13 Março 2014
Estamos diante de um anúncio que poderia significar um novo começo para as relações internas às Igrejas orientais, mas também para o cristianismo mundial.
A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio HuffingtonPost.it, 05-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Esta semana, ocorre o aniversário da eleição de Jorge Mario Bergoglio ao papado com o nome de Francisco, no dia 13 de março de 2013: o evento religioso do ano passado, com implicações que vão além do aparentemente limitado, mas na realidade muito permeável, recinto do catolicismo. É um aniversário que não celebra os eventos do ano passado (tanto é que o papa, nesta semana, está em retiro com a Cúria Romana), mas que cai dentro de um calendário apertado, depois da mudança de ritmo imprimido por Francisco à Igreja Católica em várias frentes: reforma da Cúria Romana, das finanças vaticanas, novo estilo de autoapresentação da Igreja no mundo, reabilitação pública da teologia da libertação, abertura aos homossexuais e às situações "irregulares" e muito mais.
Entre os efeitos indiretos da eleição de Francisco, está a abertura de uma nova página nas relações entre a Igreja Católica e o judaísmo e as outras Igrejas. Nesse sentido, não deve escapar a notícia do ano para o mundo das Igrejas cristãs: a notícia de domingo, 9 de março, de que as Igrejas ortodoxas decidiram, depois de décadas de projetos e de fracassos, celebrar o Concílio pan-ortodoxo (ou seja, de todas as Igrejas ortodoxas) em 2016 na cidade do Patriarca de Constantinopla (o primaz da ortodoxia), ou seja, Istambul. A notícia foi dada no fim da reunião de cúpula dos primazes das Igrejas ortodoxas reunidos em Istambul entre os dias 6 e 9 de março.
As incógnitas para a efetiva celebração do Concílio pan-ortodoxo são muitas: o papel proeminente da Igreja Ortodoxa Russa, histórica rival de Constantinopla e tendente a se identificar com a causa nacionalista de Putin, em um momento de grave tensão interortodoxa por causa da "secessão" ucraniana (que segue as secessões ocorridas entre as Igrejas ortodoxas ucranianas nos últimos anos); a catástrofe síria e a situação dos cristãos no Egito, com graves consequências sobre a estrutura da ortodoxia no Oriente Médio.
Mas, justamente por isso, o Concílio pan-ortodoxo de 2016 poderia representar uma contribuição importante do cristianismo para a concórdia e a paz mundial – assim como foi para a Igreja Católica reunida no Concílio Vaticano II entre 1962 e 1965, no auge da Guerra Fria.
Há um laço simbólico entre a eleição de Francisco, em março de 2013, e a decisão dos primazes das Igrejas ortodoxas anunciada no dia 9 de março de 2014 de celebrar um novo Concílio pan-ortodoxo. Mas, seguramente, há também uma aceleração em curso ligada à eleição de Francisco e à sensação da abertura de uma nova fase: aquilo que na teologia se chama de kairós, um tempo oportuno.
O patriarca de Constantinopla tinha ido a Roma para a liturgia de início do ministério petrino de Francisco, tornando-se o primeiro patriarca ortodoxo da história (de 1054 em diante) a reconhecer, desse modo liturgicamente solene, o papel do bispo de Roma para o cristianismo mundial e, portanto, também para as Igrejas ortodoxas. Quem assistiu às reuniões dos primazes das Igrejas ortodoxas realizadas em Istambul na semana passada informa que o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, "papa" dos ortodoxos, citou o exemplo de liderança do Papa Francisco para aqueles que buscavam garantias para um futuro Concílio pan-ortodoxo sob a insígnia da colegialidade.
Estamos diante de um anúncio que poderia significar um novo começo para as relações internas às Igrejas orientais, mas também para o cristianismo mundial.
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De Francisco, papa do Vaticano II, ao Concílio dos ortodoxos: um ano especial. Artigo de Massimo Faggioli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU