Por: Jonas | 04 Fevereiro 2014
Em uma coincidência bastante simbólica, a presidenta Dilma Rousseff (na foto, à direita de Fidel Castro) fez sua estreia no Fórum Econômico Mundial que reúne em Davos, Suíça, a elite máxima do empresariado e seguiu viagem para Cuba. Foi a primeira vez que Dilma Rousseff foi ao Fórum, marcando presença quando começa o último ano de sua presidência. Com seu antecessor, Lula da Silva, foi tudo diferente: o primeiro presidente brasileiro de um partido declaradamente de esquerda aterrissou em Davos quando iniciava seu governo.
Fonte: http://goo.gl/7z1Glr |
A reportagem é de Eric Nepomuceno, publicada por Página/12, 02-02-2014. A tradução é do Cepat.
A viagem de Dilma à cidade suíça teve um objetivo claro: faz parte dos esforços destinados a reconquistar a confiança dos investidores de todo o mundo, que olham com cautela e preocupação o cenário de inflação relativamente elevada (5,9%, em 2013) e crescimento da economia muito abaixo do esperado (1,9%). A perda de credibilidade junto aos investidores preocupa o governo brasileiro.
Por sua vez, a viagem até Havana, muito mais do que para participar da cúpula da CELAC, segue a nova estratégia brasileira destinada à ilha: o país pretende, em curto prazo, aumentar fortemente sua presença em Cuba e ocupar um espaço amplo e de grande peso.
Com um olho nas mudanças implementadas por Raúl Castro na economia cubana e nos potenciais benefícios que poderão propiciar, e o outro no campo da política, o governo de Dilma Rousseff caminha firme para uma nova etapa nas relações bilaterais.
Em sua breve estadia em Havana, além dos compromissos protocolares que incluíram um encontro com Fidel Castro, Dilma Rousseff disse uma frase que deve cuidadosamente medida: o Brasil está determinado a se transformar em um “sócio de primeira ordem no campo econômico”, ao passo que mantém no mesmo nível, desde a chegada do PT ao governo em 2003, o diálogo permanente no campo da política.
Essa nova etapa permite observar que, a partir principalmente de 2010, último ano de Lula na presidência, as relações com Cuba já não se restringem a alguns investimentos e muitas declarações de solidariedade e de críticas ao embargo norte-americano e às condições humilhantes impostas pela União Europeia.
No momento, há medidas práticas e de peso específico. A participação brasileira na construção do novo porto de Mariel e na instalação do que os cubanos chamam “zona econômica especial”, mas, que na realidade pretende ser uma zona franca, foi decisiva. Foi destinado 1,1 bilhão de dólares, e já se sabe que haverá mais contribuições de alto volume para que se instalem indústria e empresas brasileiras no complexo de Mariel.
Esse é, sem dúvida, o maior projeto de Cuba, com possibilidades concretas de ser o eixo transformador da economia do país e parte essencial das reformas que trarão grandes mudanças para a ilha.
A própria Odebrecht que construiu o novo porto, anuncia que está na fase final de estudos para instalar, em Mariel, uma indústria transformadora de plástico. Além disso, aguarda sinal verde do BNDES, o banco estatal brasileiro de crédito e financiamento, para participar da ampliação do aeroporto de Havana.
E tem mais: Dilma anunciou, durante sua visita, créditos ao redor de 500 milhões de dólares para que Cuba importe bens e serviços do Brasil, e também para que importadores brasileiros adquiram produtos cubanos. Caso não se considere as vendas de petróleo, o Brasil é quem mais exporta para Cuba (16% de tudo o que a Ilha importa), superando o Canadá em pequena margem. A China é a principal exportadora: 42%. Além disso, Brasil é o quarto maior importador (principalmente de medicamentos e vacinas). Também, cinco mil médicos cubanos trabalham no Brasil.
Para completar o cenário existe a questão política. O Brasil quer consolidar seu peso e sua liderança na América Latina. Com a incerteza da situação da Venezuela, principal provedor e financiador da Ilha, o Brasil surge como alternativa salvadora. E com uma vantagem sobre a Venezuela: além de dispor de um volume maior de recursos, pode apresentar um projeto vantajoso para os dois lados, ou seja, financia, com juros baixos, a venda de produtos de um país para outro e vice-versa.
Em termos políticos, fica claro que ninguém deve esperar do Brasil um discurso em voz alta como o da Venezuela de Chávez e Nicolás Maduro. Primeiro, porque os processos internos observados no Brasil e na Venezuela são muito distantes um do outro. Segundo, porque as linhas de política externa também são muito diferentes.
Os estrategistas da diplomacia brasileira costumam dizer que acreditam mais em ações do que em palavras. Na relação com Cuba, a melhor maneira de apoiar o processo de transformações, realizadas por Raúl Castro, é investir em grandes quantidades de recursos em projetos estruturais que podem mudar, efetivamente, a realidade interna do país.
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Dilma aposta forte na relação com Cuba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU