17 Julho 2014
Ela é a mãe de Naftali, um dos três estudantes israelenses sequestrados e mortos nos arredores de Hebron. Apesar do terrível momento que ela e sua família estão vivendo, Rachel Fraenkel aceitou responder as nossas perguntas, depois de falar de coração aberto com outra mãe judia, Angelica Edna Calò Livné, que há anos tece redes de diálogo inter-religioso e intercultural no norte de Israel.
A reportagem é da revista Famiglia Cristiana, 14-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Temos sete filhos", diz Fraenkel: "Naftali é o segundo. Seu irmão mais velho estudou no mesmo colégio, Makor Haim, em Kfar Etzion, e agora estuda a Torá na Yeshiva, uma escola rabínica. A escola que escolhemos para os nossos filhos é especial: a religiosidade, profunda e comprometida, funde-se com a abertura ao mundo e a consolidação da cultura e do espírito dos alunos. Depois deles, há quatro meninas, com idades entre os seis e os 14 anos, e um irmãozinho de quatro anos. Moramos bem no centro de Israel, na estrada entre Tel Aviv e Jerusalém. O meu companheiro é advogado e trabalha na polícia. Eu ensino a Torá em um curso para mulheres, expressão da renovação ortodoxo-feminista que abriu as fronteiras do estudo do Talmude e da Torá aos níveis mais altos, também para as mulheres."
Eis a entrevista.
Como os outros filhos viveram a tragédia?
Cada filho tem a sua idade, assim como um mundo interior e uma capacidade próprios de elaborar. Com eles, nós, pais, falamos da eternidade da alma e repetimos que Naftali pode permanecer sempre conosco, já que não está limitado por um corpo. Isso ajuda, mas não resolve o problema da sua ausência e da profunda saudade que sentimos por ele. Tento manter um equilíbrio entre a vontade de continuar tendo um lar feliz e normal, e o desejo de dar legitimidade à dor, ao sofrimento, ao fato de que ocorreu algo terrível e assustador. É muito importante para mim que os meus filhos não cresçam no sentimento do ódio e da raiva, que consigam viver a atitude despreocupada da sua idade e um crescimento sereno.
Vocês já tiveram antes a sensação de estar em perigo?
Nunca, absolutamente. Vivemos em uma região tranquila, no interior. A situação política é complicada, mas, primeiro, não tinha influenciado a nossa vida.
Nessas semanas, vocês já pensaram em ir morar em outro lugar?
Nunca pensamos em deixar Israel, e hoje, como sempre, sou grata aos meus pais que, nos anos 1950, deram um passo difícil e corajoso e vieram da América para construir a sua vida aqui.
Como você teve a ideia de manifestar solidariedade à família de Muhammad, o jovem palestino sequestrado e morto em Jerusalém?
Telefonar para a família de Muhammad foi a coisa mais natural. Fiquei chocada com esse assassinato e senti em mim mesmo o sofrimento dos pais. Estou orgulhosa com a magistratura israelense que se apressou para investigar e capturar os culpados. Era muito importante para nós transmitir a mensagem de que nenhum inocente deve ser atingido, e apenas a lei tem o mandato para lidar com esses casos. Tenho certeza de que a família de Muhammad está sofrendo terrivelmente e está sob a pressão da sua comunidade.
Quando você falou à ONU, sentiu ao seu redor a solidariedade justa?
Quando falei à ONU, eu senti uma grande solidariedade por parte de muitas pessoas de todo o mundo. As pessoas diante das quais eu proferi o meu discurso não são fonte de empatia ou de diálogo. Mas a intervenção foi importante para envolver e levantar o debate internacional.
Qual a importância da fé para você e sua família?
Muitas pessoas nos perguntaram se suportar essa dor foi mais fácil para nós porque somos pessoas religiosas. Eu respondi que, antes de tudo, somos pais, e a preocupação com os nossos filhos raptados não foi menor por mérito da fé. Acho que, nessa nova realidade em que devemos enfrentar a sua morte terrível, por um lado, há o sofrimento pela sua falta e a incredulidade de que tudo isso realmente aconteceu, ou seja, sentimentos que seriam sentidos em qualquer família, religiosa ou não. Por outro lado, a fé e a religião oferecem um contexto de pensamento cotidiano que dá a força para seguir em frente. Os preceitos, os costumes que regulam os primeiros sete dias do luto, a união da família, a capacidade profunda de rezar e até mesmo a regularidade e o hábito das orações obrigam que a pessoa seja ativa e não afunde na sua dor. E também a fé na eternidade da alma, naturalmente, e nosso contexto histórico: esses jovens se uniram à longa lista de outros que, como eles, foram mortos por serem judeus.
O que as religiões podem fazer para enfrentar e resolver os conflitos naquela que nós, cristãos, chamamos de Terra Santa?
Eu não tenho uma resposta para essa pergunta. Nos dias de busca desesperada pelos nossos filhos, encontramos muitos expoentes de diferentes religiões, árabes, muçulmanos ou cristãos, que ficaram abalados com esse crime e queriam nos ajudar. Mas, em comparação com eles, as células do Hamas que perpetraram o crime são formadas por extremistas que não se deixam influenciar em nada por quem tem pensamentos mais moderados.
O você sentiu durante e depois da visita do papa a Israel e Palestina?
Para Israel, foi um grande evento. O papa também tinha se permitido encontrar conosco, pais dos jovens sequestrados. A nossa viagem a Roma já estava programada. Depois, veio a terrível notícia de que os corpos haviam sido encontrados. Mas agradecemos muito ao Papa Francisco pelo seu convite.
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''Sou mãe, digo não ao ódio'', afirma mãe de um dos jovens israelenses sequestrados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU