Papa quer papel “capilar e incisivo” para as mulheres na Igreja

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

27 Janeiro 2014

Em seu discurso, no dia 25-01-2014, a um grupo de mulheres italianas, o Papa Francisco mais uma vez expressou uma “esperança vívida” de que as mulheres irão desempenhar um papel “mais capilar e incisivo” na Igreja Católica, bem como em todos espaços em que “as decisões mais importantes são adotadas”.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National Catholic Reporter, 25-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Francisco fez o comentário durante um discurso no Centro Italiano Femminile, originalmente fundado em 1944 para promover o envolvimento das mulheres na reconstrução da Itália no pós-Guerra e inspirado pela tradição cristã.

Embora reafirmando a proibição de sacerdotes do sexo feminino, em várias ocasiões o papa manifestou o desejo de um papel maior às mulheres na Igreja, incluindo sua conferência de imprensa, em julho, a bordo de um avião retornando do Brasil e em sua recente exortação apostólica “Evangelii Gaudium”.

Francisco não ofereceu nada em específico no tocante a quais papéis poderiam ser, mas a repetição deste assunto dá a entender, sem dúvida, que isso seja uma prioridade papal.

“Fico feliz em ver muitas mulheres partilhando certas responsabilidades pastorais no acompanhamento a indivíduos, famílias e grupos, e na reflexão teológica”, disse o religioso. “E eu manifestei esperanças de que espaços para uma presença feminina que seja mais capilar e incisiva na Igreja serão ampliados”.

A seguir apresentamos texto do discurso do Papa Francisco na íntegra.

* * *

Agradeço ao Senhor junto de todas vocês por tudo de bom que o Centro Italiano Femminile vem realizando durante os seus quase 70 anos de existência, pelo trabalho que é realizado na área da formação e promoção humana e pelo testemunho que é dado quanto ao papel da mulher na sociedade e na comunidade eclesial. Na verdade, no arco destas décadas, ao lado de outras transformações culturais e sociais, a identidade e o papel da mulher, na família, em sociedade e na Igreja, passou por mutações notáveis e, em geral, a participação e responsabilidade das mulheres cresceram.

Neste processo, o discernimento do magistério dos papas foi, e é, importante. De modo especial a carta apostólica do beato João Paulo II intitulada Mulieres Dignitatem, de 1998, deve ser lembrada quanto à dignidade e vocação da mulher. É um documento que, em consonância com o ensino do Concílio Vaticano II, reconheceu a força moral da mulher e sua força espiritual (cf. § 30); e lembremos também a mensagem para o Dia Mundial da Paz, em 1995, sobre o assunto “A mulher: educadora da paz”.

Eu igualmente recordei o papel indispensável da mulher na sociedade, em particular com sua sensibilidade e intuição para com o outro, com os fracos e indefesos; fico feliz em ver muitas mulheres partilhando certas responsabilidades pastorais no acompanhamento a indivíduos, famílias e grupos, e na reflexão teológica; manifestei esperanças de que espaços para uma presença feminina que seja mais capilar e incisiva na Igreja serão ampliados. (Cf. exortação Evangelii Gaudium, § 103).

Estes novos espaços e responsabilidades que se abriram, e eu vividamente espero que eles possam ser expandidos ainda mais para a presença e atividade das mulheres, tanto no âmbito eclesial quanto no da sociedade civil e nas profissões, não pode nos fazer esquecer o papel insubstituível delas na família. Os dons da delicadeza, de uma sensibilidade e ternura especiais, que constituem a riqueza do espírito feminino, representam uma força genuína para a vida da família, para a irradiação de um clima de serenidade e harmonia, mas uma realidade sem a qual a vocação humana seria irrealizável.

Se no mundo do trabalho e na esfera pública é importante ter um papel mais incisivo para o gênio feminino, tal papel também continua essencial no âmbito da família, que para nós, cristãos, não apenas é um lugar privado como também a “Igreja doméstica” cuja saúde e prosperidade são pré-requisitos para a saúde e prosperidade da Igreja e da própria sociedade. A presença das mulheres no âmbito doméstico mostra-se, portanto, ser mais necessário do que nunca para a transmissão de princípios morais sólidos às futuras gerações e para a transmissão da própria fé.

A esta altura é natural perguntar: Como é possível cultivar a presença efetiva [das mulheres] em tantos âmbitos da vida pública, no mundo do trabalho e em espaços onde as decisões mais importantes são adotadas, e ao mesmo tempo manter uma presença e uma atenção preferencial, que é extremamente especial, na e para a família? Eis uma área em que o discernimento, bem como a reflexão sobre a realidade da mulher em sociedade, pressupõe oração assídua e persistente.

É no diálogo com Deus, iluminado pela sua palavra e irrigado pela graça dos sacramentos, que a mulher cristã sempre busca novamente responder ao chamado do Senhor, no contexto concreto de sua situação pessoal. Esta oração é sempre sustentada pela presença maternal de Maria. Ela que cuidou de seu Filho divino, que ganhou o favor de seu primeiro milagre no casamento em Cana, que esteve presente no Calvário e no Dia de Pentecostes, mostra o caminho a ser trilhado a fim de aprofundarmos o significado e o papel da mulher em sociedade e para sermos totalmente fiéis ao Senhor Jesus Cristo e à sua missão no mundo.