01 Abril 2014
Na Gregoriana, o padre Juan Carlos Scannone, pai espiritual de Bergoglio em Buenos Aires, analisou a teologia de Francisco: "Ele é guiado por uma opção preferencial pelos pobres".
A reportagem é de Antonella Pilia, publicada no sítio Roma Sette, da diocese de Roma, 31-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reavaliação da espiritualidade popular e uma forte predileção pelos pobres: esses são alguns dos traços que surgiram no primeiro ano do pontificado do Papa Francisco, que afundam suas raízes na chamada "teologia do povo" argentina. Uma corrente totalmente original, nascida dentro da teologia da libertação pós-conciliar, que influenciou profundamente a formação do Papa Bergoglio.
É por isso que a revista La Civiltà Cattolica, a Pontifícia Universidade Gregoriana e o Colégio Sacerdotal Argentino, nos dias 27 e 28 de março passados, promoveram dois dias de reflexão em Roma intitulados precisamente "As raízes do Papa Francisco. Um ano pontificado", enriquecidos com a contribuição direta de alguns pensadores latino-americanos de destaque.
Um deles, sem dúvida, é o padre Juan Carlos Scannone, 82 anos, teólogo jesuíta argentino, aluno do grande pensador do século XX Karl Rahner e um dos iniciadores da teologia do povo, que falou na sexta-feira, 28 de março, na Gregoriana. O padre Scannone é muito próximo do atual pontífice, do qual foi, primeiro, professor de grego e de literatura, para depois se tornar seu "pai espiritual", quando Bergoglio era reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia e depois provincial da Companhia.
"Neste momento, o estudo da teologia argentina do povo interessa pela sua influência sobre a orientação teológico-pastoral do Papa Francisco e sobre a exortação apostólica Evangelii gaudium", destaca Scannone, na conferência proferida em espanhol. Ele aprofundou o assunto também em um artigo publicado na Civiltà Cattolica.
Depois de ter traçado o nascimento da "teología del pueblo", o jesuíta passou a elencar as suas características peculiares. Começando pela opção preferencial pelos pobres, tão evidente na pastoral do Papa Francisco. "Na América Latina, são os pobres que mantêm como elemento estruturante da própria vida a cultura do povo a que pertencem – defende o padre Scannone –, e os seus interesses coincidem com um projeto histórico comum de justiça e de paz, já que vivem oprimidos por uma situação de injustiça estrutural e de violência institucionalizada."
A teologia argentina, portanto, considera o povo como um sujeito histórico-cultural, e a religiosidade popular como uma forma de fé cristã inculturada no povo latino-americano. Essa perspectiva, destaca o padre Scannone, privilegia a "análise histórico-cultural" à "socioestrutural" e se diferencia da teoria da libertação por "distanciar-se do método marxista de análise social".
Na base da teologia do povo, também está a revalorização da espiritualidade e da piedade popular, "a tal ponto que chegou a reconhecer uma 'mística popular'", a qual Francisco se refere por nada menos do que duas vezes na Evangelii gaudium.
Nessa exortação apostólica, segundo o padre Scannone, emergem quatro prioridades em continuidade com a teologia do povo: "A mais importante é a superioridade do tempo sobre o espaço, na base da qual é prioritário começar processos no tempo em vez de ocupar espaços de poder".
Em segundo lugar, "a unidade sobre o conflito, que não visa a negar as tensões, mas a aceitá-las, para transformá-las em uma 'comunhão nas diferenças'".
A terceira prioridade é a do tudo sobre a soma das partes, voltada à "união dos povos que conservam a sua peculiaridade", explica o jesuíta, citando o Papa Francisco.
E, finalmente, a da realidade sobre a ideia, porque "a segunda – conclui – está em função da primeira sem se separar dela".
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Assista à íntegra da conferência, em espanhol, abaixo:
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A ''teologia do povo'' do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU