Por: Cesar Sanson | 11 Junho 2014
A quase dois dias do jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014 em São Paulo, o Governo brasileiro anunciou que atenderá as reivindicações da entidade que organizou os principais protestos contra os gastos do Mundial no último ano. O acordo com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) deve esvaziar parte da agenda de protestos planejados para o evento, o que traz um alívio à presidenta Dilma Rousseff (PT).
A reportagem é de Talita Bedinelli, publicada pelo jornal El País, 10-06-2014.
Desde os protestos multitudinários iniciados em junho do ano passado no Brasil, que iniciaram por causa do aumento das passagens de transporte público em diversas cidades, o MTST é uma das principais entidades a continuar de forma organizada os atos, que ganharam nova roupagem: a crítica de que os governos deveriam investir em áreas como saúde, educação e habitação com o mesmo padrão adotado nas obras de infraestrutura da Copa por exigência da FIFA. O MTST, inclusive, liderou a ocupação de um terreno próximo à Arena Corinthians, palco de abertura do Mundial, onde 2.000 famílias passaram a viver. O lema da entidade era: "Se teve dinheiro para a Copa da FIFA tem que ter para a Copa do Povo".
Copa do Povo foi o nome dado à ocupação, que buscava denunciar a expulsão para locais ainda mais periféricos dos moradores da já longínqua Itaquera, na zona leste de São Paulo, onde o estádio de abertura do Mundial está localizado. Com a chegada da Arena, a região se valorizou, os aluguéis aumentaram 165% nos últimos 6 anos, diz o MTST, e parte da população teve que se mudar. O movimento pedia a construção de unidades habitacionais no terreno para moradores da região, o que foi atendido nesta segunda-feira pelo Governo. Serão construídos 2.000 apartamentos no local.
Outra vitória importante conseguida pelo movimento foi a mudança nos critérios do programa habitacional Minha Casa Minha Vida. Segundo a presidência, a participação de entidades sociais será ampliada. Atualmente, elas podem receber verba para a posterior distribuição de mil casas. Agora, o limite será de 4.000. O argumento do MTST é que as unidades que são planejadas pelas entidades são melhores e mais baratas do que as construídas pelas empreiteiras, que, além disso, não se preocupam com a localização das unidades ofertadas, muitas vezes em regiões desvalorizadas e distantes de onde estão os postos de trabalho.
Além disso, o Governo afirmou que criará um trabalho conjunto entre os ministérios da Justiça e das Cidades, a Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria-Geral da Presidência da República para acompanhar os conflitos urbanos. O MTST diz que o objetivo é evitar o abuso da atuação da Polícia Militar em ações de reintegração de posse de terrenos ocupados, como aconteceu no Pinheirinho -uma ocupação no interior de São Paulo onde viviam cerca de 6.000 famílias, que foi despejada com violência pela Polícia Militar em janeiro de 2012.
No último dia 6, o MTST já havia resolvido suspender uma mobilização que estava marcada para acontecer durante o amistoso do Brasil contra a Sérvia, no Morumbi, em São Paulo. A decisão, segundo o movimento, aconteceu porque havia uma sinalização positiva do Governo em relação aos pedidos do movimento. Dois dias antes, o quarto ato promovido pelo grupo, em Itaquera, reuniu 25.000 pessoas, segundo a entidade (de acordo com a Polícia Militar foram 12.000). Ao final, Guilherme Boulos, o líder do movimento, havia prometido uma “radicalização” caso o Governo não tomasse medidas concretas em relação aos pedidos do grupo.
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Um acordo entre Dilma e os Sem-Teto pode esvaziar os protestos anti-Copa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU