20 Novembro 2013
A festa de Nossa Senhora da Saúde, que se celebra todo 16 de novembro na Chiesa della Maddalena, joia barroca atrás do Panteão, foi realizada este ano em um clima de aflição generalizada. Para os irmãos camilianos, "ministros do sofrimento" da batina preta com cruz vermelha no peito, são dias de autêntico suplício. O padre superior, Renato Salvatore, ainda está na prisão sob a acusação de ter ordenado o sequestro de dois coirmãos, padre Rosario Messina e padre Antonio Puca. "Só agora vocês descobriram como os camilianos são importantes", lamenta o irmão Carlo, responsáel pelas relações públicas.
A reportagem é de Rita Di Giovacchino, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 17-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Entre estuques dourados e volutas rococós, sob o olhar severo do padre Camilo de Lellis, os irmãos dizem que é tudo culpa de Paolo Oliverio, negociador sem escrúpulos que o padre Salvatore tinha nomeado como promotor especial da Congregação há apenas um ano.
Mas o sequestro agora é apenas um capítulo, nem mesmo o pior, de uma investigação que vai se somar aos muitos escândalos que ameaçam abalar a Igreja do Papa Francisco. Uma pesquisa realizada pelo promotor Giuseppe Cascini, da DDA romana, vasculhando os balanços dos camilianos, já certificou déficits milionários por atrás dos quais se entrevê a sombra de paraísos fiscais, investimentos arriscados em imóveis adquiridos com dinheiro de origem duvidosa, tráficos com personagens do submundo romano.
De Flavio Carboni ao filho Marco. Pior ainda, com o clã da família de Ernesto Diotallevi, recém-culpado pela apreensão de 25 milhões de euros, enquanto as mãos da Camorra e da 'Ndrangheta se estendem sobre a gestão dos hospitais na Campania e a Sicília, fortaleza do patrimônio camiliano.
Depois de cinco séculos de frutuosa autonomia, a Santa Sé poderia decidir comissionar a Congregação. Por trás do sequestro dos dois irmãos, além do resultado da votação do padre Salvatore, poderia se esconder uma guerra entre dois grupos dentro dos camilianos, suspensos entre o passado e o futuro.
Entre uma velha gestão habituada a gerir os "negócios" na sombra dos assessorados regionais, brincando com autorizações e reembolsos, e aqueles que, nesta era de crise, se deixaram enganar pela promessa de enriquecimento fácil. Do outro lado do fio, o padre Rosario Messina, siciliano de origem, fidelíssimo do ex-padre geral Monks, representa o passado e, com indisfarçável satisfação, comenta o desastre.
O padre Rosario Messina é um dos dois irmãos sequestrados. "Estou entristecido pelo padre Salvatore, que humilhação", conta ele ao Fatto. "Eu estou agora em Crotone, envolvido na construção de um novo centro. Eu tinha dito que aquele Oliverio não me agradava". Por isso ele negara o apoio ao padre Salvatore e ficara do lado do padre Monks? "Sim, mas em serenidade. Além disso, entre nós, há o costume da rotação. Antes havia o padre Monks, depois o padre Salvatore". Ele suspira: "Eu estava mais em sintonia com ele, todo um outro nível".
Porém, o padre Messina estava um pouco preocupado com aquele interrogatório, no quartel da Via Depero. Até agora, o grande acusado pelo déficit de 40 milhões de euros do hospital de Casoria era ele, embora Norgini e Di Marco, os financiadores infiéis, ao invés de interrogá-lo de verdade, fingiram.
"Fatos velhos, já esclarecidos. Eu dirigi aquele hospital de 2005 a 2010. A questão dos reembolsos pela Região da Campania é uma história complicada, mas neste país acontecem coisas mais graves...".
Ele não tinha suspeitado daquele interrogatório justamente no dia das eleições? "A primeira coisa que não se encaixava era que quem o procedia era a Guarda de Finanças em Roma. Os fatos competiam à Procuradoria de Nápoles. Depois, me fizeram voltar atrás com o celular desligado... Mas eu não tinha entendido que era um complô".
Um complô que envolvia até mesmo o seu ecônomo, o padre Li Calzi. O padre Messina não admite, mas se alegra. Agora que os suspeitos se afastaram da operação padrão do hospital de Casoria, que estava prestes a arrastar a Ordem de São Camilo em um escândalo, diante de fatos muito mais graves, ele diz que a única coisa que lhe desagrada foram as fofocas sobre uma "senhora muito bem casada".
Oliverio, nas interceptações, aludia à "paixão" do idoso irmão pela farmacêutica do hospital ("Você entendeu, esses irmãos, aos 80 anos, ainda 'pastam'. Roubam dinheiro e compram uma villa para a amiga..."). Palavras que o deixam indignado: "Insinuações vulgares... Eu descobri que sou namorado. Essa senhora tem uma casa muito comum e paga uma hipoteca. É uma profissional especializada em análise molecular".
Mas havia algum problema em Casoria, a partir da ativação de um pronto socorro sem autorização. "Bobagens, os fatos graves são outros", insiste ele. Talvez ele tenha razão, visto que a investigação já envolve mafiosos, parlamentares, maçons, gerentes de futebol, funcionários corruptos. A hipótese de crime é de apropriação indevida, e a acusação de lavagem de dinheiro paira pelo ar.
Segundo o Reportime, entreveem-se cruzamentos com o grupo da Magliana e se indica o nome de Gianni Sabetti, empresário envolvido no escândalo do lixo que acabou em Nápoles com a prisão do ex-subsecretário no hospício. Há, porém, o ex-deputado do PDL, Alessandro Pagano, que nos remete ao hospital de Casoria, para um projeto entre o Ismett [Instituto Mediterrâneo para os Transplantes e Terapias de Alta Especialização] e o hospital dos camilianos. Em suma, tem para todos os gostos.
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Religiosos camilianos. Sequestro e negócios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU