24 Fevereiro 2014
A abordagem aventureira do Papa Francisco despertou expectativas para com uma mudança radical no catolicismo, e em nenhum outro lugar este desejo se mostra mais palpável, hoje, do que na questão de se aqueles fiéis que se divorciam e recasam sem obter uma anulação da Igreja devem – ou não – ter permissão de participar na comunhão e em outros sacramentos.
A reportagem é de John. L. Allen Jr., publicada no jornal Boston Globe, 21-02-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Francisco pareceu sinalizar uma abertura para rever esta proibição durante uma conferência de imprensa a bordo de um avião no último mês de julho, levando alguns analistas a concluir que alguma mudança neste sentido é apenas uma questão de tempo.
As esperanças são tão grandes que alguns dos assessores mais próximos do pontífice parecem preocupados com uma possível resposta negativa. Se a decisão final for que uma tal mudança na questão do divórcio não estará de acordo com o doutrina católica tradicional, o entusiasmo, a euforia com o novo papa poderá azedar.
Como resultado disso, estes prelados parecem estar tentando refrear as expectativas, insistindo que poucos ensinamentos bíblicos são mais claros do que as famosas palavras de Cristo: “O que Deus uniu, o homem não deve separar”, e que, portanto, permitir católicos divorciados voltar aos sacramentos em massa provavelmente não ocorrerá.
A última autoridade católica a defender esta posição foi o cardeal Thomas Collins, de Toronto (Canadá), que concedeu entrevista hoje (21-02-2014) ao jornal Boston Globe. No momento, Dom Collins está em Roma para dois dias de reuniões com a maioria dos cardeais do mundo na presença do papa. Nelas os assuntos centrais são o casamento e a família.
Estas reuniões constituem um prelúdio de uma cerimônia que ocorrerá no sábado, chamado consistório, na qual o Papa Francisco irá criar 19 novos cardeais. Entre eles estará o primeiro cardeal da empobrecida nação do Haiti.
“É claro que há uma preocupação com as pessoas que são divorciadas e recasadas, por se tratar de uma situação muito dolorosa para elas e para seus filhos”, afirma o entrevistado.
“Mas há também um ensinamento muito claro”, acrescentou o religioso de 67 anos. “A indissolubilidade do casamento não diz respeito a um código da lei canônica, ou a um papa ou mesmo a um concílio. Se há alguma coisa que seja bem clara na doutrina de Cristo, ela é essa”.
Dom Collins, que estudou no prestigiado Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, é considerado uma referência no catolicismo dos países de língua inglesa, com influências indo além das fronteiras do Canadá.
A sessão dos cardeais desta semana representa uma espécie de ensaio para um encontro global dos bispos católicos encomendado pelo Papa Francisco para ocorrer em outubro próximo, também devotado ao tema do casamento e família. Collins mostrou-se dúbio com o fato de que a cúpula dos bispos – chamada Sínodo – possa recomendar mudanças políticas radicais relativas ao divórcio.
Perguntado se acredita que a permissão de católicos divorciados e recasados para receber a comunhão estará em pauta, Collins afirmou: “Não vejo como isso poderia acontecer (...). Trata-se de uma questão muito clara sobre como devemos considerar o matrimônio, e isso vem direto de Nosso Senhor Jesus”.
Collins junta-se ao cardeal Sean O’Malley, de Boston, que em sua entrevista concedida ao Globe também advertiu contra a expectativa de que o Sínodo venha a propor uma reviravolta da disciplina tradicional católica relativa ao acesso aos sacramentos.
Em sua entrevista, O’Malley sugeriu que uma outra abordagem possa ser a de agilizar o processo de concessão das anulações, que consiste numa declaração feita por um tribunal eclesiástico afirmando que determinado casamento nunca existiu em primeiro lugar por causa que as condições de validade dentro das leis da Igreja não foram satisfeitas. Por exemplo, de que não houve o livre consentimento entre ambas as partes.
Collins concorda que uma reforma no processo de anulação, que visaria torná-lo mais simples e rápido, possa ser algo que surja a partir do Sínodo de outubro.
“É a maneira mais óbvia de lidar imediatamente com este assunto”, disse ele.
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Cardeais tentam administrar expectativas sobre a questão do divórcio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU