Por: Jonas | 14 Fevereiro 2014
A cruz da Igreja no Chile parece não ter fim. Há apenas alguns dias, veio à luz uma investigação conduzida pelo Vaticano contra o bispo da diocese de San Felipe, em razão de supostos abusos sexuais a menores. Há meses, as acusações contra Cristián Contreras Molina circulavam em Roma, mas o investigado saiu se defendendo com firmeza, qualificando-as como “infundadas”. Enquanto isso, cresce o desconcerto entre o povo fiel.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 13-02-2014. A tradução é do Cepat.
A descoberta foi divulgada pelo Centro de Investigação Jornalística, em uma longa reportagem na qual revelou que dois sacerdotes mexicanos, da Arquidiocese de Guadalajara, viajaram até o território chileno, em janeiro, para conduzir as pesquisas sobre Contreras. O pastor de San Felipe não deve ser confundido com o seu homônimo, Cristián Contreras Villarroel, bispo auxiliar de Santiago.
César García e Daniel Jiménez foram mandados ao Chile com um mandato confidencial. Permaneceram uns 20 dias, e após suas diligências entregarão um relatório pormenorizado à Congregação para a Doutrina da Fé. Não é comum que essa instância da Santa Sé envie sacerdotes estrangeiros para investigar denúncias de abuso. Normalmente, Roma outorga mandatos dentro do próprio país, mas de outras dioceses, para que as indagações sejam realizadas por alguém de uma demarcação eclesiástica diferente.
No entanto, este caso é diferente e mais delicado por se tratar de um bispo. Quem é dessa categoria só pode ser julgado pelo Papa. Não era viável e até podia resultar inconveniente que fosse outro bispo chileno a realizar a prévia investigação.
Após vazar a notícia, o bispado de San Felipe reagiu com um comunicado em que informou que foi o próprio acusado, Contreras Molina, quem pediu à Santa Sé que se “investigasse a veracidade das denúncias que o acusam de presumíveis crimes graves contra a moral e o cumprimento de suas obrigações ministeriais, cujos conteúdos considera completamente infundados”.
A nota abriu pistas para adivinhar de onde surgiu a informação sobre as pesquisas que, teoricamente, deviam permanecer secretas. Antes de tudo, porque o processo ainda não terminou e o bispo não foi considerado culpado. “É necessário ter presente que todas as pessoas que contribuíram com suas informações a uma investigação, são obrigadas a guardar sigilo”, apontou.
“O bispado de San Felipe e seu bispo querem expressar que tem plena confiança nas decisões que sejam tomadas pelos superiores convidados a julgar fatos contrários à moral e ao direito. Também, nesse caso, confiamos plenamente em que, cedo ou tarde, a verdade aparecerá”, acrescentou a declaração. A situação de Contreras é complicada. Três sacerdotes diferentes, de sua diocese, apresentaram testemunhos detalhados, um deles declarou em cartório. Não obstante, a última palavra quem tem é o Vaticano.
Durante os dias no Chile, os enviados do Vaticano concluíram, além disso, uma investigação sobre o religioso Mariano Labarca, um alto expoente da Ordem dos Mercedários. “Mercedário”, assim como o Bispo de San Felipe. Ainda em maio de 2013, a Santa Sé aplicou medidas cautelares contra esse sacerdote, ex-superior provincial e geral (1998-2004) da congregação, sacudida também por outros casos semelhantes. No momento, Labarca se encontra recluso em um convento ao sul de Santiago.
A Ordem dos Mercedários não é a única instituição religiosa a enfrentar este problema. Tambem foi atingida a Companhia de Jesus e os Legionários de Cristo. Além disso, em 2013, o arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, pediu aos Missionários de São Francisco de Sales para deixarem o país por motivos semelhantes.
O arcebispo da capital teve que enfrentar dois casos emblemáticos: o de Fernando Karadima, um sacerdote com enorme influência, e o de Cristián Precht Bañados, emblemático defensor dos direitos humanos durante o regime de Augusto Pinochet. Em Roma, avaliam sua atuação não apenas como correta, como também um modelo a ser seguido, apesar das críticas.
Não aconteceu o mesmo em outras dioceses, algumas golpeadas por uma forte crise de credibilidade. O núncio apostólico, Ivo Scapolo, viu-se obrigado a atrasar muitas nomeações episcopais, no desejo de conter o problema.
No momento, na última assembleia da Conferência Episcopal Chilena, Ezzati foi reeleito como presidente. No dia 22 de fevereiro, receberá o barrete cardinalício das mãos do papa Francisco. Um sinal de para onde se deve conduzir, entre outras coisas, a batalha contra os abusos. O Vaticano apontou, há anos, que os bispos locais devem enfrentar esse tema com clareza e transparência. A responsabilidade direta é deles e de mais ninguém.
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Chile. Vaticano investiga bispo por supostos abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU