06 Janeiro 2014
Michael Rogers, correspondente da revista America, editada pelos jesuítas americanos, narra o encontro com o Papa Francisco na celebração da missa do dia 3 de janeiro de 2014, na Igreja "del Gesù", em Roma. A missa, no dia do Santíssimo Nome de Jesus, foi em ação de graças pela canonização de Pedro Fabro.
A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o relato.
Hoje estive na presença de alguém que, em apenas nove meses, se tornou um dos meus heróis. Este alguém caminhou até a capela onde eu normalmente ia e desarmou a nós todos em um momento no qual deveríamos estar apreensivos. Estávamos prestes a conhecer o homem que grande parte de nós acredita ser o vigário de Cristo na terra. Hoje me encontrei com um dos meus heróis, e com as poucas palavras que trocamos fiquei profundamente consolado. Fui consolado não com um “Buon Giorno” ouvido, mas por estar na presença de um homem cujas ações, no curso dos últimos nove meses, me desafiaram não só a ser um sacerdote melhor, um jesuíta melhor, mas, principalmente, a ser um homem melhor.
Hoje estive na presença do Papa Francisco e compreendi – no mais completo e rico sentido que um dia poderia imaginar – o que é ser, realmente, um herói.
Há uma música composta por Bonnie Taylor, de 1984. Nela a artista lista todas as qualidades de um herói, dizendo que deveriam ser fortes, rápidos e competentes na luta. Mas e quanto a um herói que caminha a passos vagarosos, que frequentemente recebe ajuda para subir escadas íngremes e que pede para reconhecermos os inimigos como irmãos em meio a um mundo de guerra? Olhamos para os super-heróis como arquétipos de heróis, aqueles que possuem poderes sobrenaturais e que preenchem as páginas das revistas em quadrinhos, e mesmo as nossas narrativas bíblicas; homens e mulheres que subvertem, com consistência, a ordem natural.
Há aqueles heróis da Antiguidade, como Ulisses (da mitologia grega) e Cuchulainn (de uma lenda celta), que, como humanos, superaram dificuldades de modo inconcebível. Mas e quanto a um herói que é simplesmente um alguém, que anda em meio a outras pessoas comuns, que não voa nem enfrenta ciclopes? E quanto a alguém que não é especialista em artes marciais nem inspira tal medo que fizesse seus inimigos temerem se aproximar, até mesmo após sua morte? Como podemos atribuir sentido a um herói fora destas descrições?
A verdade pode ser bem simples, estando naquela grande busca pela integridade, naquela grande atração existencial, que cada um de nós – crente ou não – sentimos. A resposta pode ser que, no Papa Francisco, muitos de nós enxergamos o que esperamos de nós mesmos. Não como papa, bispo ou outra figura religiosa, mas como pessoa que é radicalmente livre porque é alguém de uma integridade radical.
Vemos no Papa Francisco um homem radicalmente corajoso porque não tem medo de admitir suas falhas, mas mais ainda porque não tem medo de nos levar em suas próprias tentativas de liberdade ao exato fundamento de seu ser. Este não é o “Übermensch” de Nietzsche, nem mesmo o cavaleiro existencial da fé, de Kierkegaard. Vemos em Francisco algo que chamamos de esperança para. Trata-se de alguém que é radicalmente livre, alegre e de conteúdo, um populista que não teme ser inteligente. Em suma, no Papa Francisco vemos um homem que é, ao menos até agora, radical, corajosa e descaradamente humano. Ser ele mesmo o fez um herói. Para muitos de nós, Francisco é alguém que nos dá esperança.
Hoje estive com um dos meus heróis e, logo depois que apartamos as mãos, ele falou algo muito simples do que eu devo ser como jesuíta. Em sua homilia Francisco disse que ser um jesuíta, ao seguir a Cristo, é “pensar como Ele, amar como Ele, ver [as coisas como Ele as vê], andar como ele. Quer dizer, é fazer o que Ele fez, e com os mesmos sentimentos que tinha, com os sentimentos do Seu coração”. Em outras palavras, como escrito no martírio de São Policarpo, seja forte e aja como homem. Seja aquela pessoa íntegra, destemida o suficiente para acreditar que você também poderá ser a pessoa que deseja alcançar. Hoje estive na presença de um dos meus heróis, e parece-me que a cada dia ele está nos ensinando, um pouco mais, do que realmente vem a ser um herói.
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Para Francisco na Sacristia da Igreja 'del Gesù' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU