30 Abril 2014
Não teria sido melhor santificar Wojtyla em 20 ou 30 anos, quando a sua recordação estivesse um pouco enfraquecida para assim contribuir para revivê-la? Joana d'Arc esperou cinco séculos para ser canonizada.
A opinião é do jornalista italiano Jas Gawronski, ex-correspondente do jornal La Stampa e ex-membro do Parlamento Europeu, em entrevista ao jornal La Stampa, 27-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O senhor conheceu e entrevistou João Paulo II para o jornal La Stampa e almoçou com ele várias vezes. Quais sensações lhe desperta a ideia de que ele é santo?
Devo admitir que continuo um pouco perplexo. Certamente, do ponto de vista da Igreja, a santificação de João Paulo II permite que se faça dele um sujeito de culto e de adoração, e desperta um entusiasmo compreensível entre os católicos de todo o mundo. Mas eu prefiro pensar nele como aquele grande e único papa que ele foi, mais do que um das centenas, se não dos milhares de santos que a Igreja proclamou. Vejo nele, além do seu papel religioso, o homem que teve grande influência política em todo o mundo, que apoiou o Solidarnosc e Lech Walesa, e sem o qual talvez hoje ainda deveríamos conviver com a Cortina de Ferro. As suas viagens à Polônia comunista foram um alto exemplo de diplomacia política: uma palavra sua a mais e ele teria inflamado uma revolução, uma palavra a menos e teria sido acusado de ceder ao regime.
Mas foi um papa que, além do seu papel político, teve uma imensa carga de espiritualidade!
Certamente, mas deve haver uma razão pela qual no último milênio apenas três papas foram canonizados: a Igreja indica nos santos exemplos a seguir, e é difícil para qualquer um se identificar com a santidade de uma pessoa que, pelo papel que desempenha, está tão distante da vida normal como um papa.
Isso significa que o irmão da sua mãe, o Bem-aventurado Pier Giorgio Frassati, seria um exemplo mais fácil de se seguir?
O próprio João Paulo II reconheceu isso. Pier Giorgio era um jovem normal, que passava mais tempo entre os pobres do que na Igreja, e hoje milhões de jovens católicos se identificar com ele. O papa conhecia bem a sua vida e, em Pollone, perto de Biella, de onde ele viera, aterrissando de helicóptero no jardim da nossa casa, para rezar no seu túmulo, ele reconheceu publicamente: "Eu também, na minha juventude, senti a benéfica influência do seu exemplo". Eram muito semelhantes, amantes das montanhas e do próximo, atléticos, não "beatos". Ouso pensar que o papa polonês estaria mais contente se aquele rapaz de Turim tivesse sido elevado aos altares em vez dele mesmo. Para mim, o fato de ser sobrinho de Frassati foi determinante para criar essa relação especial com João Paulo II.
Mas a canonização de João Paulo II contribui para perpetuar a recordação e o culto.
Metade da população mundial de hoje conviveu com o longo reinado de João Paulo II e pôde conhecer todos os aspectos do seu pontificado, e muitos o viram pessoalmente durante as muitas viagens que ele fez ao redor do mundo. Hoje, não se sente a necessidade de trazê-lo à atenção dos fiéis. Não teria sido melhor santificá-lo em 20 ou 30 anos, quando a sua recordação estivesse um pouco enfraquecida para assim contribuir para revivê-la? Joana d'Arc esperou cinco séculos para ser canonizada.
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''Wojtyla, figura extraordinária. Mas não era preciso canonizá-lo tão apressadamente'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU