Por: Caroline | 10 Abril 2014
Com mobilizações realizadas em mais de 80 cidades, inclusive em frente à Casa Branca, o cenário permanece indefinido. Centenas de pessoas já foram presas por participarem de ações de desobediência civil e quase dois milhões de imigrantes já foram expulsos, o maior índice na história do país.
A reportagem é de David Brook, publicado por La Jornada, 06-04-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/cBAHiN |
Imigrantes e aliados realizaram manifestações, ações diretas de desobediência civil e greves de fome, entre outras medidas, em diversas localidades dos Estados Unidos, exigindo que o presidente Barack Obama – a quem chamam de “O deportador chefe” – acabe com as prisões e deportações massivas daqueles que não possuem documentos.
Hoje foram realizados protestos em mais de 80 cidades, com o lema de “02 milhões é muito”, como informou a Campanha #Ni1más (#Not1More), que exige que o governo de Obama suspenda as deportações; o fim do programa “Comunidades Seguras” (que autoriza as polícias locais a atuarem como agentes da imigração) e a ampliação das proteções aos direitos civis para maioria dos 11 milhões que não possuem documentos.
As mobilizações se centram no fato de que o governo federal busca alcançar a cifra de 2 milhões de deportações, o maior número na história do país.
Dentro disso, as famílias daqueles que não possuem documentos iniciaram um protesto de período indeterminado em frente à Casa Branca onde, segundo eles, irão permanecer até que o presidente fale com eles sobre as consequências humanas frente as sua políticas de imigração.
“Dói ouvir que o presidente compartilha nossa dor, contudo não faz nada para aliviá-la. Estamos na Casa Branca porque o presidente pode, com sua caneta, trazer novamente as pessoas hoje mesmo. Permanecerei aqui até que minha mãe retorne”, afirmou Cynthia Días, de 18 anos, que está lutando contra a deportação de sua mãe detida no Arizona.
Tania Anzueta, organizadora da campanha da Rede Nacional de Organização dos Jornaleiros (Ndlon, na sigla em inglês) disse ontem, através de uma teleconferência, que a pressão vinda das bases adentrou a capital. Esta campanha continuará até assegurar que o presidente dê o maior apoio possível e inicie ao processo necessário para desmantelar a estrutura de deportação construída durante sua administração.
Em São Francisco, assim em várias outras cidades, dezenas de pessoas foram presas por desobediência civil.
Enquanto a reforma imigratória integral prometida por Obama e líderes democráticos permanece estancada no Congresso, as ações e mobilizações aumentam – em grande parte encabeçadas por jovens imigrantes – numa demanda de que o presidente exerça sua autoridade para modificar a aplicação de leis imigratória, algo que pode fazer sem o Legislativo.
Marisa Franco, organizadora do Ndlo, destacou: “Queremos que Obama seja um reformador real, e não ‘O deportador chefe’. Ele pode nos dar um alívio, para o qual necessita apenas de sua caneta”.
No último fim de semana bispos e outros líderes católicos realizaram uma missa em Nogales (Arizona), na qual ofereceram a comunhão para imigrantes e pediram mudanças nas políticas imigratórias.
Ontem, Kevin Appleby, diretor de Imigração da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos indicou, através de uma teleconferência, que o custo social dessa falta de ação é incalculável, visto que o governo continua deportando os pais de milhões de cidadãos estadunidenses. Assim como deve-se investir e proteger esta geração de crianças, os futuros líderes desse país?
Existem diversas ações em todos os cantos do país, nos quais a mais notável é a decisão daqueles que não possuem documentos e seus aliados em desafiar abertamente o que consideram leis e políticas injustas, ainda que queiram reprimi-los.
Jaime Valdez e Ardani Rosales foram deportados sem notificação (o primeiro pela noite) após suas famílias e alguns simpatizantes realizarem greves de fome e vigílias no Arizona. Grupos afiliados ao #Ni1Más, entre eles o Movimento de Direitos Humanos Puente e a Coligação Ley Dream do Arizona, denunciaram que a ação foi uma represália pelo ativismo dos detidos e suas famílias. Os dois cruzaram novamente a fronteira esta semana, numa demanda da volta de suas famílias. Atualmente estão em um centro de detenção, na espera de que seus casos sejam resolvidos.
Há cerca de duas semanas, em um centro de detenção de imigrantes da agência federal de imigração em Tacoma, no estado de Washington, centenas de pessoas realizaram uma greve de fome solicitando melhores condições e o fim das deportações, enquanto seus aliados se manifestavam do lado de fora. Em represália, no dia 27 de março, cerca de seis participantes dos protestos foram colocados em isolamento, de acordo com denuncia de familiares e organizações de defesa dos imigrantes. A União Americana de Liberdades Civis de Washington apresentou uma demanda legal no dia 02 de abril. Declarou que o direito de livre expressão dos homens havia sido violado. O caso já está em um tribunal.
Talvez o que assuste as autoridades é que essa ação foi repetida em outro centro de detenção: em Coroe, no Texas, onde três supostos líderes foram colocados em isolamento. Um foi ameaçado em ser deportado, como acusou o grupo Aliança Mexicana, em Houston.
A onda de mobilizações em diferentes pontos do país cresceu nos últimos meses. Em Alabama, Tucson, Chicago, São Francisco e Geórgia e outras cidades, várias pessoas se acorrentaram em frente a centros de detenção para obstruir a saída de ônibus com imigrantes.
Outra campanha foi lançada recentemente lançada por várias organizações e coordenada pelo Presente.org, o Projeto do Legado de Obama, para documentar e pressionar a Casa Branca por seu histórico de deportações e detenções em massa e a militarização da fronteira. Jesús Íñiguez, do Presente.org, comentou ao sítio político estadunidense Truthout que Barack Obama “poderá ser lembrado como ‘O deportador chefe’, o pior presidente em relação a questão da imigração na história, responsável por uma deportação recorde que destroçou centena de milhares de famílias, ou ele pode optar por atuar”.
O impacto das mobilizações e denuncias é registrada nas pesquisas e reportagens sobre a desilusão de eleitores latinos – setor chave para Obama e para os democratas – e hoje, de acordo com os relatórios apresentados pelo portal Político, o Conselho Nacional de la Raza, a maior organização latina do país, declara que Obama deve suspender as deportações em massa desnecessárias.
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Crescem os protestos nos EUA para que Obama cancele as deportações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU