04 Abril 2014
Livro pontual, publicado em edição italiana pela EMI, de Bolonha, nos dias do pré-conclave, quando o cardeal de Manila figurava em várias pesquisas e estava presente nos meios de comunicação italianos e internacionais.
A resenha é do teólogo italiano Rosino Gibellini, publicada na revista Missione Oggi, n. 9, de novembro de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O livro já havia sido publicado em inglês pela Orbis Books (Nova York), em 2005, e era fruto das aulas na Loyola School of Theology de Manila (Filipinas) e de exercícios espirituais dados em diversos tipos de comunidades. Trata-se de um livro de espiritualidade, viva e vivida, em que se ensina a viver a comunidade cristã na alegria e na esperança, e a se sentir na Igreja como um "estar-em-casa" (home).
Mas quem é precisamente o autor e qual é a sua personalidade teológica? É Luis Antonio Gokim Tagle, 56 anos, arcebispo de Manila desde 2011, onde nasceu em 1957, filho de pai filipino e de mãe chinesa, criado cardeal por Bento XVI no seu último conclave de 24 de novembro de 2012.
Quando jovem, completou os estudos teológicos (1985-1992) na Universidade Católica dos Estados Unidos (Washington), obtendo antes a licenciatura em teologia com uma tese sobre o Concílio Vaticano II; e, em 1991, o doutorado em teologia com uma dissertação sobre Paulo VI, sob a orientação do conhecido eclesiólogo norte-americano Joseph Komonchak, e com a presença no doctoral board de David Poder, autor de Il mistero eucaristico (Biblioteca di Teologia Contemporanea n. 93, Ed. Queriniana, 1997).
Vejamos esses estudos acadêmicos, que ajudam a compreender melhor também o seu primeiro livro em italiano.
A monografia para a licenciatura havia sido dedicada ao estudo de dois projetos conciliares: o projeto eclesiológico do cardeal Suenens, mais descritivo da realidade da Igreja ad intra e ad extra; e o projeto mais teológico do cardeal Montini focado na Igreja como mistério e na sua missão. Com essa pesquisa, o jovem estudante entrava, antecipadamente, entre os estudiosos do Concílio Vaticano II.
A tese para o doutorado em teologia trazia o título: Episcopal Collegiality in the Teaching and Practice of Paul VI (1959-1967) [A colegialidade episcopal no ensino e na prática de Paulo VI], defendida em 1991 e preparada também no Instituto Paulo VI de Bréscia, frequentado pelo estudante de 30 anos das Filipinas (hóspede naqueles meses da Editora Queriniana) no verão de 1988; e publicada posteriormente com o título ligeiramente modificado: Episcopal Collegiality and Vatican II: the Influence of Paul VI [A colegialidade episcopal e o Vaticano II: a influência de Paulo VI] (Loyola School of Theology, Manila, 2004), que chamou a atenção do professor emérito de eclesiologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, Francis Sullivan (Theological Studies 67 [2006], p. 432-433). Com essa tese sobre a colegialidade episcopal, não estudado em si como tema geral, mas focada no pensamento e na prática de Paulo VI, o jovem autor torna-se um estudioso qualificado do papa de Bréscia.
É preciso lembrar a sua colaboração com a já famosa História do Concílio Vaticano II, em cinco volumes, publicada por Giuseppe Alberigo (e coeditada na edição inglesa por Joseph Komonchak, o professor orientador de Tagle), e, precisamente no volume 4, a reconstrução da chamada "semana negra" [settimana nera] (14 a 21 de novembro de 1964), na qual apareceu a Nota explicativa prévia (16 de novembro).
Um bispo, então curial, julgou o capítulo como "jornalístico e não objetivo", mas ele seria defendido (segundo o conhecido vaticanista do National Catholic Reporter, John Allen [hoje, no jornal The Boston Globe]) pelo cardeal Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos: o polêmico capítulo, assinado por Tagle, defende Paulo VI, que adotou a estratégia de ouvir todas as vozes, especialmente as da minoria, para salvar o Concílio, e também utilizando textos eclesiológicos do teólogo Joseph Ratzinger. Como que dizendo que a reconstrução histórica proposta é confiável, apesar do conflito das interpretações.
As notícias fornecidas sobre o autor, que entrou quase de repente nas nossas crônicas, de distantes periferias eclesiais e culturais, já são um convite para ler o livro. As suas páginas, fáceis e vividas, desenvolvem uma eclesiologia pascal, reunindo e comentando páginas pascais do Evangelho de João, dos Atos e de outros textos neotestamentários.
As reflexões estão situadas no contexto do nosso mundo e são animadas pela esperança do evangelho da ressurreição: "Este milênio está repleto não só de ambiguidades e de incertezas, mas também de promessas e de esperanças, na busca de uma nova humanidade, de um novo modo de ser humano e de ser uma família humana" (p. 18).
Muitas vezes se repete a expressão da globalização de elite ou globalização neoliberal, como globalização excludente, para distinguir o nosso tempo: "A decepção provocada pela globalização neoliberal totalmente voltada ao lucro causou muita desconfiança e medo no mundo" (p. 62). Mas aqui se insere a comunidade cristã – "gente de Páscoa" – com a sua fé na ressurreição. Ela insere no mundo "uma nova visão da vida, do ser humano e do viver juntos" (p. 103).
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''Gente de Páscoa'': o novo livro do cardeal de Manila - Instituto Humanitas Unisinos - IHU