Por: Caroline | 26 Mai 2014
Um telegrama voltado ao feriado nacional da Argentina mandada em nome do Papa para a presidente Cristina Fernández de Kirchner provocou tensões entre Buenos Aires e o Vaticano.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 25-03-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/0aBw71 |
Uma “falsa” carta do Papa e um incidente internacional com o governo argentino. Essa foi a consequência de um “quinta-feira difícil” para a diplomacia da Santa Sé. Um simples telegrama de saudação enviado a presidente Cristina Fernández de Kirchner pelo feriado nacional de 25 de maio causou um reboliço quando foi qualificada como apócrifa por um colaborador próximo ao pontífice. Contudo, na realidade, o texto era autêntico.
Assim o confirmou ao Vatican Insider o porta-voz do papa, Federico Lombardi, que reconheceu esta sexta-feira que a carta saiu efetivamente do Vaticano.
“É uma mensagem oficial, enviada pela Secretaria do Estado em nome do Papa para as saudações aos chefes de Estado, em decorrência dos feriados nacionais de cada país. A Secretaria do Estado é a encarregada disso, o envia em nome do Papa. Obviamente não é uma carta pessoal redigida pelo santo padre, mas é autêntica”, esclareceu.
E assim saiu-se da polêmica suscitada nas últimas horas pela mensagem que, na quinta-feira, foi divulgada pela Presidência da República Argentina, mas que foi qualificada como “falsa” e um “papelzinho” por Guillermo Karcher, sacerdote argentino integrante do Escritório das Celebrações Litúrgicas de Sua Santidade, que expressou em vários meios de comunicação de seu país o aborrecimento pelo suposto uso abusivo do nome e da pessoa de Francisco.
Nem bem o conteúdo da mensagem era conhecido, na manhã de quinta-feira em Buenos Aires, alguns jornalistas já começavam a duvidar da autenticidade da mesma, entre outras coisas porque o Papa era próximo da presidente, estava redigido toda em maiúscula e porque continha um erro de ortografia.
“Sou grato em fazer chegar-lhe minhas saudações e aproximação devido a festa nacional, junto a minha sincera felicitação a todos os argentino (sic), para os quais peço ao senhor, por intersessão de Maria Santíssima de Luján que encontre os caminhos para a convivência pacífica, com o diálogo construtivo e mútua colaboração e assim cresça em todos os lugares a solidariedade, harmonia e justiça”, indicou o texto.
Entretanto, ontem mesmo, na capital argentina, o governo convocou uma audiência com a imprensa na qual tanto o secretário de Culto da Nação (repartição encarregada da área religiosa dentro do Estado argentino), Guillermo Olivieri; como o secretário geral da Presidência, Oscar Parrilli, asseguraram que o texto havia chegado a eles diretamente da nunciatura apostólica. Exibiram, inclusive, em uma nota verbal do núncio, Emil Paul Tscherrig, que receberam o envelope, que continha a carta papal, lacrado. Todos os textos estavam impressos em um papel timbrado da embaixada vaticana.
Em meio à polêmica gerada por essas versões contraditórias, Lombardi explicou que o envio de cartas como essa são uma “prática habitual” que compete ao escritório de política interior e exterior da Santa Sé, a Secretaria do Estado. “Não é que se trate de uma mensagem secreta, é dirigida ao presidente e chefe de Estado”.
Nesta mesma sexta-feira, em declarações radicais, Karcher voltou atrás em suas declarações iniciais e confirmou que a carta é autêntica, mas esclareceu que se tratou de um telegrama. Por isso sua redação toda em maiúscula.
Na manhã dessa sexta, as 09h30min de Roma, o próprio Papa Francisco comunicou-se com o embaixador da Argentina na Santa Sé, Juan Pablo Cafiero, o qual lhe assegurou de maneira categórica que a carta era autêntica. Esclareceu que “corresponde-se com os telegramas que envia a outras nações na época dos feriados nacionais” e “lamentou pelos que semearam dúvidas sobre sua autenticidade”.
Além disso, mostrou-se aborrecido “com alguns meios de comunicação que quiseram tirar água de terra árida para gerar conflitos, sem o rigor de informar a verdade à sociedade”. O Papa pediu ao embaixador Cafiero que se comunicasse com o governo da Argentina para ratificar “de forma conclusiva” a autenticidade da carta, reiterou sua “afetuosa saudação” ao país e à presidenta, Cristina Fernández de Kirchner, além de pedir ao embaixador que tornasse pública sua conversa.