Por: Cesar Sanson | 15 Abril 2014
É possível unir dois políticos brasileiros com pensamentos aparentemente bastante diferentes em torno de um projeto eleitoral em comum que se vende como uma nova via política?
A reportagem é de Afonso Benites e publicada pelo jornal El País, 14-04-2014.
É essa resposta que o Partido Socialista Brasileiro (PSB) tenta obter ao anunciar oficialmente nesta segunda-feira a pré-candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva para os cargos de presidente e vice-presidente da República, respectivamente. Enquanto lançam seus nomes para a sucessão de Dilma Rousseff, a dupla do PSB se desentende em algumas disputas estaduais. Nada que não fosse esperado, já que Marina teve de se incorporar ao projeto do PSB aos 44 minutos do segundo tempo, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, alegando que não foram obtidas as assinaturas necessárias para sua criação.
Atualmente, há ao menos quatro grandes entraves para o entendimento dos peessebistas. Eles estão na formação das chapas para o Executivo e para o Senado em Estados que juntos concentram 60,6 milhões de eleitores, ou 42,8% do eleitorado nacional. Em Minas Gerais, que tem 10,6% do eleitorado, segundo o TSE, e no Rio Grande do Norte (1,6%), a tendência é que o PSB siga com o que foi tratado antes de Marina embarcar no partido. Ou seja, acordos firmados por Campos com antigas elites eleitorais locais.
Em Minas, o partido corre o risco de ficar sem palanque para sua dupla estrela. Lá, o PSB deve apoiar a candidatura de Pimenta da Veiga (PSDB), que foi indicado por Aécio Neves, adversário de Campos na corrida presidencial, que governou o Estado mineiro por dois mandatos e hoje cumpre o mandato de senador.
No Rio Grande do Norte, a tendência é se unir a antigos representantes da elite política local: a ex-governadora Wilma de Faria, do PSB, com Henrique Eduardo Alves, do PMDB. Ela frequenta cargos políticos ligados ao Estado há quase trinta anos, enquanto ele está no Legislativo há 43. Em São Paulo (22,2% dos eleitores) e no Rio (8,4%) a briga é pela candidatura própria. O grupo ligado a Marina Silva quer ter um nome próprio nos dois Estados como forma de reforçar o nome do partido. Em São Paulo, ela defende o nome de Walter Feldman, seu fiel escudeiro. Enquanto que a turma de Campos quer Márcio França para o Governo. O PSB defende, ainda, uma composição que pode lançar nomes de outros partidos aliados na esfera local, mas não na federal.
No Rio, a briga é similar. Os “marinheiros” apoiam o nome de Alfredo Sirkis, enquanto que os seguidores de Campos querem Miro Teixeira, que é filiado ao PROS, um dos partidos da base aliada de Dilma.
Para Adriano Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal do Pernambuco, a indefinição de candidaturas regionais pode causar turbulências e trazer prejuízos para a dupla Campos-Marina. “Sem nomes fortes para os cargos do Executivo, os candidatos ao Legislativo ganham pouca visibilidade e sem bancada, haverá uma insatisfação da base”, alertou Oliveira.
Já Feldman, um dos possíveis candidatos ao governo paulista, acredita que os problemas serão sanados até junho, quando ocorrerá a convenção para a oficialização de todas as candidaturas. “São pequenos problemas que vamos resolvendo pouco a pouco”, minimiza Feldman. Segundo ele, a situação já foi pior. “No Rio Grande do Sul estava tudo indefinido, agora vamos seguir com a velha-guarda do PMDB no Estado”, afirmou, se referindo a José Ivo Sartori para o Governo e Pedro Simon para o Senado.
Sem inversão
Se nos Estados há esse racha, no plano nacional o PSB e a Rede estão um pouco mais afinados. Pelo histórico e pela lógica eleitoral era natural que Marina fosse a candidata à presidência no lugar de Campos. A seu favor, ela teve 19 milhões de votos, a terceira colocação no pleito presidencial de 2010.
Na última pesquisa Datafolha divulgada neste mês, ela obteve 27% das intenções de votos, Campos teve 10%. Por outro lado, com a derrota no TSE, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente não tinha uma sigla pela qual pudesse concorrer. Quando ela chegou ao PSB, vários analistas achavam que era questão de tempo para Campos ceder a vaga de cabeça de chapa para ela. O que, com o anúncio desta segunda-feira, não ocorreu. “Acho improvável ocorrer uma inversão de chapa porque o Eduardo Campos está muito determinado a ser presidente”, diz o professor Oliveira.
Feldman vai além, e diz que o respeito a Campos, aliado às pesquisas eleitorais, mostram que a escolha foi a mais correta. “As últimas pesquisas mostram que de maneira quantitativa Marina seria capaz de levar a disputa para o segundo turno. Pelo lado qualitativo, que o Eduardo teria a menor rejeição em algumas regiões do país. Nenhum partido tem dois bons puxadores de votos como eles”, gaba-se o deputado federal licenciado.
Se terão sucesso, só o tempo dirá. Mas já causam temores. No mesmo dia em que o PSB anunciou sua chapa presidencial, a presidenta Dilma Rousseff relançou uma obra em Pernambuco, Estado que até o mês passado era governado por Campos e tem 6,4 milhões de eleitores (4,6% do país). A ideia é minimizar o impacto na mídia local do lançamento da candidatura de seu ex-governador à presidência.
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PSB que pretende representar a “nova política” alia-se a antigas elites eleitorais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU