O gesto ecumênico do Papa Franciso de joelhos diante dos não católicos

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03 Junho 2014

"Recomendo-me à eloquência dos gestos", disse Francisco aos bispos italianos no dia 19 de maio: e ei-lo nesse domingo no Estádio Olímpico de Roma, ajoelhado para "receber" a oração das 50 mil pessoas sobre ele. Aqui a eloquência está na capacidade daquele gesto de dar uma evidência plástica ao seu constante pedido "rezem por mim".

A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 02-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O gesto desse domingo não é um gesto pacífico na Igreja, porque, no meio da multidão que rezava por ele, também havia os "carismáticos" pertencentes a Igrejas protestantes.

Assim como não ocorrerá sem ressonâncias polêmicas o encontro de oração do próximo domingo, ao qual ele chamou os presidentes Shimon Peres e Abu Mazen. O Papa Bergoglio sabe bem que os gestos não são eloquentes se forem inócuos, mas falam quando abalam.

Francisco fez o gesto de se inclinar para receber a oração do povo na primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro na noite da eleição. Essa inclinação é nova na tradição papal, mas não era nova na biografia de Bergoglio, que já a havia experimentado como arcebispo de Buenos Aires, em uma ocasião pela qual os tradicionalistas o acusaram de "apostasia", isto é, de renegação da fé, já que, à época – como novamente nesse domingo –, ele tinha se ajoelhado para receber a oração de uma assembleia composta também por "hereges".

Era o dia 19 de junho de 2006, e o cardeal Bergoglio participava de um encontro ecumênico no estádio Luna Park, em Buenos Aires. "Em um certo ponto, o pastor evangélico pediu que todos rezassem por mim", contaria o futuro papa na página 197 do livro Sobre o céu e a terra, que é de 2010. Enquanto todos rezavam, diria ele ainda, "a primeira coisa que veio à minha mente foi me ajoelhar, para receber a oração e a bênção das sete mil pessoas que se encontravam lá".

Pela acolhida dessa "bênção" ecumênica, assim como – e ainda mais – pelas suas iniciativas de encontros de oração com judeus e muçulmanos, ele foi contestado no seu país e talvez voltará a ser agora como papa, depois do gesto desse domingo e em vista do gesto do próximo domingo.

Unir as orações é tarefa árdua sobre a terra.