonal Valor, 18-07-2014.
O recém-nomeado líder da empresa americana de tecnologia vai cortar até 18.000 empregos nos próximos 12 meses, ou cerca de 14% da sua força de trabalho, uma das maiores rodadas de demissão da história da Microsoft. Perto de 65% dos cortes serão realizados na equipe de smartphones, que cresceu rapidamente depois que o ex-diretor-presidente, Steve Ballmer, fechou a compra da divisão de celulares da Nokia Corp., no ano passado.
O perfil dos cortes reflete a dura realidade diante de Nadella. Ele precisa antes arrumar a empresa que herdou de Bill Gates e Ballmer para poder fazer que ela seja um reflexo completo dos seus objetivos. Os cortes fora do setor de dispositivos móveis incluem em torno de 5.500 vagas, ou cerca de 5% da força de trabalho da companhia antes de ter comprado a Nokia, quando passou a ter 127.000 funcionários.
A Microsoft informou que os cortes e provisões "ligadas a ativos" custarão até US$ 1,6 bilhão em baixas contábeis antes de impostos, em receita pelos próximos quatro trimestres. A ação da Microsoft fechou ontem em alta de 1%, para US$ 44,53, em um dia onde as bolsas foram afetadas pelas notícias da queda de um avião da Malaysian Airlines.
Nadella também deu alguns indicativos de como seria a reestruturação. Ele planeja modificar a maneira como a Microsoft organiza seus engenheiros e extinguir um grupo de alto nível que Ballmer formou para criar programação de TV para o console de videogame da empresa, o Xbox. Nadella também suspendeu os trabalhos numa linha de smartphones da Nokia que rodam o sistema operacional Android, que havia colocado a Microsoft na incômoda posição de promover o software de seu rival Google Inc.
"Steve Ballmer promoveu uma festa de arromba por dez anos, e agora Nadella chegou para limpar a casa", diz o analista da FBR Capital Markets, Daniel Ives. "Ele está usando essa oportunidade para descartar o que não for necessário e entrar no próximo ano fiscal em condições de colocar dinheiro nas áreas estratégicas em que eles querem se concentrar."
Nadella conta com uma vantagem: ao contrário de muitas empresas que já fizeram demissões em massa, a Microsoft é saudável financeiramente. A receita está crescendo e analistas projetam que a empresa gerou um lucro líquido de US$ 22,5 bilhões no ano fiscal encerrado em junho.
O desafio do executivo será recuperar o terreno em áreas de alto crescimento do setor tecnológico, como computação móvel. Executivos da Microsoft receiam que o império de software da empresa poderia ficar ameaçado se ela não agir de forma decisiva. Investidores e mesmo alguns empregados dizem que a empresa afrouxou muito nos últimos anos na concorrência com pesos pesados como Google, Apple Inc. e Amazon.com Inc.
Os cortes podem não satisfazer críticos que queriam que Nadella fosse mais audacioso e mergulhasse mais fundo na reformulação das diversificadas operações da empresa, que vão desde telefones, videogames e tablets até software para clientes corporativos, anúncios na internet, serviços de chamadas de vídeo e sistemas operacionais para PCs.
As operações de venda de anúncios, de marketing e equipes de engenharia do Windows perderão funcionários com os próximos cortes, disseram pessoas a par do assunto. A Microsoft também vai fechar o Xbox Entertainment Studios, que estava produzindo, em quase dois anos de operação, programas parecidos aos de TV para o Xbox, algo que os críticos chamavam de perda de tempo. A Microsoft também está reduzindo seu exército de vendedores e trabalhadores temporários que ocupam cargos desde a segurança até a engenharia - mas que não aparecem na folha de empregados da empresa.
Nadella acredita que nada é mais urgente que mudar a natureza e cultura de trabalho da Microsoft. Em seu memorando, ontem, ele disse que eliminaria camadas de administração para acelerar a tomada de decisões, e mudar os processos de engenharia da empresa como parte de um empurrão em direção à "simplificação do trabalho".
"Você pode continuar falando sobre mudança estratégica", disse Nadella, na segunda-feira, em uma conferência de tecnologia da revista "Fortune". "Até que nós realmente mudemos culturalmente, nenhuma renovação acontece. Então eu estou muito focado nisso."
Por exemplo, Nadella diz que não já não aceitável que grupos de produtos recusem compartilhar códigos de software com colegas de outras divisões, como já ocorreu com equipes do Windows e do Office. Nadella também vem enxugando equipes separadas de engenharia responsáveis pelo desenvolvimento de software, por testá-los em busca de falhas e pela gestão das operações.
"Talvez tenha chegado a hora de reinventarmos o que fazemos, apesar do fato de já termos sucesso", disse Nadella na conferência.
Alguns investidores dizem que agora querem que Nadella deixe mais claro como a Microsoft pode melhor seus dispositivos móveis, área na qual a empresa e a Nokia estão bem atrás dos líderes do setor, Apple e Samsung Electronics Co. Eles também querem saber como a empresa pode simultaneamente eliminar custos adicionais enquanto investe em áreas de grande potencial.
A Microsoft deve divulgar resultados financeiros para o trimestre mais recente na próxima semana, e Nadella disse que vai detalhar o impacto financeiro de seu plano para a empresa.
Analistas dizem que os cortes na operação da Nokia, maiores que o esperado, podem indicar que a divisão esteja em pior estado do que Wall Street acredita.
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Microsoft demite 18.000 em virada estratégica para crescer na era móvel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU