16 Dezembro 2013
A revista acusa Francisco de pessimismo devido à exortação apostólica Evangelii gaudium.
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 14-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A The Atlantic é uma instituição jornalística e cultural norte-americana. Fundada em 1857, a revista já acolheu escritores como Mark Twain e, em 1862, poesias e baladas destinadas a se tornarem célebres peças de história como The battle Hymn of Republic. Na sua última edição online, ela aborda Francisco: e o acusa de pessimismo, por causa da sua exortação apostólica Evangelii gaudium, em um artigo de Marian Tupy.
Segundo o autor, durante os seus primeiros nove meses de reinado, o Papa Bergoglio "se situou exatamente no centro das conversas centrais do nosso tempo: sobre riqueza e pobreza, equidade e justiça, transparência, modernidade, globalização, o papel das mulheres, a natureza do casamento, as tentações do poder". Trata-se de uma citação do porquê a revista Time o nomeou pessoa do ano. E, realmente, escreve Marion Tupy, "ele fala com o coração". E, na Evangelii gaudium, ele deplora a "desigualdade, pobreza e violência no mundo". Mas aqui está o problema: "O mundo distópico que Francisco descreve, sem citar uma única estatística, não está de acordo com a realidade".
E quando ele apela "aos nossos medos e pessimismo", o papa "não reconhece o escopo e a velocidade do progresso humano". Que podem ser medidos em um declínio da desigualdade global e da violência, ou do crescimento da prosperidade e das expectativas de vida.
Segundo Tupy, a tese de Evangelii Gaudium é "simples: o capitalismo 'desenfreado' enriqueceu a poucos, mas fracassou com os pobres". Ele cita uma passagem da exortação apostólica: "Não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam algumas doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos chamados países ricos. A alegria de viver frequentemente se desvanece; crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente".
É uma visão de mundo que a The Atlantic nega. Mesmo nos EUA, vistos como o paladino do liberalismo, "o governo redistribui cerca de 40% de toda a riqueza produzida nos EUA, 7% a mais do que há um século". E os ricos contribuem com "muito mais do que o dízimo bíblico". E todos os pesquisadores acadêmicos "concordam que a desigualdade global está em declínio. Isso porque 2,6 bilhões de pessoas na China e na Índia estão mais ricas do que costumavam estar. As suas economias estão crescendo muito mais rápido do que as de suas contrapartidas do Ocidente". E isso aconteceu "paradoxalmente (…) depois que a Índia e a China abandonaram as suas tentativas de criar a igualdade mediante o planejamento central". Deixando que as pessoas tivessem dinheiro, eles "incentivaram as pessoas a criar mais riqueza".
Depois, a pobreza. Segundo os pesquisadores da Brookings Institution, a ascensão das economias emergentes "levou a uma queda dramática da pobreza global". De 2005 a 2010, o número total de pobres caiu cerca de meio bilhão, passando de 1,3 bilhão para menos de 900 milhões. "Uma redução da pobreza dessa magnitude não tem paralelo na história". Cerca de 4,9 bilhões de pessoas vivem em países que quintuplicaram seu PIB ao longo dos últimos 50 anos.
E, ao contrário do que possa parecer, a violência também diminuiu. Essa, ao menos, é a tese de The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined, um livro de 800 páginas de Steven Pinker, da Universidade de Harvard. "As guerras tribais eram nove vezes mais letais do que a guerra e o genocídio no século XX. A taxa de homicídios na Europa medieval era 30 vezes maior à de agora. (…) Estupros, crimes de ódio, tumultos mortais, abuso de crianças – tudo isso declinou substancialmente".
Finalmente, as doenças. Sarampo, pólio e cólera estão sob controle, e também na luta contra o HIV/Aids há progressos. "Cerca de 10 milhões de pessoas, majoritariamente africanos, estão sendo tratados com terapias antirretrovirais – uma intervenção financiada principalmente pelo Ocidente".
E a expectativa de vida está globalmente em 68 anos, quando, no início do século XX, "mesmo nos países mais ricos (…) raramente ultrapassava os 50 anos".
"O Papa Francisco tem um grande coração, mas a sua credibilidade como uma voz de justiça e de moralidade seria incomensuravelmente melhorada se as suas declarações se baseassem em fatos".
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Revista The Atlantic critica o papa. ''O papa é pessimista e não se baseia em fatos'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU