07 Abril 2014
“Em muitos ambientes, o papel de serviço das mulheres – como denunciou o papa – corre o risco de escorregar para um papel de servidão, às vezes com o pleno consentimento das relativas superioras, quando se trata de religiosas, que o defendem como parte do próprio carisma. Cabe à Igreja, ou às comunidades, chamá-las evangelicamente a subir mais alto.”
Gianpaolo Salvini (Milão, 1936) entrou na Companhia de Jesus no dia 8 de dezembro de 1954. Sacerdote desde 1967, estudou filosofia, economia e teologia. Em 1969, fez o seu ingresso na redação da revista Aggiornamenti Sociali – da qual depois se tornaria diretor – ocupando-se particularmente dos problemas do subdesenvolvimento e da América Latina.
Depois de ter vivido alguns anos em Salvador, no Brasil, a partir de 1984 esteve na redação da revista La Civiltà Cattolica, publicação da qual foi diretor durante 26 anos (1985-2011). Padre Salvini é hoje consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz.
O artigo foi publicado no caderno Donna, Chiesa, Mondo, do jornal L'Osservatore Romano, 02-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O tema da esperança da mulher na Igreja está se tornando cada vez mais vivo. Não que tenha faltado debate no passado, mas muitas vezes nos limitávamos a pôr a questão, sem ir mais longe. Sem remontar aos séculos passados, João XXIII, na Pacem in Terris, já via como um dos sinais dos tempos a maior presença feminina na vida pública. Era óbvio que a mesma demanda se colocaria também na vida da Igreja.
Com João Paulo II, especialmente com a exortação apostólica Mulieris dignitatem, o tema foi posto pela instância mais alta do magistério. Bento XVI falou a respeito várias vezes, também com ênfases sinceras, mas não teve tempo para traduzir em operações concretas, em estruturas e em mecanismos os propósitos expressados. É um dos pontos que, com o gesto revolucionário da sua renúncia, ele legou como herança ao seu sucessor.
O Papa Francisco retomou várias vezes o tema com a sua habitual franqueza e espontaneidade, e muitos esperam que ele também prossiga nesse campo a gestos significativos e que deixarão uma marca. Na exortação apostólica Evangelii gaudium, longo primeiro documento oficial inteiramente do novo pontífice, afirma-se com decisão: "ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Porque 'o gênio feminino é necessário em todas as expressões da vida social; por isso deve ser garantida a presença das mulheres também no âmbito do trabalho' (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 295) e nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais" (n. 103). O conceito também é reiterado no número seguinte, ressaltando também que na Igreja, com efeito, "Maria, é mais importante do que os bispos" (n. 104).
Nesse ponto, coloca-se um grande desafio para a Igreja e, eu diria, um esforço de imaginação, do qual o Espírito Santo sempre foi o grande protagonista na história e que até agora não faltou, para encontrar as soluções mais oportunas. Não se trata de clericalizar as mulheres, como às vezes parece ser proposto por certas soluções, mas sim de encontrar os espaços adequados onde o carisma feminino possa se expressar e ser valorizado também em termos de capacidade de decisão e de autoridade. Ou, como seria mais conforme à vida da Igreja, de serviço de autoridade dentro de todo o povo de Deus.
Se as mulheres pretendem adquirir poder na Igreja simplesmente subtraindo-o dos homens e reivindicando as suas mesmas funções, é provável que saiam sempre perdedoras. Mas não é nada fácil identificar posições de autoridade, alternativas às ocupadas pelos homens, adequadas para valorizar a complementaridade que a mulher pode e deve pôr a serviço da comunidade eclesial e da sua feminilidade.
Nesse campo, as mulheres também devem expressar aquilo que os homens não podem oferecer, ou não podem oferecer sozinhos. Deus criou homens e mulheres, dois gêneros diferentes entre si, mas complementares e igualmente necessários também para a vida da Igreja.
No passado, na história da Igreja, nunca faltaram grandes figuras de mulheres que sacudiram papas e instituições. Assim como na Bíblia estão presentes mulheres que salvaram o seu povo, intervindo nos momentos cruciais da história da salvação: Judite, Ester, Maria de Magdala que "desperta" os apóstolos, anunciando-lhes por primeiro a ressurreição de Jesus.
Trata-se de intervenções consideradas muitas vezes como extraordinárias, mas que, na realidade, fazem parte intimamente do tecido bíblico e, em particular, da relação entre Jesus e as mulheres, tal como aparece nos evangelhos. A mulher não tinha tarefas institucionais nem muitos direitos no seio da sociedade antiga, mesmo a judaica.
A sociedade, porém, se transformou profundamente desde os tempos de Jesus e da fundação da Igreja. A legislação e a cultura abriram espaço largamente à mulher e aos seus carismas em matéria de educação, de cultura, de participação na vida política e sindical, mas nem sempre souberam predispor os mecanismos apropriados para que em todos os setores as mulheres pudessem efetivamente se fazer valer.
O resultado é que, em muitos setores, por exemplo na vida pública e empresarial, as mulheres estão praticamente ausentes dos postos diretivos. No tempo posterior à graduação, de fato, enquanto os homens começam de baixo, adquirem experiência, fazem-se conhecer e, assim, preparam o seu acesso aos postos de responsabilidade perto dos 35-40 anos, as mulheres estão ocupadas formando uma família e cuidando dos filhos pequenos.
Quando estes últimos estão grandinhos e são capazes de andar com as próprias pernas, as mulheres que entram de novo plenamente na empresa ou na administração encontram todos os postos já ocupados pelos homens. Portanto, não bastam disposições legislativas que assegurem a paridade de direitos, se não existem mecanismos adequados que os protejam, de fato, com procedimentos apropriados, tornando-os possíveis.
Na Igreja, isso é certamente mais complexo, porque o poder ou, melhor, como o papa prefere dizer, o poder de jurisdição – que deveria ser de serviço (para evitar confundi-lo com um domínio) – é reservado a quem é ordenado, e a ordem foi até agora reservada aos homens. Certamente existiram diaconisas na história da Igreja, que também exerceram atos de jurisdição, mas ainda se discute se se tratou de diaconisas que receberam uma ordenação propriamente dita ou apenas uma bênção.
Em todo o caso, a Igreja sempre concedeu ampla autonomia e autoridade de gestão às comunidades monásticas femininas e às suas abadessas, prioresas, superioras, mesmo quando a sociedade civil não concedia igual poder de decisão autônomo às mulheres nas próprias instituições.
Mas não pretendo aqui me adentrar em complexas questões canônicas e teológicas. Só quero lembrar que a Igreja, na sua história, sempre demonstrou ter mais imaginação do que a que queremos hoje aprisionar nos cânones ou em rígidas normas intocáveis.
Concretamente, para falar da cúpula, já existe na Cúria Romana e em muitas cúrias diocesanas uma presença feminina, uma vez impensável. Em particular, no que diz respeito aos pontifícios conselhos (22 no total), instituídos depois do Concílio Vaticano II – mais ágeis e menos rígidos do que as nove Congregações que remontam à reforma de Sisto V –, as mulheres estão amplamente presentes, assim como em outros órgãos da administração vaticana.
No campo da arte, como nos Museus Vaticanos, a presença feminina já chega a 50% do pessoal, e não apenas executivo. No campo econômico, administrativo, universitário e da comunicação, já são muitas as mulheres bem preparadas e qualificadas que também poderiam desempenhar, e desempenham de fato, postos diretivos. O mesmo ocorre em muitas cúrias episcopais mesmo de grandes dioceses e nas universidades católicas.
Mas não é somente um problema de estruturas, mas também de mentalidade. Lembro que, anos atrás, o arcebispo (além disso, notoriamente aberto e reformador) de uma cidade grande, que encontrava dificuldade para obter de Roma a nomeação de um teólogo de sua confiança como reitor da universidade católica da sua cidade, me dizia, um pouco amargurado: "Pense que, em Roma, estão fazendo com que uma freira leia os seus escritos para avaliar a sua ortodoxia!", como evidente sinal de incompetência e de má gestão da autoridade. Mas se tratava, a meu ver, de uma freira formada em teologia e professora de uma universidade eclesiástica de Roma.
O trabalho de base na Igreja, além disso, sempre foi feito em sua maior parte pelas mulheres, às quais também se deve a primeira iniciação cristã das crianças, que ocorre (ou ocorria) na família por obras de mães e avós. Não é exagero afirmar que, sem a contribuição das mulheres à vida da Igreja, ela pararia e sofreria um empobrecimento global determinante. As irmãs, além disso, até pouco tempo atrás, eram mais do que o dobro dos sacerdotes.
Mas a esse fato não correspondem estruturas que reconheçam adequadamente o papel desempenhado e que façam com que as mulheres sintam que ocupam um lugar digno na Igreja, seja em nível local, diocesano ou romano. A Igreja tem características próprias que não podem ser homologadas às da sociedade civil, mas, obviamente, a própria organização e o estilo de vida da comunidade eclesial sempre foram profundamente marcados pelo que ocorria ao seu redor. Basta pensar em quanto do direito romano começou a fazer parte do direito canônico.
Se o governo civil dá cada vez um espaço maior à consulta popular e a mecanismos de decisão coletivos, é evidente que isso influi também sobre a Igreja, que, não por acaso, desde o Vaticano II, fala de maior colegialidade (apesar das resistências que se opõem a ela tenazmente), que, além disso, nada mais é do que um retorno ao estilo dos primeiros séculos da Igreja.
A esse estilo mais colegial e comunal, também é impensável que as mulheres não participem, elas que são capazes de contribuir com características e qualidades que, não por acaso, Deus quis que fossem complementares às dos homens.
Em particular, gostaria de recordar o aspecto da maternidade, que tem infinitos matizes de ternura e de dom, dos quais a Igreja também precisa, inclusive, por exemplo, ao longo da formação dos sacerdotes. Trata-se de inventar as suas modalidades e não de se limitar a enunciar a sua necessidade, como muitas vezes se fez até agora.
A Evangelii gaudium constata "com prazer" que muitas mulheres já compartilham responsabilidades pastorais, juntamente com os sacerdotes, dando o seu contributo para o acompanhamento de pessoas, de famílias ou de grupos e oferecem novas contribuições para a reflexão teológica. Muitas são formadas em teologia e especialistas em Sagrada Escritura, com competências e publicações não inferiores às de muitos colegas homens. Não são poucas as mulheres ativas também na condução de exercícios espirituais e na animação de reuniões espirituais.
Na realidade, as mulheres encontram uma dupla dificuldade para fazer ouvir a sua própria voz e para desempenhar papéis ativos significativos: acima de tudo, aquela que todo o laicato encontra, ele que constitui, como lembra o Papa Francisco, "a imensa maioria do povo de Deus" (Evangelii gaudium, n. 102) e que, apesar dos seus esforços, ainda é um "gigante adormecido", bem longe de dar toda a contribuição que poderia oferecer.
Em segundo lugar, a dificuldade de serem justamente mulheres, às quais ainda custa reconhecer a possibilidade de acesso a papéis tradicionalmente reservados aos homens.
Trabalhando poucas décadas atrás em um colégio dirigido por religiosos (e frequentado à época apenas por alunos do sexo masculino), as primeiras propostas de contratar também professoras do sexo feminino encontraram a oposição não dos religiosos que o geriam, mas dos professores leigos, todos rigorosamente homens, que evidentemente temiam uma aguerrida concorrência feminina. Ou, mais simplesmente, perder o emprego.
Assim, em muitos ambientes, o papel de serviço das mulheres – como denunciou o papa – corre o risco de escorregar para um papel de servidão, às vezes com o pleno consentimento das relativas superioras, quando se trata de religiosas, que o defendem como parte do próprio carisma. Isso honra as mulheres que buscam evangelicamente os últimos lugares, mas cabe à Igreja, ou às comunidades, chamá-las, também evangelicamente, a subir mais alto.
As vocações à vida religiosa e sacerdotal, como se sabe, passam por uma crise profunda, especialmente nos países de antiga tradição católica. O problema é bastante complexo, e os motivos são múltiplos, mas, no caso das religiosas de vida ativa, pode-se perguntar se, ao menos em parte, o fenômeno não se deve aos papéis sistematicamente subalternos desempenhados pelas irmãs. Papéis que hoje também podem ser desempenhados por leigas, assistentes sociais, professoras que também não renunciam a formar a própria família.
A identidade da religiosa, de fato, não é mais tão específica como era antes e se confunde com as tarefas das leigas, mesmo na ausência da consagração expressa pelos votos. Paradoxalmente, uma demonstração disso é a solidez da vida de clausura que, em média, não conheceu a mesma crise, e cuja vocação, como vida verdadeiramente alternativa, ainda é claramente definida. O sucesso dos movimentos, embora minoritários em relação ao sistema ads paróquias, onde as mulheres muitas vezes têm postos diretivos e decisivos, parece confirmar isso.
Como se vê, trata-se de um âmbito extremamente delicado, que diz respeito a toda a Igreja, mas que não pode ser evitado, e no qual o discernimento assistido pelo Espírito Santo, a quem o papa, como bom jesuíta, muitas vezes apela, deverá ser posto corajosamente em ação para tornar ainda mais amável e crível o rosto da Igreja do Senhor.
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''Subir mais alto'': mulheres e esperança na Igreja. Artigo de Gianpaolo Salvini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU