22 Janeiro 2014
Aparentemente, uma fenda se abriu entre dois cardeais com níveis significativos de influência no Vaticano, já que o chefe do Conselho dos Bispos, organismo criado pelo Papa Francisco, sugeriu que o czar doutrinal da Santa Sé precisa ser mais “flexível” em suas opiniões a respeito dos católicos divorciados e recasados.
O cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga fez este comentário na última segunda-feira (20-01-2014) durante entrevista ao jornal alemão Kölner Stadt-Anzeiger.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National Catholc Reporter, 21-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Nomeado em abril como coordenador do grupo de oito cardeais vindos de todo o mundo que compõem o Conselho dos Cardeais, Dom Maradiaga foi questionado sobre um artigo recente no qual o recém-designado cardeal alemão Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, apareceu para desfazer com qualquer possibilidade de revisão das regras da Igreja que restringem católicos divorciados e recasados de participarem nos sacramentos.
“Acho que compreendo este caso”, disse Dom Maradiaga na entrevista. “É preciso dizer que ele é alemão; acima de tudo, ele é um professor alemão de teologia. Então, para ele há somente verdade e falsidade. Mas eu digo, meu irmão: o mundo não é assim; deveríamos ser um pouco mais flexíveis ao ouvirmos outras vozes. Isso quer dizer, não só ouvir e, depois, dizer não”.
Maradiaga disse ter certeza de que Müller irá “chegar ao entendimento de outras posições também”, mesmo se, no momento, “ele apenas ouve os membros de seu grupo de assessores”.
Quanto à questão dos fiéis divorciados e recasados, Maradiaga pareceu sinalizar dar apoio a um certo tipo de mudança.
“A Igreja tem a obrigação de [defender] os mandamentos de Deus”, disse, incluindo aquilo que Jesus disse sobre o casamento: “O que Deus uniu, o homem não separa”.
Dito isso, Maradiaga afirmou que “há diferentes abordagens. Por exemplo, após o fracasso de um casamento podemos nos perguntar se os cônjuges foram verdadeiramente unidos em Deus. Há muito espaço para reflexões posteriores aqui”. No entanto, o cardeal hondurenho pareceu também advertir contra expectativas de guinadas dramáticas nas diretrizes da Igreja.
“Não estamos indo na direção daquilo que hoje é preto amanhã será branco”, acrescentou.
No contexto da entrevista, o religioso informa que ainda não falou com o Müller, que se tornará cardeal em um consistório marcado para o dia 22-01-2014, sobre a questão dos católicos divorciados e recasados.
O vaticantista Marco Tosatti descreveu estas palavras como sendo uma “pequena surpresa” em seu blog ao falar da entrevista, dado o claro contraste entre as duas posições.
O próprio Papa Francisco sinalizou abertura a uma certa flexibilidade quanto ao acesso aos sacramentos para católicos divorciados e recasados, dizendo durante uma conferência de imprensa, a bordo de um avião retornando do Brasil em julho passado, que talvez o catolicismo pudesse aprender algo a partir da prática das igrejas ortodoxas orientais quanto a reconhecer um segundo casamento.
O papa anunciou também que o assunto irá estar na agenda do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Família, a ser realizado no Vaticano em outubro.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"Seja mais flexível", pede cardeal Maradiaga ao cardeal Müller - Instituto Humanitas Unisinos - IHU