07 Janeiro 2014
"Muitos dos primeiros serão os últimos e os últimos são os primeiros". O Evangelho de Mateus (19, 23-30) parece bem apropriado para descrever a retrocena da nomeação, pelo Papa Francisco, do novo secretário geral, ad interim, da Conferência Episcopal Italiana - CEI, Nunzio Galantino, bispo de Cassanoa allo Iorio.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 06-01-2014. A tradução é da IHU On-Line.
Não somente porque a pequena diocese na provincia de Cossenza não está, certamente, entre as primeiras da Itália e nunca esteve. Nem pela sua grandeza, nem por sua importância. No Epistolário de São Gregório Magno se fala de uma organização eclesiástica na região no século V, mas ela dependia diretamente do Papa.
D. Nunzio Galantino era o último da lista tríplice dos nomes que o presidente da CEI, cardeal Angelo Bagnasco apresentara ao Papa. E ele tinha somente um 'voto' dos seus co-irmãos no episcopado. Grande foi a surpresa quando Francisco o escolheu como secretário geral da CEI.
Os tempos e as modalidades da designação foram um choque para a cúpuda da CEI. A nomeação do secretário (em substituição de Mariano Crociata, destinado, numa decisão sem precedentes, a uma diocese secundária como aquele de Latina) era programada para o fim do mês de janeiro quando, como é o hábito, se reuniria o Conselho Permanente da CEI, o pequeno parlamento dos bispos.
Mas o Papa chamou o cardeal de Gênova e lhe pediu que acelerasse o processo. Disse-lhe claramente que não havia tempo para perder. Bagnasco se pôs no telefone e fez rápidas consultas informais. Com os estatutos anuais, ao contrário, o secretário da CEI é escolhido pelo Papa depois que o Conselho Permanente se expressa formalmente sobre alguns nomes propostos pela Presidência.
As consutlas para o substituto de Crociata aconteceram, no entanto, por telefone. E como se não bastasse, a escolha de Francisco foi a do último nome da terna, ou seja, o nome de Galantino, "forte" de um só voto.
Francisco preferiu o outsider.
A nomeação foi feita, no momento, ad interim. E nos palácios episcopais de meia Itália se pergunta o que acontecerá no final do mês de maio, em Roma, quando se reunirá o Conselho Permanente.
No momento D. Galantino ("Padre Nunzio" é como ele gosta de ser chamado) continuará como bispo da sua diocese. Ou seja, secretário da CEI mas também "pastor" daquela Igreja que Bergoglio não quer que bispos e padres se reduzam a ser "funcionários", mas que tenham "cheiro das ovelhas".
O Papa escreveu uma carta e acompanhou a nomeação de Galantino com um gesto absolutamente inédito. Escreveu aos padres e aos fieis da diocese da Calábria, explicando que o bispo deles é chamado a "uma missão importante na Igreja italiana".
"Sei o quanto vocês o amam - escreve o Pontífice com um tom que faz ressoar o afeto que se lê em algumas cartas dos Apostólos aos primeiros cristãos - e sei que vocês não gostarão que ele lhes seja tirado. Eu compreendo vocês. Por isto eu quis lhes escrever diretamente como que pedindo permissão".
Papa Bergoglio se disse também "comovido" com a ligação do neosecretário com a sua diocese: "Peço-lhes que me compreendam... e que me perdoem".
Sobre sua nomeação Galantino brincou: "Penso que o Papa foi muito corajoso".
Hoje, festa da Epifania, se proclama nas leituras que, com o nascimento de Jesus, Belém não será mais recordada como a menor de todas as cidades de Israel. No Antigo Testamento, Jacó foi preferido ao primogênito, Esaú. Um pouco como Galantino em relação aos outros candidatos melhor "colocados". "Preferido". Como está escrito no brasão papal: "Misereando atque elidendo".
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