Bonn: 200 países começam a discutir acordo climático

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12 Março 2014

Primeira rodada de negociações de 2014 tem início na Alemanha e disparidade entre nações desenvolvidas e emergentes já aflora nas declarações de abertura.

A reportagem é de Fabiano Ávila, publicado por Carbono Brasil, 11-03-2014.

Representantes de 200 países estão em Bonn, na Alemanha, com a missão de conseguir avanços concretos para o estabelecimento de um novo acordo climático global, que deve estar pronto até 2015 para que entre em vigor quando o Protocolo de Quioto expirar, em 2020.

“Esta sessão é um passo importante no processo de elaboração do acordo. Também é hora de os países dizerem o que podem fazer e mostrarem ações ambiciosas pré-2020”, afirmou Artur Runge-Metzger, presidente da rodada de Bonn.

Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), tentou dar ao início do evento um tom positivo. “Espero que exemplos inspiradores de ações sejam compartilhados nesta semana. Muitos já estão ajudando a lidar com as mudanças climáticas, como ONGs, prefeitos, forças militares e movimentos jovens. Então, vocês [representantes dos países] não estão sozinhos. Usem o apoio dessas pessoas como um vento nas suas velas.”

Porém, bastou os países começarem a discursar para as divergências aparecerem.

Falando em nome do ‘Umbrella Group’, coalizão que reúne nações desenvolvidas de fora da União Europeia, como Japão, Estados Unidos e Canadá, a Austrália defendeu que não há mais condições de negociar um acordo que siga a “abordagem bifurcada” de Quioto, isso é, um tratado que faça a diferenciação entre ricos e emergentes.

O representante australiano seguiu a linha da proposta norte-americana para o novo acordo, argumentando que a divisão entre países que fazia sentido em 1992, quando Quioto foi formulado, não terá mais razão de ser no mundo pós-2020.

Por sua vez, a Índia, discursando em nome do BASIC, grupo que além dos indianos reúne Brasil, África do Sul e China, afirmou que não há acordo sem o respeito ao conceito de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. É sob esse princípio que nações emergentes se apoiam para justificar que não podem assumir as mesmas metas de países como Estados Unidos e Inglaterra, que enriqueceram no passado através da emissão gigantesca de gases do efeito estufa.

A Bolívia, representando o G77 + a China, endureceu ainda mais o tom, criticando a falta de ações climáticas por parte das nações mais ricas. Citando a proposta chinesa para o acordo, o porta-voz boliviano declarou que os países em desenvolvimento estão fazendo muito mais do que as desenvolvidas para lidar com o aquecimento global, e que isso é errado.

A Venezuela também atacou a falta de ação dos ricos. “As nações desenvolvidas devem oferecer novos e transparentes objetivos antes de qualquer um. Precisamos de um mapa para o financiamento, mitigação e adaptação.”

Em meio a essas trocas de farpas, Nauru, representando a Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS), destacou que as mudanças climáticas já estão acontecendo e que atrasar ainda mais as ações de mitigação e adaptação causará perdas imensuráveis.

“Paris [sede da Conferência do Clima de 2015 - COP 21] deve alcançar um acordo com força de lei, baseado na ciência e ambicioso o bastante para limitar o aquecimento global abaixo dos 1,5oC.”

A AOSIS lembrou que na semana passada as Ilhas Marshal sofreram mais uma vez com a maré alta batizada de ‘maré rei’ (King Tide – vídeo), que até poucos anos atrás eram extremamente raras.

“As mudanças climáticas são a única explicação para o aumento da frequência e da ferocidade da King Tide. Para todos nós, das ilhas do Pacífico, é inacreditável e tola a posição de quem insiste em afirmar de que não existe aquecimento global”, disse Phillip Muller, ministro de Relações Exteriores das Ilhas Marshall.

A King Tide da semana passada desalojou mil pessoas e paralisou o aeroporto da capital, Majuro.

A rodada climática de Bonn termina no próximo dia 14 e é focada na Plataforma de Durban, que é a base para o novo acordo climático. Outras rodadas devem acontecer ainda neste ano até a Conferência do Clima de Lima (COP 20), no Peru, em dezembro.