Por: Caroline | 27 Junho 2014
Frente a mais de 100 representantes do G77+China, o ministro da Economia, Axel Kicillof (foto, ao centro), ratificou ontem a vontade do governo nacional de cumprir com o pagamento da dívida externa e solicitou ao juiz estadunidense Thomas Griesa que aceite o pedido de suspensão da decisão apresentado pelos advogados argentinos, a menos de 72 horas hábeis do próximo pagamento que deverá ser feito aos acionistas que entraram no acordo. De Nova York, e a 20 minutos de distancia do tribunal de Griesa, o ministro da Economia detalhou a evolução da dívida argentina, questionou a atitude dos fundos especulativos e advertiu novamente sobre as consequências da aplicação da decisão judicial convalidada dias atrás pela Suprema Corte dos Estados Unidos. “A Argentina quer continuar pagando sua dívida reestruturada. Quer, mas não a deixam, é um caso inédito, insólito. Impuseram-nos determinadas condições que cujas consequências colocam em risco a economia em seu conjunto”, assegurou Kicillof.
A reportagem é publicada por Página/12, 26-06-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/96l8KH |
A comitiva viajou aos Estados Unidos ontem pela manhã para expor a posição da Argentina no âmbito das Nações Unidas, numa reunião de representantes do G77+China. O grupo de 133 países (em um total de 193 que compõe as Nações Unidas) expressou seu respaldo unânime à postura do Governo e levantou a necessidade de estabelecer normas internacionais sobre a reestruturação da dívida. Também foi aprovado o envio de uma carta ao juiz Griesa, ao governo norte-americano e a Suprema Corte. Durante o dia, o ministro argentino realizou uma reunião com os representantes legais argentinos, encabeçados pelo advogado Carmine Boccuzzi, na qual, segundo o ministro, não houve modificações na situação judicial.
De sua parte, o mediador designado por Griesa, Daniel Pollack, informou que foi realizado um primeiro encontro com as partes, que coincidiram em manter a confidencialidade respeito das negociações, com o objetivo de facilitar um possível acordo.
“Como a decisão já tomada, a Argentina solicitou negociar de boa fé. Por isso pedimos uma suspensão da sentença para que possam analisar todos os riscos até o próximo pagamento”, afirmou Kicillof em seu discurso, no qual explicou que se a Argentina quisesse pagar na próxima segunda-feira aos acionistas que aceitaram reestrutura a dívida, não poderia fazê-lo porque os fundos seriam embargados. E, por outro lado, mesmo que aceitasse pagar os 1,5 bilhões de dólares que reivindicam os acionistas que não entraram no acordo, a Argentina deveria responder a solicitações de cerca de 135 bilhões de dólares. “Agora pende sobre nós uma bigorna de 15 bilhões, e mais os 120 bilhões de dólares, que pode cair sobre nossa cabeça na segunda-feira”, alertou o ministro da Economia.
Para chegar a essa conta, os fundos do governo nacional, totalizaram objeto de litígio perante o juiz Griesa, entre os que se encontro NML, de Paul Singer (cerca de 1,5 bilhões de dólares), aqueles que não foram alcançados por esta sentença, mas que também não entraram no acordo (cerca de 15 bilhões) e por último os pedidos que poderiam vir dos acionistas que aceitaram entrar no acordo, mas que exigem as mesmas condições que o restante (“de acordo com os cálculos conservadores – disse Kicillof - 120 bilhões de dólares”).
“O acionamento dos fundos especulativo coloca em risco não apenas a reestruturação da dívida, mas também do país e de nosso povo. A Argentina está disposta a negociar de boa fé. Contudo, prestem atenção, se entre hoje e a próxima segunda-feira, o juiz não colocar um guarda-chuva legal, não colocar uma suspensão da sentença, a negociação será muito complexa”, explicou Kicillof frente ao auditório de embaixadores e diplomatas do grupo de países em desenvolvimento. Com o tempo, como adversário e os fundos especulativos pressionando para que não saia essa suspensão do julgamento, a missão argentina em Nova Iorque voltou para obter apoio para a sua posição.
“Tem que ser justa e razoável, não poderá dizer que o país tenha que optar em três dias frente o perigo de aderir uma dívida de 120 bilhões. Que ponha condições equilibradas que levem em conta cem por centro dos acionistas argentinos”, insistiu Kicillof.
Durante uma conferência de imprensa realizada posteriormente, o ministro da Economia não descartou uma mudança de jurisdição no pagamento aos acionistas, ainda afirmou que não pode “responder encima de hipóteses”. Por outro lado, esclareceu que não estava em sua agenda reunir-se com os advogados dos fundos especulativos nem com o mediador Daniel Pollack, já que a Argentina possui seus representantes legais, com quem já havido se reunido mais cedo. “Estamos dispostos a negociar de boa fé. Estamos esperando a resposta do juiz. Por hora o que conhecemos é o silêncio de Griesa e a resposta negativa dos acionistas”, reafirmou Kicillof, enfatizando a necessidade de conseguir um prazo maior para conseguir um acordo.
Durante sua explanação nas Nações Unidas, o ministro da Economia mostrou um gráfico com a evolução da dívida desde 1824, quando foi solicitado um empréstimo de um milhão de libras esterlinas à casa Baring Brothers para a construção do porto de Buenos Aires. “Essa dívida terminou em 1905, cerca de 80 anos depois. As obras não foram feitas e a Argentina pagou essa dívida sendo que chegaram a ela 500 mil libras esterlinas em vez de um milhão”, relatou Kicillof, que logo se concentrou no período de 1976-2033, quando “começa a se gestar a disparada da dívida externa moderna da Argentina”. Logo refletiu sobre as negociações de 2005 e 2010, somadas ao pagamento ao FMI e o acordo com o Clube de Paris, entre outros pontos da gestão iniciada por Néstor Kirchner.
Ao introduzir a exposição do ministro, o chanceler Héctor Timerman agradeceu a colaboração do G77+China, que semanas atrás reuniu-se em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde já havia declarado sua preocupação pela atitude dos fundos especulativos. Timerman lembrou as palavras da presidenta Cristina Kirchner nesse encontro: “Hoje os fundos especulativos colocam em perigo o sistema financeiro internacional. Não se trata de Norte ou Sul, mas de uma economia da produção contra uma economia da especulação”, citou o chanceler argentino.
Um dos temas foco da comitiva argentina é o impacto do julgamento nos processos de normalização da dívida de outros países. “Argentina pagou e quer continuar pagando, mas em situação razoáveis e possíveis”, completou Kicillof.
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“A Argentina quer pagar, mas não a deixam” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU