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21 Fevereiro 2014

Jesus não é o anunciador de uma mística separada de qualquer referência ao mundo ou de um ascetismo desencarnado. No ensinamento e no agir de Jesus, ao contrário, há a unidade entre dimensão transcendente e dimensão imanente da salvação.

Publicamos aqui um trecho do novo livro do cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, intitulado Povera per i poveri. La missione della Chiesa (Livraria Editora Vaticana). O texto foi publicado no jornal Corriere della Sera, 19-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O encontro pessoal com Gustavo Gutiérrez revelou-se particularmente fecundo para mim justamente por causa do pleno amadurecimento de uma compreensão do que é teologia, que vai além da única dimensão, por assim dizer, "passiva" e "teórica", científico-acadêmica.

Durante aquela estada em Lima, passamos algum tempo juntos, mesmo nas favelas da periferia da cidade, com os últimos dos últimos, e depois com os campesinos da paróquia de Diego Irarrázaval, perto do Lago Titicaca; portanto, com aqueles que os ladrões de hoje, homens cegos pela avidez e sem piedade, tinham espancado e roubado, explorado e pisoteado, reduzido ao fim da vida e abandonado sangrando às margens das estradas do mundo; e que só poderia salvá-los a misericórdia de alguém que, por amor, parasse por lá, inclinando-se sobre eles. (...)

Porque Jesus não é o anunciador de uma mística separada de qualquer referência ao mundo ou de um ascetismo desencarnado. No ensinamento e no agir de Jesus, ao contrário, há a unidade entre dimensão transcendente e dimensão imanente da salvação. A sua morte na Cruz também não pode de modo algum ser considerada como religiosidade separada do mundo, que separa a criação da redenção.

Ao invés, Jesus morreu na Cruz para demonstrar o amor libertador de Deus que transforma o mundo. A morte na Cruz de Jesus conferiu ao mundo e à história a característica de um campo em que vai se impondo a Nova Criação, a partir de agora e daqui.

Assim, a salvação, a libertação, em relação à realização histórica, não inicia no momento da nossa morte individual ou no fim da história da humanidade como um todo, quando o Bom Samaritano retornará: esse, ao contrário, é o momento do cumprimento dela, na contemplação de Deus, na eterna comunhão de amor com Ele: inicia aqui e agora, às margens da estrada.