19 Março 2014
Filha do deputado Rubens Paiva, torturado e morto durante a ditadura militar, Vera Paiva disse que a família recebeu com surpresa e alívio as revelações de que o corpo de seu pai foi desenterrado e jogado no mar em uma operação comandada pelo Exército. Reportagem publicada no domingo revela que o corpo do deputado, morto sob tortura em 1971, foi desenterrado na praia do Recreio dos Bandeirantes e levado em uma lancha para ser lançado no mar. As revelações foram feitas por um coronel reformado, de 76 anos, que comandou a missão executada por uma equipe de 15 homens.
A reportagem é de Lino Rodrigues, publicada pelo jornal O Globo, 17-03-14.
- Para nós, essa revelação confirma algo que já desconfiávamos: que meu pai foi assassinado, e não desaparecido - desabafou ela, que também considerou importante o fato de o Ministério Público estar prestes a denunciar quatro militares pela morte de Paiva, entre eles o oficial reformado José Antônio Nogueira Belham, comandante do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), na Rua Barão de Mesquita, onde Paiva foi morto durante uma sessão de tortura.
Vera, que hoje é professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo, espera que o esclarecimento da morte de Rubens Paiva sirva de modelo para que as autoridades possam esclarecer outras mortes ocorridas durante o período da ditadura e “aliviar a alma das famílias”. Segundo ela, Rubens Paiva lutou, e foi morto, porque queria construir um país melhor onde ela e seus irmãos pudessem viver livremente.
- Meu pai morreu pelo motivo de se dedicar a construir um país melhor. O país que meu pai queria construir era um país autônomo de qualquer interesse internacional, democrático e justo.
Sobre as declarações do coronel reformado de que não se arrepende de nada do que fez e que faria tudo novamente, ela disse que a sociedade brasileira não aceita mais esse “modo de pensar”. O coronel assumiu a responsabilidade e disse ainda que, se precisasse, faria tudo novamente. As palavras do militar revoltaram a filha de Rubens Paiva:
- Pessoas como esse coronel, que tem esse tipo de pensamento, não têm lugar nesse mundo. Esse humano desumano não tem respeito por pessoas que pensam diferente - disse Vera.
A tática do coronel de que o desaparecimento é mais importante do que a morte, porque “causa incerteza no inimigo”, segundo Vera, foi responsável por uma tortura que a família conviveu ao longo dos últimos 43 anos.
- O que me revolta é que gente que fala e pensa assim continua por aí, impunemente. Esse coronel faz parte de um grupo responsável pela produção da violência. Mas pelo menos agora a gente tem certeza que meu pai não foi desaparecido, mas sim assassinado por pessoas que pensam como esse coronel.
Sobre a reedição da Marcha da Família com Deus, marcada para o próximo sábado em mais de 200 cidades do país, com o propósito declarado de uma nova intervenção militar contra o governo do PT, os políticos e a corrupção, Vera diz que qualquer tipo de organização é democrática, desde que não haja violência contra quem pensa diferente.
— 99% das pessoas não querem esse mundo que prega violência.
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Filha de Rubens Paiva diz que destino esclarecido do pai serve de exemplo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU