10 Março 2014
Desde sábado, o caminho rumo a um sínodo "grande e santo" está mais seguro.
A análise é Alberto Melloni, historiador da Igreja, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação João XXIII de Ciências Religiosas de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 09-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
São muitos, no plano teológico e no político, os ingredientes de uma decisão epocal anunciada nesse sábado, em Constantinopla: em 2016, se reunirá o Concílio pan-ortodoxo que representa todas as Igrejas do Oriente cristão.
Há décadas, esperava-se essa convocação, a primeira depois do século VIII a ver reunidas não as Igrejas de um patriarcado, mas do mundo ortodoxo inteiro. Quando se iniciou a sua preparação, em 1976, o Oriente tinha sob os olhos a força de fidelidade e de profecia do Vaticano II. A política antirreligiosa soviética retardou o seu caminho, mas depois de 1989 a necessidade da Igreja Russa de fazer valer a sua força e a "sinfonia" com o Kremlin não se deu sem ondulações.
Mesmo recentemente, renomadas notas assinadas por "Nat Da Polis" explicaram na web: a discussão teológica sobre a função do "primeiro" colocaram em polêmica os grandes metropolitas como John Zizioulas ou Hilarion Alfeyev.
A escolha do Patriarca Bartolomeu de fixar para 2016 a data de abertura do Concílio pan-ortodoxo fixa, portanto, um termo de que todos sentiam a necessidade. No mundo atual, as grandes cicatrizes confessionais podem se tornar uma oportunidade de incêndios implacáveis: como os que se reabriram dentro do Islã entre sunitas, xiitas, wahabitas, alauítas, com consequências de sangue que poderia durar por muitas décadas. As fronteiras das Igrejas não são diferentes: as do Oriente cristão foram postos sob pressões na crise ucraniana.
No plano político, a Europa se equivocou ao ler uma crise que contrasta com o seu primeiro interesse principal, que é o da estabilidade dos seus próprios vizinhos: no plano teológico, ela mostrou que a exigência da unidade não é adiável eternamente. Além da agenda do Papa Francisco, agora ele se inscreve também na da ortodoxia.
Daqui a 2016, as tensões serão muitas, os riscos, sérios: mas, desde sábado, aquele caminho rumo a um sínodo "grande e santo" está mais seguro, chamado do qual o Patriarca Bartolomeu se tornou a voz mais audível.
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Um Concílio pan-ortodoxo em 2016. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU