Qual a teologia das religiões do Papa Francisco? Artigo de Rosino Gibellini

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10 Junho 2014

Qual é a teologia das religiões do Papa Francisco? E como se pode formulá-la em relação ao judaísmo e ao islamismo?

A reflexão é do teólogo italiano Rosino Gibellini, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, e republicado pelo blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 09-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Televisão e imprensa documentaram a recente viagem apostólica do Papa Francisco à Terra Santa. Destacou-se especialmente Rádio Vaticano, que entrou em contato comigo, nas proximidades da viagem, com uma pergunta singular: qual é a teologia das religiões do Papa Francisco? E como se pode formulá-la em relação ao judaísmo e ao islamismo (dadas as comunidades que se encontrariam na viagem à Jordânia, Israel e Palestina)?

Eu respondi a pergunta e as suas articulações com referência à exortação apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), em que o papa também se expressa sobre essa temática.

Em primeiro lugar, a relação deve ser dialógica e visar a realizar a paz: "A paz é artesanal" (n. 214). A expressão é muito bonita e também foi usada e explicada na viagem, e recebida pelos observadores. Geralmente, diz-se que os discípulos do Senhor devem ser "operadores de paz", segundo as bem-aventuranças (Mt 5, 9). Mas usar a expressão: "a paz é artesanal" significa confiar a paz a todos, para que cada um a implemente "todos os dias" e "com pequenos gestos". Esse é o princípio primeiro, expressado na forma resignada, mas exigente, na prática.

Em relação ao judaísmo, o Papa Francisco reconhece que, entre judaísmo e Igreja, "há uma rica complementaridade" (n. 249), que nos ajuda a compreender a Palavra e a compartilhar convicções éticas a serviço da justiça e do desenvolvimento dos povos.

Também é conhecida a sua amizade com o rabino argentino Abraham Skorka, com quem ele escreveu o livro que documenta uma amizade confidente, Sobre o Céu e a Terra (2010; Ed. Mondadori, 2013), que a editora Toby Press (New Milford, Connecticut) decidiu traduzir para o hebraico.

Para a relação com o Islã, é preciso distingui-lo do fundamentalismo violento, que é uma degeneração sua, e o diálogo é assim expressado: "Nós, cristãos, deveríamos acolher com afeto e respeito os imigrantes do Islã que chegam aos nossos países, tal como esperamos e pedimos para ser acolhidos e respeitados nos países de tradição islâmica", e depois continua: "Rogo, imploro humildemente a esses países que assegurem liberdade aos cristãos para poderem celebrar o seu culto e viver a sua fé, tendo em conta a liberdade que os crentes do Islã gozam nos países ocidentais" (n. 253). É o pedido – humilde, claro e exigente – de reciprocidade.

O diálogo inter-religioso deve ser praticado; ele é "em primeiro lugar uma conversa sobre a vida humana" (n. 250).