12 Março 2014
Embora o Papa Francisco tenha dito não gostar muito de viajar, ele está prestes a realizar longas viagens. Já tem visitas marcadas para fazer em Israel, nos Territórios Palestinos e na Jordânia no final de maio, e na segunda-feira (10-03-2014) o Vaticano anunciou que o pontífice visitará a Coreia do Sul entre os dias 14 e 18 de agosto.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por The Boston Globe, 11-03-2014. A tradução de Isaque Gomes Correa.
Os papas recebem convites para viagens mais do que eles podem conciliar; assim, precisam ser seletivos. Eles fazem excursões que acabam ressaltando sua prioridades ou que lhes permitem fazer reflexões específicas.
No caso da Coreia, a viagem proporciona ao Papa Francisco uma oportunidade de realizar três coisas de uma só vez.
A primeira é: Francisco está pagando uma dívida antiga deixada por Bento XVI.
O pontífice alemão fez 24 viagens para fora da Itália durante seu reinado de 8 anos, incluindo duas para a América Latina e duas para a África, mas não chegou a ir para a Ásia. O mais próximo que Bento XVI chegou aí foi durante suas quatro excursões para o Oriente Médio.
Qualquer papa provavelmente consideraria obrigatória esta ida à Ásia sob tais circunstâncias, mas é possível que o primeiro papa vindo de um país em desenvolvimento sinta uma obrigação especial.
A segunda é: a ida à Coreia permite ao papa reconhecer o crescimento espetacular do catolicismo em toda a Ásia e dizer “obrigado” pela contribuição fundamental que está sendo feita, hoje, pelos fiéis asiáticos para futuro da Igreja.
Durante o século XX o catolicismo cresceu de 1,2 para 3% da população total asiática, ou seja, a Igreja mais do que duplicou a sua “quota de mercado”. O número de católicos na Índia sozinha foi de menos de 2 para 17 milhões, e deve alcançar a casa dos 26 milhões em 2050. Numa outra potência católica asiática, as Filipinas, houve mais batismos em 2012 do que na França, Espanha, Itália e Polônia juntas.
Na Coreia, o catolicismo cresceu cerca 70% durante a última década, para mais de 5 milhões de pessoas, representando aproximadamente 10% da população nacional.
Hoje é lugar-comum nos círculos católicos dizer que os filipinos particularmente são os “novos irlandeses”, quer dizer, uma cultura intensamente católica cujo povo está indo para o exterior em massa na busca de oportunidades e levando junto sua fé.
Atualmente fica difícil encontrar alguma jurisdição católica – seja na América do Norte ou na Europa – onde uma parcela crescente dos sacerdotes não é oriunda ou das Filipinas ou da Índia e, em grau menor, de outros países asiáticos tais como Coreia, Sri Lanka, Myanmar e Vietnã.
A razão oficial para a presença do papa na Coreia é um encontro da juventude asiática, que significa ser a viagem dirigida a todo o continente. Com efeito, é uma oportunidade para o pontífice dar sinal positivo para uma região na qual o catolicismo está cada vez mais confiante.
A terceira oportunidade advinda desta viagem do papa à Ásia é: pelo fato de que Francisco planeja beatificar 124 mártires coreanos durante sua estada no país, a ida também lhe dá a chance de aumentar a consciência sobre um de seus temas sociais emergentes: a perseguição anticristã neste início de século XXI.
Durante sua homilia diária em 04-03-2013, o papa afirmou que “há mais mártires hoje do que nos primeiros dias da Igreja” e que “muitos de nossos irmãos e irmãs dão testemunho de Cristo, sendo perseguidos por isso”.
As estatísticas confirmam a afirmação. Estudiosos geralmente definem a estimativa mínima para o número de cristãos mortos ao redor do mundo a cada ano por motivos religiosos em algumas poucas centenas, enquanto que na outra ponta a estimativa vem do Centro de Estudos do Cristianismo Global em South Hamilton, no estado de Massachusetts, que apresenta o número de 100 mil mortos anualmente.
Este domínio de variação representa algo em torno de um mártir cristão a cada dia, ou um novo a cada hora.
A Ásia é uma das regiões onde a violência é mais aguda. A perseguição anticristã mais cruel das últimas duas décadas irrompeu no estado de Orissa, na Índia, no ano de 2008, quando radicais hindus armados de facão fizeram uma ação que deixou mortos cerca de 500 cristãos e milhares de feridos.
Os mártires coreanos que Francisco irá declarar “beatos”, passo final antes da santidade, foram mortos entre 1791 e 1888 e, portanto, não são exatamente contemporâneos. No entanto, o evento dará ao pontífice a chance de dizer que esta história de martírio está longe de ser um livro fechado.
Enquanto que as excursões à Terra Santa e à Coreia são as únicas viagens que o Vaticano oficialmente confirmou do Papa Francisco, funcionários dizem em off que o pontífice manifestou o desejo de visitar os Estados Unidos em setembro de 2015 para um “Encontro Mundial de Famílias”, patrocinado pela Igreja na Filadélfia.
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Por que razão Papa Francisco visitará a Coreia do Sul - Instituto Humanitas Unisinos - IHU