Por: André | 17 Março 2014
A um ano da chegada ao papado de Jorge Mario Bergoglio, em Roma e em outras partes do mundo, discute-se ainda qual é a corrente teológica que inspira Francisco. Para compreender de onde surgem os gestos e as ações do Papa é necessário escavar em seu passado. Ali se encontram pistas na chamada “Teologia do Povo”, cujos máximos expoentes o pontífice conheceu e apreciou. Em entrevista ao Vatican Insider o padre Antonio Grande, reitor do Colégio Sacerdotal Argentino de Roma, explicou as implicações desse pensamento.
Fonte: http://bit.ly/1iJvMNY |
A entrevista é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 14-03-2014. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
O que mais o impactou nesses 12 meses de pontificado?
Francisco está propondo, de modo simples, a forma de viver de Jesus e esta não é uma percepção apenas minha; muitos fiéis que não estavam participando ou estavam fora da Igreja estão de acordo. Junto com isto, propõe um modo de vida que todos captam, de um humanismo rico, simples, fraterno, solidário e ao mesmo tempo religioso. Para quem está na Igreja isto é um grande dom, mas, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade.
A Igreja argentina conseguiu “digerir” a chegada do Papa Francisco?
Está-se fazendo um caminho, desde a surpresa e o impacto positivo, até a responsabilidade, porque é um filho da nossa Igreja que devemos acompanhar. Nesse sentido, estamos nos perguntando o que significa para toda a Igreja, mas particularmente para os argentinos, que Deus tenha chamado um de nós. Isto vai ser muito sugestivo e impulsionador do caminho eclesial que se estava fazendo, mas agora muito mais personalizado.
Muitos se perguntam pelas coisas que incidiram em Bergoglio para compreender por que foi eleito Papa. Quais são os elementos que explicariam o caminho?
Nós temos carências no desenvolvimento tecnológico e sociopolítico; não obstante os nossos limites e contradições, temos a vantagem de uma forma de ser com valores cristãos, embora nem sempre sejamos coerentes. Por exemplo, a religiosidade popular, que vincula os pastores ao povo e que em outras partes do mundo parece não existir ou não estaria tão claro. Para nós, o pastor não é uma figura que está acima. Para além da reverência que se deve ter para com ele, é alguém do povo que caminha com seu povo.
Então, que teólogo influenciou mais o atual Papa?
Na Argentina é muito própria a Teologia do Povo, que tem como referência destacada o padre Lucio Gera e outros. Sua proposta é um olhar do mistério de Jesus e de uma Igreja que é Povo de Deus, que está presente, compromete-se, que é fiel às orientações da Igreja universal, mas também é fiel ao povo. Creio que o cardeal Bergoglio a conhecia e se move nessa perspectiva. Nota-se em suas palavras e em seus atos que tem um selo muito “geriano”. De fato, fez o padre Gera ser sepultado na catedral de Buenos Aires.
A Teologia do Povo propõe um modo de agir de pastores espirituais, próximos das pessoas, a partir da fidelidade à Igreja, com um espírito muito criativo, fraterno e missionário. Isso é alimentando por uma fé que busca aprofundar a partir da tradição, mas, ao mesmo, a partir da necessidade da busca do Povo de Deus.
Quão próxima é a Teologia do Povo da Teologia da Libertação?
A Teologia da Libertação foi dinâmica. Estando o cardeal Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé acompanhou, esclareceu, embora alguns não o tivessem em conta ou se abrissem à vida da Igreja. Esse diálogo espalhou-se muito no interior da Igreja da América Latina, primeiro com os pastores e depois com a Santa Sé. Houve um caminho de amadurecimento e purificação, de acordo com o Evangelho.
Na Teologia do Povo existem vários matizes, mas vê-se a fé do Povo de Deus como ponto de partida que anda de mãos dadas com a fé da Igreja e com a vida da Igreja, desde a palavra e os sacramentos. Há uma relação dinâmica entre os pastores que buscam o povo e vice-versa.
Não é uma teologia populista?
Nem populista, nem acadêmica. É um estudo que leva em conta a fé do povo para o serviço da fé e ao mesmo tempo resgata a participação ativa do Povo de Deus. Isso é algo de grande riqueza.
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Papa Francisco: populista ou Teologia do Povo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU