Por: Jonas | 22 Janeiro 2014
O arcebispo alemão Gerhard Ludwig Müller (foto), prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que será criado cardeal no próximo consistório do dia 21 de fevereiro, assegurou hoje, em um dos encontros organizados pela Faculdade de Direito Canônico da Universidade Católica de Valença “San Vicent Mártir”, que “a vida da Igreja não pode se concentrar de tal forma no Papa e sua Cúria, como se nas paróquias, comunidades e dioceses apenas existisse algo secundário”.
Fonte: http://goo.gl/SqdWC9 |
A reportagem é publicada por Religión Digital, 20-01-2013. A tradução é do Cepat.
Segundo o prelado alemão, “uma centralização exagerada da administração não ajuda a Igreja, mas, sim, impede sua dinâmica missionária”.
Nos dias de encontro, nos quais também interviu o arcebispo de Valença e grão-chanceler da UVC, dom Carlos Osoro, Gerhard Ludwig Müller dissertou sobre a colegialidade e o exercício da potestade suprema da Igreja, no marco da XII Discussão do Direito.
Dom Müller recordou as palavras do papa Francisco, em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, que fala de uma “saudável descentralização” na Igreja: “Um reajuste de independência e colaboração das Igrejas locais, da colegialidade episcopal e do Primado do Papa nos permitirá não perder de vista a exigência transcendental da questão sobre Deus”.
Para o prelado alemão, um exercício “reformado” do Primado também pertence à nova evangelização. “Uma Igreja que apenas gira em torno dos próprios problemas estruturais seria espantosamente anacrônica e alheia ao mundo, pois em seu ser e missão não é outra coisa que a Igreja do Deus trindade, origem e destino de cada homem e de todo o universo”, argumentou.
Com o texto papal – apontou dom Müller – “não se deu o sinal para uma mudança de direção ou uma revolução no Vaticano, em contraposição a interpretações superficiais”. Segundo Müller, “o que interessa ao Papa é uma superação tanto da letargia e da resignação diante da secularização extrema, como um final das disputas fragilizadoras dentro da Igreja entre ideologias tradicionalistas e progressistas”.
“A Evangelii Gaudium quer reunificar interiormente a Igreja, para que o Povo de Deus, em seu serviço missionário, não seja obstáculo a uma humanidade necessitada de salvação e ajuda. As guerras civis, o terrorismo, a pobreza, a exploração, a situação dos refugiados, as drogas, o aumento dos suicídios, o aumento da pornografia em 20% da juventude, a crise de sentido e a desorientação espiritual e moral de milhões de pessoas... todas essas tragédias globais e cotidianas fazem com que sobrevenha à Igreja de Deus a tarefa transcendental de dar novamente esperança à humanidade”, apontou.
Na opinião do novo cardeal, “tendências separatistas e comportamentos prepotentes apenas prejudicam a Igreja”. A revelação foi encomendada à Igreja “única e universal” para sua fiel custódia, guiada pelo Papa e os Bispos em comunhão com ele. “A Igreja Católica é communio ecclesiarum e não uma federação de Igrejas estatais ou uma aliança mundial de comunidades eclesiais confessionalmente aparelhadas, que respeitam por tradição humana o Bispo de Roma como presidente honorífico”.
Dessa forma, dom Müller manifestou que, ainda que sejam meios “indispensáveis”, nação, idioma e cultura “não são princípios constitutivos para a Igreja, que testifica e realiza a unidade dos povos em Cristo”.
“As igrejas locais, como a Igreja de Cristo, não são constituídas em absoluto pela vontade associativa de cada um dos cristãos. É o próprio Cristo que, mediante seus Apóstolos e seus sucessores funda a Igreja universal em e a partir das Igrejas locais. Apenas se pode falar de Igreja local, quando esta realiza visivelmente no Bispo, sucessor dos Apóstolos, a unidade com as outras Igrejas locais e a unidade com a origem da Igreja em Cristo e os Apóstolos”.
O arcebispo alemão afirmou que a unidade “fraternal” dos bispos da Igreja Universal “cum et sub Petro” se fundamenta na “sacramentalidade” da Igreja e, com isso, no direito divino. “Apenas ao custo de uma dessacralização da Igreja, poderia se realizar uma luta de poder entre forças centralistas e particularistas. Ao final, restaria uma Igreja secularizada e politizada, que apenas se diferencia em grau de uma ONG. O convite do Papa para uma renovada percepção da Colegialidade dos Bispos é o contrário a uma relativização do serviço que Cristo lhe encomendou de forma imediata”, acrescentou.
Para o Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, o Papa sugere na “Evangelii Gaudium” uma práxis “corrigida, correspondente à civilização global e digitalizada de hoje”. Embora Primado e Episcopado pertença à “essência” da Igreja, as formas de sua realização na história são necessariamente “diversas”.
“A comunhão e a missão são os dois elementos que constituem a comunidade dos discípulos de Jesus como sinal e instrumento de unidade dos homens com Deus e de unidade entre eles próprios. Portanto, a Igreja é essencialmente uma só, como servidora e mediadora dessa união. A Igreja não é a posterior soma dos indivíduos em sua relação autônoma e imediata com Deus, mas, sim, está unida organicamente com Cristo, como o corpo com a cabeça”, apontou.
O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé também se referiu ao papel dos bispos a esse respeito: “Uma vez que o colégio do bispo serve à unidade da Igreja, este deve portar em si mesmo o princípio dessa unidade. Por isso, o bispo só pode ser pastor de uma Igreja local e não o presidente de uma federação de alianças eclesiais regionais e continentais. E seu colégio não pode ser apenas um princípio objetivo puro. Portanto, na essência interior do ofício episcopal está um testemunho pessoal. O princípio da unidade do próprio episcopado se encarna em uma pessoa”.
Para dom Müller é “importante” interpretar o ministério episcopal “como realidade sacramental na Igreja sacramental e não confundi-lo com o serviço de um moderador de puras associações humanas”.
Finalmente, o arcebispo alemão recordou que a Igreja “não é a Luz”, ela apenas pode dar testemunho “da Luz que ilumina cada homem, Jesus Cristo”. “Apesar de todas as tormentas e ventos contrários, o barco de Pedro deve voltar a içar as velas da alegria por Jesus, que está junto a nós”.
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“A vida da Igreja não pode se concentrar no Papa e na Cúria”, afirma Müller - Instituto Humanitas Unisinos - IHU