17 Fevereiro 2014
"Retirado com a minha oração, estarei sempre com vocês e, juntos, sigamos em frente com o Senhor". Com essas palavras, no dia 14 de fevereiro do ano passado, Bento XVI se despedia dos párocos da sua diocese de Roma, três dias depois do anúncio da renúncia ao ministério petrino. A um ano daquele gesto epocal, Alessandro Gisotti entrevistou o secretário particular do papa emérito e prefeito da Casa Pontifícia, Dom Georg Gänswein.
A reportagem é da Rádio Vaticano, 14-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Como o Papa Bento XVI passou o dia de terça-feira passada, primeiro aniversário da renúncia?
O dia 11 de fevereiro deste ano foi um dia como todos os outros: a manhã começou com a missa, depois o breviário, depois o café da manhã, e, depois, continuou o dia. Claro, nesse dia, também se falou do 11 de fevereiro de 2013, que foi um dia histórico, inesquecível para todos os que o viveram. Pensou-se sobre ele, falou-se sobre ele, mas não mudou nada no 11 de fevereiro de 2014.
O Papa Bento XVI passou o dia com a serenidade que é a sua...
Com a serenidade que é sua e que ele demonstrou logo depois o dia 11 de fevereiro do ano passado.
Passou-se um ano desde aquele gesto epocal da renúncia. Como você descreveria esse período tão particular para o Papa Bento XVI?
A chave é o que o próprio Papa Bento XVI disse no discurso da renúncia: o motivo é aquele. Não há outros motivos. Quem busca outros motivos faz especulação: eles não têm nada a ver. O motivo é que ele não tinha mais forças e era preciso um papa que tivesse forças para liderar bem a Igreja de Cristo. O ato é um ato de amor, um ato corajoso, mas também um ato de grande humildade, de amor ao Senhor e à Igreja. E talvez poucos – incluindo eu – entenderam logo isso, e neste ano eu acho que cresceu a consciência de que esse ato foi um ato corajoso, revolucionário, humilde, que certamente trará frutos no futuro.
Bento XVI vive uma vida "escondida do mundo", como ele mesmo disse. Mas essa vida não é isolada. O que chama a atenção do modo pelo qual o papa emérito passa o dia?
É bonito o que disse o padre Lombardi: o Papa Bento XVI vive escondido, discreto, mas não isolado, porque muitas vezes discrição e reserva são confundidas com estar isolado, e isso não é verdade, em nada. O Papa Bento XVI vive – como sabemos – no mosteiro Mater Ecclesiae, tem os seus contatos, o seu ritmo cotidiano: há visitas, há correspondência, há também muitos contatos externos... Mas ele quis viver desse modo para rezar pela Igreja e pelo seu sucessor e, desse modo, encontra-se à vontade.
Há um ano, muitos temiam a convivência inédita, extraordinária entre dois papas. Vemos, no entanto, que há uma naturalidade de relações entre esses dois servidores do Senhor: eles disseram que se sentem realmente irmãos...
É verdade. Eu acho que muitos tiveram essa ideia ou essa dúvida: poderá funcionar uma coabitação entre o papa emérito e o papa reinante? Quem conhece o Papa Bento XVI não podia duvidar de que ele não interferiria no governo do seu sucessor. E assim foi. Mas foi uma coisa bonita o fato de que, logo depois da eleição, o Papa Francisco buscou o contato com o seu antecessor, e esse primeiro contato foi o início de uma boa e bonita amizade que se desenvolve a cada dia.
Muitos ainda gostariam de reencontrar o Papa Bento XVI, de poder falar com ele. Sabemos também que muitos escrevem ao Papa Bento XVI. O que você gostaria de dizer a esses fiéis, e como o Papa Bento XVI acolhe esse grande amor por parte de tantos?
Para o Papa Bento XVI, isso é uma consolação enorme, que enche o seu coração de alegria, mas também de gratidão às pessoas que ele quer bem e ao Senhor. É claro – e aqui também eu peço compreensão – que não é possível que o Papa Bento XVI aceite todos os pedidos de poder encontrá-lo, de poder vê-lo, porque são muitos. Escrevem não só da Itália, mas de todo o mundo. Mas, por esse sinal de proximidade, por esse sinal de amor, de afeto, o Papa Bento XVI é muito, muito grato.
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''Bento XVI viveu com grande serenidade o 11 de fevereiro deste ano''. Entrevista com Georg Gänswein - Instituto Humanitas Unisinos - IHU