27 Mai 2014
O Papa Francisco se recolhe em oração diante do Muro de Belém, e Israel reage com um silêncio ensurdecedor. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prefere enfatizar os méritos do papa na luta contra o antissemitismo, o presidente Shimon Peres aceita o convite para se encontrar com Abu Mazen no Vaticano, o prefeito de Jerusalém, Nir Bakrat, acolhe o pontífice com um coro de crianças festivas, para os noticiários da noite o que importa é a própria presença do papa no Estado judaico, e as pessoas comuns, na estação dos ônibus ou no mercado de Machané Yehudá, discute principalmente sobre o bloqueio da circulação que paralisaria Jerusalém nessa segunda-feira.
A reportagem é de Maurizio Molinari, publicada no sítio Vatican Insider, 26-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para entender por que um gesto papal tão explícito em favor dos palestinos gerou polêmica em Israel é preciso considerar dois elementos convergentes: o primeira tem a ver com o governo, e o segundo com o povo israelense. Acima de tudo, o executivo de Netanyahu esperava nessa segunda-feira por um gesto papal igualmente explícito em relação aos judeus, e Bergoglio em parte valorizou essa expectativa, dizendo, pouco depois da chegada no aeroporto de Tel Aviv, que o momento "particularmente tocante da minha estadia será a visita ao Yad Veshem", o memorial aos seis milhões de judeus trucidados pelos nazistas.
O rabino argentino Abraham Skorka, amigo pessoal de Bergoglio, fala em sintonia, preanunciando que o papa poderia "fazer um gesto importante" sobre a abertura dos arquivos pontifícios sobre o período do nazismo. Mas isso não é tudo, porque Israel e o Vaticano, nos últimos meses, percorreram um longo caminho no diálogo sobre Jerusalém, e a hipótese ventilada de fazer com que os franciscanos celebrem missas na sala do Cenáculo sugere o amadurecimento de uma convergência mais ampla sobre o futuro status da Cidade Velha.
E ainda: o campo do respeito pela liberdade religiosa, e em particular pelos direitos dos cristãos, é um ponto de encontro tão forte entre Israel e Santa Sé a ponto de poder cimentar uma forte convergência em um Oriente Médio preso às guerras civis. Como que dizendo: os interesses que ligam Israel e Santa Sé são tais e tantos que a foto do papa no Muro de Belém não parece capaz de prejudicá-los.
Mas há mais: a grande maioria dos cidadãos israelenses aceitou há muito tempo a separação dos palestinos e demonstra pouco interesse no que ocorre nos territórios controlados pelo governo de Abu Mazen. Ainda mais no que diz respeito ao muro, construído pelo governo de Ariel Sharon a partir de 2002, ao qual foi unanimemente atribuída a eficácia em ter bloqueado os sangrentos ataques suicidas da Segunda Intifada.
A soma entre indiferença popular pelo que ocorre na Autoridade Palestina e a convicção do governo Netanyahu de que a peregrinação de Francisco se concluirá com um importante gesto para com os judeus explica o que aconteceu nesse sábado, quando um gesto potencialmente perturbador nas relações Israel-Vaticano, ao contrário, foi ignorado pela maioria.
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Jerusalém espera um último gesto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU