Por: André | 12 Março 2014
Ele era um arcebispo reflexivo, de olhar incisivo e de sorriso difícil. Um “homem cinzento”, segundo seus detratores. Doze meses atrás, Jorge Mario Bergoglio se preparava para o retiro, após ter apresentado sua renúncia por ter completado 75 anos. Mas, em questão de dias, viveu uma verdadeira “metamorfose” até converter-se em Francisco, o Papa jovial e fascinante que conquistou o mundo.
Fonte: http://bit.ly/1lVqGOR |
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 11-03-2014. A tradução é de André Langer.
“Vou a Roma e volto antes da Semana Santa”. O então arcebispo de Buenos Aires repetiu esta frase uma infinidade de vezes aos seus conhecidos e colaboradores. Corria fevereiro de 2013 e se inscrevia para participar do Conclave que elegeria o sucessor de Bento XVI.
Sua eleição surpreendeu a todos e mudou Bergoglio para sempre. “Ele teria gostado que outra pessoa mais jovem fosse eleita. Jorge não gostava de estar na linha de frente; ele sempre foi muito humilde e tratava que outras pessoas ocupassem esse papel. Sempre preferia sentar-se atrás de todos e ajudar as pessoas sem que se saiba que havia sido ele”, relatou ao Vatican Insider Gustavo Vera, o ativista argentino de direitos humanos amigo do Pontífice.
Eles se conheceram graças ao trabalho de Vera, atual deputado na capital argentina, na Associação La Alameda, que defende as vítimas do tráfico humano. Recordou que esse organismo tem muito material fotográfico de Bergoglio, que sempre perguntava para que ele tirava tantas fotos e lhe respondia: “Para quando fores Papa”. O “padre Jorge” ria.
“Quando foi eleito, muitos meios de comunicação do mundo vieram procurar a imensa quantidade de fotos que só nós tínhamos, porque inumeráveis vezes ele pedia que a imprensa não fosse (às atividades) porque não era um objetivo midiático, exceto quando queria proteger uma vítima (de abuso) ou uma organização (ameaçada). Não era de midiatizar suas ações, por isso não era tão popular”, contou.
“Recordemos que é jesuíta e muito disciplinado. Ele, quando era bispo e cardeal, tinha obrigações e deveres no marco da estrutura da Igreja e sua ação estava limitada por essa estrutura; não podia ir por cima dela. Agora, ele pode ser o que na realidade sempre foi e em determinadas ocasiões não podia ser. Agora o vemos em sua plenitude, porque sendo Papa tem uma liberdade de movimentos que antes não tinha em toda a sua dimensão”, acrescentou.
Para o sacerdote Guillermo Marcó, que durante muitos anos exerceu a função de porta-voz da Arquidiocese de Buenos Aires, o mais resgatável deste ano de Pontificado é que “um padre de paróquia” chegou ao posto mais importante da Igreja.
“O que está marcando Francisco é essa volta à busca do rebanho, acompanhada pelos gestos maravilhosos que ele tem”, estabeleceu.
Enquanto Jorge Telerman, judeu e presidente do Instituto Cultural da Província de Buenos Aires, destacou que Jorge Bergoglio se converteu no “argentino mais universal”, capaz de injetar uma “fantástica corrente de ar fresco” que está percorrendo o mundo.
Destacou que dos setores mais impensados atualmente se presta atenção em Francisco, em suas palavras e em suas ações, na pregação e na prática.
“Quem já o conhece sabe que sua palavra renovadora sempre está acompanhada de uma prática comprometida, o mundo hoje está vendo isso. Não são apenas uma palavra ou alguns gestos como aqueles dos primeiros dias, que assombraram e geraram admiração; suas ações sempre estão acompanhadas de uma mensagem, hoje Francisco, ontem o padre Jorge. Isso nos satisfaz porque vai muito além da grei católica: os judeus, os muçulmanos e até os não crentes olham e se admiram com a capacidade de ação deste grande homem, inspirador e sábio”, sentenciou.
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A “metamorfose”: de Bergoglio a Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU