13 Novembro 2013
Pregação após pregação, o Papa Bergoglio, na missa que celebra todas as manhãs em Santa Marta, traça o perfil do cristão corrupto, substancialmente alguém que pisoteia a moral e se comporta de modo duplo, falso, hipócrita, preocupando-se em preservar uma imagem pública irrepreensível.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 12-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Desta vez, Bergoglio se voltou contra os chamados "sepulcros caiados", não importa se seculares ou religiosos, políticos ou administradores. A pior coisa que o papa detecta é que, muitas vezes, essas pessoas, depois de terem embolsado propinas, lavam a própria consciência fazendo beneficência. Como se fossem inconscientes dos pecados cometidos.
"É a vida dupla de um cristão que faz muito mal, muito mal. 'Mas eu, dizem, sou um benfeitor da Igreja! Ponho a mão no bolso e dou à Igreja'. Mas depois, com a outra mão, rouba: do Estado, dos pobres. Rouba. É injusto. Essa é a vida dupla. E este merece – diz Jesus, não sou eu que digo – que lhe seja posta uma pedra de moinho no pescoço e seja jogado ao mar".
Francisco, que, como cardeal de Buenos Aires, fizera da luta contra a corrupção um cavalo de batalha, dedicando ao fenômeno social dezenas de discursos públicos, também como papa demonstra querer continuar percorrendo esse caminho mais decisivo do que nunca para sensibilizar a comunidade cristã.
Em Santa Marta, ele mencionou várias vezes o evangelho. "Jesus, ao corruptos, se dirigia dizendo que eles eram sepulcros caiados, aparentemente bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos mortos e de podridão. E um cristão que se orgulha de ser cristão, mas não tem uma vida de cristão, é um desses corruptos".
Coerência
O papa lamenta ter diante dos seus olhos muitos exemplos de pessoas que "fazem mal à Igreja! Cristãos corruptos, padres corruptos". Os danos que eles produzem são múltiplos, mas o pior dano é que "não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade".
Entre as características do corrupto, está a falta de coerência. Como cardeal, Bergoglio um dia disse, utilizando uma frase de efeito, que os corruptos são aqueles que submeteram os seus vícios a um acelerado curso de boas maneiras, prosseguindo assim a uma autoabsolvição pessoal, porque, afinal, "todo mundo faz isso".
Na semana passada, sobre o mesmo assunto, ele tinha trovejado contra a prática das propinas, comparando-a ao vício das drogas: começa sempre com pouco e acaba por nos tornar dependentes da deusa corrupção – ele a tinha chamado assim –, um ídolo diretamente ligado ao deus dinheiro. "O dinheiro corrompe". "A avidez do dinheiro está na raiz de todos os males".
A saída dessa espiral, segundo Bergoglio, é oferecida sempre pelo Evangelho, através do arrependimento, porque Jesus "nunca se cansa de perdoar e nos aconselha" a fazer o mesmo. Quando Jesus pede para perdoar sete vezes por dia, observou, ele "faz um retrato de si mesmo. Ele perdoa", mas também diz: "Ai daquele que causa escândalos". O papa não fala de pecado, mas de escândalo, que é outra coisa. "A diferença é que quem peca e se arrepende, pede perdão, se sente fraco, se humilha, e pede justamente a salvação de Jesus".
Quem não se arrepende e continua na duplicidade é "de uma podridão envernizada: essa é a vida do corrupto. E Jesus simplesmente não dizia 'pecadores' a estes. Dizia-lhes: 'Hipócritas'". Para eles, nenhuma salvação.
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O papa contra ''os cristãos de vida dupla'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU