19 Mai 2014
Há dez meses, o jesuíta italiano está prisioneiro na Síria. A revista Famiglia Cristiana relança o apelo da família. Entrevistamos Cecilia Dall'Oglio, que relata como vivem seus pais e irmãos: a trepidação, a esperança, a fé.
A reportagem é de Alberto Chiara, publicada na revista Famiglia Cristiana, 16-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No dia 27 de abril de 2013, as ausências estavam reduzidas ao mínimo. Um sucesso para uma família numerosa como a sua: os pais, oito filhos, genros, noras, 22 netos e 13 bisnetos. O encontro era em Roma para festejar os 90 anos do pai, Cesare, e os 63 anos de casamento entre ele e Donatella (foto abaixo).
Encontravam-se em muitos. Acima de tudo, estava o padre Paolo, sorridente como sempre. Ele celebrara a missa, obviamente. Depois, voltara para a Síria, o seu amor, a sua vida, onde – desde julho de 2013 – os seus rastros se perderam no ensanguentado labirinto da guerra civil. Sequestrado, diz-se, por um grupo de fundamentalistas islâmicos.
Calar ou falar
Na realidade, sobre o padre jesuíta Paolo Dall'Oglio, 59 anos, se sabe pouco ou nada hoje. "Diante da tragédia de uma terra que registra a cada dia sofrimentos e lutos, diante do drama daqueles que fogem dos horrores do conflito, nos perguntamos se não era melhor calar, por respeito ao calvário alheio, ou falar, uma vez ao menos, para compartilhar o que sentimos", confidencia Cecilia Dall'Oglio, 46 anos, a irmã mais nova.
"Nós nos respondemos que sim, que era justo compartilhar o dom recebido, o da fé, exatamente como fizeram no entardecer de Páscoa os discípulos de Emaús, uma página da Escritura não por acaso selecionada há um ano por Paolo e pelos nossos familiares para o nosso encontro especial de família."
Desorientação e dor arranham a alma. Seria desumano o contrário. Um irmão, Pietro Dall'Oglio, buscou respostas compondo um rap, Abuna Paulo (Padre Paolo), e postando-o, como se diz no jargão digital, no YouTube (assista abaixo).
"Poesia, cultura e compromisso são, às vezes, as chaves certas", canta: "Talvez você tenha medo lá, sozinho, quem sabe o que você pensa, os seus silêncios são para nós mistérios, as suas recordações vêm e vão, profundos entre os pensamentos."
"Eu posso falar do nosso pai e da nossa mãe", retoma Cecilia. "O pai tem uma fotografia de Paolo no criado-mudo e, muitas vezes, também sobre as pernas. Em cima, pendura um terço. Uma vez, era uma sexta-feira da Quaresma, eu só lhe passei a foto. 'Não, não, me dê também o terço, por favor', ele me disse, 'é parte integrante, nunca devem ser separados'."
Todos os dias na missa
A oração, portanto. E o mistério eucarístico. "Enquanto puderam, o pai e a mãe participaram todos os dias da missa. Agora, eles a acompanham pela TV. A mãe reencontrou um pensamento escrito pelo pai. Ele retoma a homilia pronunciada por Bento XVI durante as celebrações do Corpus Christi no dia 26 de maio de 2005: 'Nesta festa, a Igreja revive o mistério da Quinta-Feira Santa à luz da ressurreição. Jesus sai e se entrega nas mãos do traidor, do exterminador e, exatamente assim, vence a noite, vence as trevas do mal. Só assim, o dom da Eucaristia, instituído no Cenáculo, encontra o seu cumprimento'. Nessas palavras, que o pai definiu como um programa de vida, existe a plenitude do sacerdócio em geral e, eu sinto, do de Paolo em particular."
A frase em árabe
"A mãe é, por assim dizer, mais espontânea na sua solidez", continua Cecilia Dall'Oglio. "Um dia, ela ouviu um versículo do Salmo 68: 'O zelo pela tua casa me consome'. Prontamente, ela procurou e encontrou a lembrancinha da ordenação sacerdotal de Paolo, que ocorreu há 30 anos, em Damasco: era justamente essa frase, escrita em árabe."
O apelo da família
Depois da Páscoa, os familiares divulgaram um apelo. "Pedimos a quem o detém que dê a Paolo a possibilidade de voltar para a sua liberdade e para os seus entes queridos, e pedimos a todas as instituições que continuem se esforçando nesse sentido."
No dia 26 de abril, sábado in Albis, quem pôde se encontrou para festejar os 64 anos de casamento. No domingo, 11 maio, finalmente, uma neta, Alice, de 20 anos, recebeu o Batismo.
"Uma grande alegria", conclui Cecilia, "especialmente neste momento que me faz pensar nas palavras do hino que o pai continua nos proclamando: 'Irradia sobre a tua Igreja a alegria pascal, ó Senhor, une à tua vitória os renascidos no Batismo'. E temos a certeza de que esse é um sentimento compartilhado pelo padre Paolo, que há um ano anotava: 'Eu celebrei a missa em muitas famílias: mistério da redenção e ressurreição. Com quanto intensidade eu te peço, ó Deus, e peço ao teu Espírito que eu experimente esse mistério em cada respiro e movimento."
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Assista abaixo ao vídeo do rap produzido pelo irmão do Pe. Dall'Oglio, Pietro Dall'Oglio, intitulado Abuna Paolo.
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''Libertem-no!'' O apelo em defesa do padre Paolo Dall'Oglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU