11 Abril 2014
"O padre Frans é um mártir da caridade." O padre Samir Khalil Samir (foto), jesuíta libanês amigo do missionário morto há dois dias na Síria, não tem dúvidas disso. O padre Van der Lugt foi executado a poucos dias do seu 76º aniversário, que seria no dia 10 de abril. A sua vida foi consumida no dom total de si.
A reportagem é de Maria Acqua Simi, publicada no jornal suíço Giornale del Popolo, 09-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Ele sabia que seria morto mais cedo ou mais tarde. Mas não quisera deixar o seu povo", diz o padre Samir. "Ele chegou em Homs há mais de 40 anos, depois de estudar árabe no Egito e no Líbano. Desde o início, ele tinha se ocupado dos jovens. Todos os anos ele organizava uma peregrinação massiva participação da qual participavam centenas de jovens."
Mas depois chegou a guerra na Síria. "Muitos missionários optaram por ir embora ou voltar algumas vezes para o Líbano para retomar um pouco o fôlego. Ele não. Ele fez da sua casa na residência jesuíta um lugar de acolhida para cristãos e muçulmanos. Não lhe importava qual partido eles pertenciam por qual coalizão torciam. Qualquer um que precisasse, podia bater na sua porta."
E então se aproveitaram disso, armando-lhe uma armadilha. "Soubemos que, há dois dias, o padre Frans foi atraído enganosamente para o lado de fora da residência. Telefonaram para ele, dizendo-lhe que havia um homem ferido, precisando de ajuda. Ao contrário, pegaram-no, espancaram-no e finalmente o mataram com dois tiros na cabeça."
Assassinado na rua, para que todos pudessem ver. A voz do padre Samir fica um pouco embargada quando diz que ainda não foi possível recuperar o corpo, porque a área não é segura. "Ele morreu sozinho, mas estava lá para ajudar as pessoas que sofriam. Por isso eu digo que ele é um mártir da caridade."
Sobre os autores do bárbaro assassinato, o padre Samir está incerto, aponta o dedo contra os rebeldes. "Provavelmente foram eles. Há indícios disso, mas ainda poucas certezas."
A história de padre Frans é a história de um missionário que, como muitos, decidiu servir a Igreja até o fim. "Há dois meses, quando se estabeleceu na Conferência de paz em Genebra que iriam fazer um corredor humanitário para evacuar a população faminta de Homs, ele colaborou ativamente. Mas também viu que muitas das ajudas destinadas aos moradores locais não chegavam ao seu destino, eram roubadas. Foram evacuadas da cidade mulheres, crianças e idosos, mas não todos. Também ofereceram que ele fosse embora. Ele recusou. Ele nos disse que, enquanto apenas um daqueles homens estivesse preso e em sofrimento, ele estaria ao seu lado."
Assim foi. Curar todas as feridas: essa era a missão do padre Van der Lugt mesmo dentro da guerra. "Foi assassinado um homem de paz, que nunca atacou ninguém, nem verbalmente nem de outro modo, que sempre falou de paz e de reconciliação, desejando sempre um futuro melhor para a Síria e para os sírios", declarou o padre Ziad Hillal à Rádio Vaticano, ele também jesuíta, jovem coirmão de Van der Lugt justamente em Homs.
Coirmão, embora separado do seu superior, porque a residência da Cidade Velha, onde o padre Frans foi morto, encontra-se na parte controlada pelos rebeldes e já sitiada há dois anos pelos Exército sírio. Enquanto isso, o padre Ziad vive na escola, que está do outro lado da barricadas. Divididos por algumas centenas de metros, mas muito unidos na missão.
"Agora, na Síria, só uma dezena de jesuítas permaneceram, todos sírios. Encontram-se espalhados entre Homs, Damasco e Aleppo", afirma o padre Samir. Um pequeno grupo de sacerdotes que se recusa a fugir.
No século XX, Homs também foi o centro nevrálgico da reorganização dos cristãos, depois dos trágicos eventos das ditaduras do século passado. Hoje, a partir dessa mesma cidade, tão martirizada, talvez pode recomeçar a esperança de paz para a Síria. Nos olhos e nas vidas das pessoas que o padre Frans acompanhou, cuidou, apoiou, alimentou e saciou. Apesar do mal que a guerra traz consigo.
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''Van der Lugt, mártir da caridade.'' Entrevista com Samir Khalil Samir - Instituto Humanitas Unisinos - IHU