Por: Jonas | 20 Janeiro 2014
O vermelho parece ser uma cor de família: o novo cardeal Andrew Yeom Soo-jung (foto), arcebispo de Seul, leva o vermelho do martírio no DNA. Seu tataravô Pietro Yeom Seok-tae e sua esposa Maria foram martirizados em 1850, durante os albores da chegada da fé cristã na Coreia, nos anos da perseguição da dinastia Choseon.
Fonte: http://goo.gl/0Z9Avb |
A reportagem é de Paolo Affatato, publicada por Vatican Insider, 16-01-2014. A tradução é do Cepat.
Na península coreana (segundo as reconstruções dos historiadores), a semente do Evangelho chegou - caso único no mundo - graças a um grupo de leigos que pagaram com suas vidas a decisão de permanecerem fiéis a Cristo. Os antepassados do novo cardeal, Joseph Yeom Deok-sun (que está entre os primeiros coreanos que se converteram ao catolicismo) e, em seguida, Pietro Yeom Seok-tae, faziam parte daquele pequeno grupo.
Na história da Coreia, do martírio “in odium fidei” dos primeiros fiéis (hoje venerados como pais da fé) germinou uma árvore robusta: um povo que representa 10% de um país de tradição budista, terceira comunidade católica do continente asiático (depois das Filipinas e do Vietnã), rico em vocações sacerdotais e religiosas, além de manancial de missionários para todo o mundo.
Nascido no seio de uma família com profundas raízes cristãs, Yeom descobriu e cultivou sua vocação sacerdotal, como sempre conta, graças à oração em família. Sua avó Magdalena Park e sua mãe Baek Geum-wol iam à missa todos os dias (durante trinta anos) para pedir a Deus que seus filhos se tornassem sacerdotes. Yeom, o terceiro dos seis filhos, tornou-se sacerdote junto com seus outros dois irmãos mais novos, que também atuam na diocese de Seul.
Quando era adolescente, Yeom entrou para o seminário com 15 anos. Obteve a licenciatura na Universidade Católica da Coreia e foi ordenado sacerdote no dia 8 de dezembro de 1970. Ao continuar seus estudos, percebeu que desejava aprofundar seu conhecimento em teologia pastoral. O mestrado em psicologia, a licença e o diploma no Instituto Pastoral da Ásia Oriental, ele conseguiu durante os anos em que foi um constante pastor, em diferentes paróquias da cidade.
Depois, foi chamado ao dedicado escritório da secretaria geral da cúria diocesana de Seul e aceitou com a condição de permanecer envolvido na pastoral paroquial. Dessa maneira, tornou-se um dos “vigários forâneos” na diocese e se ocupava da coordenação da vida e das atividades pastorais de um considerável grupo de paróquias. Durante esses anos, também pôde estimular a presença da Igreja nos meios de comunicação, inaugurando, em 1990, a “Peace Broadcasting Corporation”, que inclui um canal de televisão e uma emissora católica, com apreciadas vozes cristãs que promovem, infatigavelmente, valores como a paz, a reconciliação, a defesa da vida, a dignidade e os direitos inalienáveis do ser humano.
Em dezembro de 2001, João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Seul e, após a ordenação episcopal do ano seguinte, Yeom Soo-jun (que tinha 58 anos) tornou-se o vigário geral da arquidiocese de Seul, cargo que manteve até maio de 2012, quando o papa Ratzinger o nomeou arcebispo metropolitano. Essa nomeação teve um significado particular para a Igreja coreana: o arcebispo da cidade é também o administrador apostólico de Pyongyang, na Coreia do Norte. A península, desde 1953, vive irremediavelmente dividida em duas pela “cortina de bambu”. Uma separação que ainda afeta milhares de famílias coreanas. Por esse motivo, o arcebispo escolheu simbolicamente celebrar a missa de início do seu ministério episcopal no dia do 62º aniversário do começo da guerra entre as duas Coreias e rezou especialmente pela reconciliação e a reunificação. Desde então, seu ministério está marcado pelo motor do martírio e pelas constantes referências ao tesouro da fé dos mártires, compreendido como testemunho autêntico para o qual todos os cristãos são chamados (seja qual for a sua condição ou estado de vida). Ao mesmo tempo, expressou o anseio do diálogo com vigor, além de convidar constantemente à reconciliação e pacificação para aliviar as tensões que ciclicamente sacodem a península.
Há outros dois aspectos que caracterizam seu enfoque pastoral: o respeito à vida e a missionariedade. O primeiro é um assunto particularmente importante para a Igreja coreana que, durante sua história, multiplicou seus esforços para sensibilizar a opinião pública diante da proliferação de centros de pesquisas em que são usados embriões humanos para a experimentação científica. O impulso missionário, sinal da maturidade de uma Igreja particular, dirigiu-se especialmente para o continente asiático.
Yeom respondeu comovido e com humildade ao convite do papa Francisco, citando seu lema episcopal: “Amen. Veni, Domine Iesu!”, que provém do Apocalipse de São João. A frase segue acompanhada por um escudo que representa, através de uma Cruz, os Santos Mártires coreanos, vítimas da perseguição religiosa no século XIX, e, através de uma pomba entre duas estrelas, o espírito de paz que invoca a esperada reunificação das duas Coreias.
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Pastor do Martírio e da reconciliação, as marcas do novo cardeal de Seul - Instituto Humanitas Unisinos - IHU