20 Dezembro 2013
A pressão por reforma na era Francisco continuou a reunir forças nesta quinta-feira ao mesmo tempo em que o Vaticano anunciava ter firmado contrato com duas grandes empresas internacionais de consultoria para pensar a reorganização de suas operações de comunicação, bem como para elevar seus procedimentos contábeis ao nível de padrões internacionais.
A reportagem é de John L. Allen Jr. e publicada por National Catholic Reporter, 19-12-2013. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Entre outras coisas, os movimentos confirmam que a relutância tradicional vaticana de comprometer sua independência, ao permitir pessoas de fora da instituição examinar seus trabalhos internos, deu lugar a um desejo novo de lançar mão da expertise secular sob o papado de Francisco.
Nos dois casos, as empresas de consultoria foram selecionadas por uma comissão papal para estudar as estruturas econômicas e administrativas do Vaticano estabelecidas pelo atual papa em julho.
O Vaticano disse que os contratos foram adjudicados após um “processo competitivo de licitação”, mas não especificou quanto está sendo pago para as empresas prestadoras de serviço.
O comunicado afirma que a empresa de consultoria McKinsey & Company, com sede nos Estados Unidos, foi contratada para traçar uma “integração” dos vários meios de comunicação vaticanos, com a ideia de se ter uma operação mais “funcional, eficiente e moderna”.
Por muito tempo, a natureza fragmentada das comunicações do Vaticano tem sido fonte de consternação. É um setor de relações públicas multifacetado, formado por diversas frantes: a Sala de Imprensa da Santa Sé; o jornal L'Osservatore Romano; a Rádio Vaticano; o Centro Televisivo do Vaticano; o Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais; e ainda a casa publicitária do Vaticano, a Libreria Editrice Vaticana.
Em junho de 2012, o Vaticano também criou um novo cargo, o de assessor de comunicação, dentro da Secretaria de Estado, aproveitando o jornalista Greg Burke para o papel.
De modo geral, cada um desses departamentos opera por conta própria, o que muitos analistas acreditam contribuir não somente para a duplicação desnecessária de recursos, como também para ocasionalmente embaralhar notícias, comunicados.
Presumivelmente, parte do trabalho que será feito pela empresa McKinsey irá estar focada na potencial redução de custos, em particular no que diz respeito ao jornal e ao serviço de rádio. A cada ano a Rádio Vaticano representa um dos maiores itens no orçamento da cidade-Estado, com despesas que, normalmente, chegam próximos aos 30 milhões de dólares.
O comunicado disse que o estudo da empresa McKinsey será conduzido com “estreita colaboração” junto dos vários departamentos de comunicação.
No mesmo comunicado, o Vaticano disse ter fechado contrato também com a empresa de auditoria KPMG para estudar os procedimentos contáveis de todas as entidades dentro da Santa Sé no intuito de garantir que elas sejam trazidas ao nível de padrões internacionais. No momento, tanto o Instituto para as Obras da Religião, chamado de banco do Vaticano, como a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica – APSA, que lida com as propriedades e os investimentos do Vaticano, estão engajados em análises internas recolhendo informações.
Tais análises foram também confiadas a uma empresa de consultoria externa, a Promontory Financial Group.
Provavelmente, estes dois departamentos irão também estar sujeitos a uma inspeção local pela Autoridade de Informação Financeira, a nova unidade de vigilância criada sob o papado de Bento XVI e liderada por um especialista em antilavagem de dinheiro, o suíço René Bruelhart.
Numa entrevista concedida na quarta-feira ao site National Catholic Reporter – NCR, Bruelhart disse que uma inspeção do banco irá acontecer no “início de 2014” e que uma decisão final não foi feita no que diz respeito à APSA. Todavia, algum tipo de mudança, revisão, é “provável” ocorrer.
Presumivelmente também, uma função das análises da empresa KPMG será garantir que os mesmos padrões sejam aplicados a outros departamentos do Vaticano, especialmente aqueles que lidam com quantias significativas de dinheiro.
Tanto a McKinsey quanto a KPMG tem um histórico com o Vaticano.
A McKinsey foi contratada anos atrás para dar recomendações de gestão ao governo vaticano, que é a responsável por supervisionar os 108 acres de espaço físico que possui e dos museus e correios.
Quando o governo da cidade-Estado sofreu críticas por suposto gasto e práticas obscuras em meio ao escândalo de 2011, com vazamento de informações confidenciais, autoridades citaram a implementação das recomendações da empresa McKinsey como prova de seu compromisso visando à reforma. Na época, a McKinsey recusou um pedido do site NCR para comentar a natureza de tais recomendações, citando razões de confidencialidade.
Enquanto isso, a empresa KPMG certificou, recentemente, o primeiro relatório anual divulgado ao público pelo banco do Vaticano.
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Vaticano contrata consultorias para implementar reformas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU