04 Abril 2014
O acionamento intensivo das usinas térmicas durante todo o mês de março gerou uma conta adicional de aproximadamente R$ 4 bilhões às distribuidoras de energia. O rombo financeiro, calculado por uma fonte ligada às distribuidoras, ficou próximo do custo verificado em fevereiro, por conta da operação ininterrupta de todo o parque térmico do país e do preço recorde cobrado por essas usinas para vender energia no mercado de curto prazo. Em fevereiro, o custo extra das térmicas ficou em cerca de R$ 4,2 bilhões. Em janeiro, quando o preço da energia do mercado livre ainda não havia batido no teto, o estrago foi de R$ 1,8 bilhão. Feitas as contas, conclui-se que o setor elétrico caminha para encerrar o primeiro trimestre de 2014 com um buraco de até R$ 10 bilhões, uma conta salgada, sobre a qual ainda não se sabe, em detalhes, como será quitada.
A reportagem é de André Borges e Claudia Facchini, publicada pelo jornal Valor, 03-04-2014.
Durante todo o mês de março, o preço do megawatt-hora calculado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) manteve-se no valor máximo, de R$ 822,83, mesmo custo verificado em fevereiro. A situação atual é bem diferente da ocorrida no mesmo período do ano passado. Em fevereiro e março de 2013, o preço da energia no mercado de curto prazo foi de R$ 50,67 e R$ 127,97, respectivamente.
O país arca, neste momento, com duas grandes despesas. A primeira refere-se ao acionamento em si das térmicas, por conta dos baixos níveis dos reservatórios do Sudeste, região que concentra a maior parcela de geração de energia. A segunda despesa deve-se à chamada "exposição involuntária" das distribuidoras. No ano passado, elas tentaram comprar energia em um leilão que previa a oferta de geração já neste ano (A-1). As geradoras, no entanto, já imaginando que os preços do mercado livre estariam mais atrativos, simplesmente não compareceram e o governo só conseguiu contratar 40% do que queria. A situação se agravou ainda mais por conta de muitos projetos de geração que não saíram do papel. A combinação desses fatos é o que tem obrigado as distribuidoras a comprar, todo mês, entre 3,2 mil e 3,5 mil megawatts no mercado de curto prazo para honrar seus compromissos. Como elas não foram responsáveis por essa situação, cabe ao governo arranjar uma solução.
No ano passado, foram injetados quase R$ 14 bilhões nas distribuidoras por meio do Tesouro, dos quais R$ 9,9 bilhões deverão ser repassados à tarifa da conta de luz e outros R$ 3,7 bilhões seriam a fundo perdido. Neste ano, a Fazenda já anunciou mais R$ 13 bilhões para suprir gastos do setor. Outros R$ 8 bilhões têm previsão de entrar na conta, por meio de empréstimos financeiros a serem contratados por meio da CCEE. Ontem, o governo publicou o decreto que estabelece a criação da "Conta-ACR", que será administrada pela câmara.
Segundo Ricardo Savoia, diretor de regulação e gestão em energia da Thymos Energia Consultoria, se todos os aportes já feitos e anunciados pelo governo fossem repassados para a tarifa, a conta de luz teria de subir entre 28% e 30%. "Veja que a própria Cemig, por exemplo, já pediu um reajuste de 29,74% em sua tarifa", comenta Savoia.
Apesar das complicações, o analista vice-presidente da Moody's para a área de infraestrutura, José Soares, chama a atenção para os 5 mil megawatts médios de energia que serão devolvidos para a União a partir de 2015, por conta dos contratos de concessão que vencerão. Segundo o analista, esse movimento trará um alívio anual de R$ 3,5 bilhões a R$ 4 bilhões. Deste total, 1 mil MW entram na carteira das distribuidoras em janeiro e outros 4 mil MW em julho do ano que vem. Essa energia será repassada para as 63 empresas de distribuição do país por cerca de R$ 30 o MWh, valor bem mais barato do preço médio atual contratado pelas distribuidoras, que pagam em torno de R$ 110 pelo megawatt-hora.
Para Mariana Amim, assessora jurídica da Anace, uma das entidades do setor que representa consumidores livres da indústria e do comércio de grande porte, o momento é de apreensão. "É com muita tristeza que vemos tudo o que está acontecendo no setor, um planejamento que não deu certo. As decisões levaram a uma redução do custo de energia, mas isso era falso. A conta está chegando."
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Custo das térmicas já beira R$ 10 bi este ano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU