15 Novembro 2013
Obstáculos à ajuda humanitária às vítimas do tufão ameaçavam paralisar as operações de resgate na área mais devastada das Filipinas na quarta-feira, com a ajuda se acumulando, mas com poucas formas de distribuí-la, abundância de gasolina, mas sem comerciantes dispostos a vendê-la, e um afluxo de voluntários de emergência, mas nenhum lugar para abrigá-los.
A reportagem é de Keith Bradsher e Rick Gladstone, publicada no jornal The New York Times e reproduzida pelo portal Uol, 14-11-2013.
Veja a trajetória do Haiyan
A crescente frustração com a entrega de ajuda cinco dias após o tufão Haiyan ter atingido o país provocou apelos da principal representante da ONU ao prefeito de Tacloban, que implorou a ele que persuadisse os donos de postos de gasolina a abrirem, para que os comboios de ajuda possam dar início a uma expansão de grande escala pela cidade portuária devastada de 220 mil habitantes e até as regiões do interior. Os postos de gasolina contam com combustível em seus tanques, mas os proprietários temem roubo e violência caso reabram.
"Nós precisamos de combustível, para termos algum tipo de centro de reabastecimento", disse a autoridade de ajuda, Valerie Amos, ao prefeito, Alfred S. Romualdez, após chegar aqui para um levantamento da situação. Romualdez lhe disse que a cidade não tinha como receber o afluxo de trabalhadores de ajuda, com praticamente nenhum veículo disponível para trazê-los do aeroporto, ao mesmo tempo que comida e água estão acabando.
"Eu peço àqueles que estão vindo para cá, 'Por favor, sejam autossuficientes, porque não há nada'", ele disse.
O conselho do prefeito aos moradores foi fugir para outras cidades e procurarem abrigo com parentes se pudessem, dizendo que as autoridades locais estão tendo dificuldade para fornecer água e comida suficientes e estavam tendo dificuldade para manter a lei e a ordem.
A paralisia foi sintetizada pela primeira tentativa em Tacloban de realizar um enterro em massa das vítimas do Haiyan, cujos cadáveres passaram dias apodrecendo nas ruas e sob pilhas de escombros. A tentativa terminou em fracasso, à medida que os caminhões que transportavam mais de 200 cadáveres foram forçados a voltar quando foram recebidos por tiros nos limites da cidade. A identidade dos atiradores não foi revelada.
Cobertos com lonas plásticas pretas, os corpos foram depositados em um necrotério improvisado ao ar livre, aos pés de um morro em cujo alto fica a prefeitura, de onde exalavam um forte odor.
A paralisia em Tacloban, particularmente em relação ao combustível, foi reconhecida pelo governo americano, que está exercendo um grande papel no esforço de emergência, usando aviões de carga militares para canalizar a ajuda e evacuar os moradores mais vulneráveis. Em uma coletiva por telefone realizado em Washington, um alto funcionário americano designado para o esforço disse que o fornecimento de combustível na cidade "está em nosso radar -é uma parte importante do atoleiro logístico que estamos tentando superar".
Outro alto funcionário americano que participou da coletiva disse que o número de pessoal americano não uniformizado em terra nas Filipinas é atualmente cerca de 300, mais que triplicaria para 1.000 nos próximos dias, com a maioria vindo da base da Marinha em Okinawa. O funcionário também disse que os Estados Unidos estavam fornecendo transporte militar para os soldados filipinos designados para a zona de desastre, que corta o país ao meio.
Os funcionários americanos também disseram que a rota por terra para Tacloban foi reaberta, o que ajudará a aliviar o gargalo no aeroporto.
"Era como espremer suco de laranja por um canudo", disse um. "Agora temos mais canudos."
Grupos internacionais de ajuda humanitária disseram que estão aumentando rapidamente sua resposta à tempestade em Tacloban e outros lugares. A Médicos Sem Fronteiras, o grupo médico com sede em Paris, disse que suas equipes viajaram de carro, barco, avião e helicóptero até algumas das áreas mais distantes do norte da Ilha de Cebu, leste da Ilha de Samar, Ilha Panay e à província de Leyte, no leste, às quais nem o governo filipino e nem outras agências conseguiram chegar. As equipes encontraram desespero, disse o grupo em uma declaração. A aldeia de Guiuan, em Samar, foi devastada, e metade de Roxas City, em Panay, foi destruída.
"O acesso é extremamente difícil e impede as pessoas de receberem ajuda", disse Natasha Reyes, a coordenadora de emergência do grupo nas Filipinas.
Apesar dos problemas em Tacloban, o Programa Mundial de Alimentos da ONU disse na quarta-feira que conseguiu fornecer pacotes família de arroz e produtos enlatados para quase 50 mil habitantes e que 500 toneladas de arroz estavam a caminho.
Romualdez disse que a cidade precisa desesperadamente de caminhões e motoristas para distribuição dos alimentos que estão se acumulando no aeroporto, assim como mais caminhões, equipamento pesado e pessoal para recolhimento dos cadáveres em decomposição nos escombros por toda a cidade.
"Eu tenho que decidir em toda reunião o que é mais importante, os bens de ajuda ou o recolhimento dos cadáveres", ele disse.
Jerry Sambo Yaokasin, a segunda autoridade na hierarquia municipal, disse em uma entrevista que os soldados filipinos e a polícia podem ser insuficientes para garantir a segurança em Tacloban, ao mesmo tempo em que tentam chegar a outras comunidades costeiras para avaliar os danos. Ele sugeriu que forças estrangeiras podem ser necessárias, até mesmo para fornecer segurança para a reabertura dos postos de gasolina.
"Se os Estados Unidos vierem, se for autorizado que venham, ou se a ONU puder vir, isso nos ajudaria muito a promover a segurança na cidade", ele disse.
As Filipinas foram uma colônia da Espanha e depois dos Estados Unidos, e qualquer sugestão de que possa precisar de forças estrangeiras pode se transformar em uma questão de grande peso emocional aqui. Romualdez discordou de Yaokasin sobre a necessidade de forças de segurança estrangeiras. "No momento, isso não é necessário", ele disse.
O país conta com uma das populações civis mais fortemente armadas do mundo, poucas regulações eficazes de controle de armas e uma tradição de uso da violência em disputas pessoais.
Com os postos de gasolina fechados, gasolina ou diesel, a qualquer preço, desapareceram quase completamente, imobilizando tanto os veículos de ajuda quanto os automóveis particulares. Pessoas começaram a extrair combustível dos veículos danificados ou virados durante o tufão.
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Paralisia na ajuda humanitária marca Filipinas após passagem de tufão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU