09 Novembro 2013
Em uma agenda para a assembleia de outono da hierarquia americana que, não fosse por isto seria maçante, um dos itens foi tema de muita discussão, dentro e fora da Conferência Norte-Americana dos Bispos Católicos.
Após três anos da presidência do Cardeal Timothy Dolan, de Nova Iorque, os bispos se reunirão para eleger um novo chefe e uma série de outros líderes.
A questão a ser discutida é básica: Quem irá liderar esse grupo?
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 06-11-2013. A tradução é de Gabriel Ferreira.
Mais especificamente: A nova liderança da Conferência manterá o status quo, permitindo que ela seja, nas palavras de um dos antigos membros, “definida por aquilo a quem ela se opõe?” Ou tal liderança irá, agora nas palavras de um dos presidentes anteriores da Conferência, “abraçar o tom e o estilo do Papa Francisco?”
Ou ainda, segundo outro dos antigos membros, a nova liderança abraçará o diálogo e a colaboração, ou irá “se acanhar e resumir-se a preservar e proteger?”
Em sua assembleia durante os dias 11 e 14 de novembro, em Baltimore, os bispos elegerão um novo presidente, o vice, e bispos para as cadeiras de seis comitês. Cada um dos postos tem mandato de três anos. Tradicionalmente, o atual vice-presidente – atualmente o arcebispo de Louisville, Kentucky, Dom Joseph Kurtz –, é eleito como presidente.
A eleição de Dolan, em 2010, desprezou essa tradição, com os bispos votando 123-111 na terceira votação, elegendo-o ao invés do então vice-presidente, Dom Geral Kicanas, de Tucson, Arizona.
Fontes da Conferência dos Bispos dizem à NCR que certo número de prelados vê a presidência de Dolan como um fracasso ou com desapontamento. Elas dizem que uma pequena maioria elegeu Dolan a fim de apoiar uma agenda católica mais conservadora, pensando que Kicanas seria por demais conciliador para com católicos mais aos moldes do cardeal Joseph Bernardin.
As fontes dizem que Dolan sustentou os bispos em crescentes batalhas culturais, mas fez pouco para construir pontes entre as diferentes facções da Conferência.
O bispo de St. Petersburg, na Florida, Dom Robert Lynch, que serviu à Conferência como associado e secretário geral de 1984 a 1995, disse em uma entrevista que os votos dos bispos para não elegerem Kicanas o deixaram “mortificado, envergonhado e de coração partido”.
“Penso que seja útil que uma pessoa, antes de se tornar presidente, passe três anos como vice-presidente, que é visto e não ouvido, mas que leva tudo em conta”, disse.
Dois outros itens da agenda do encontro dos bispos reforçaram o tom dos últimos anos: a apresentação de uma já proposta “declaração formal” sobre a pornografia e uma atualização dos esforços para combater a igualdade do matrimônio pelo país.
Este ano, a escolha dos bispos indicados aparentemente percorre toda a gama de espectros e ênfases. Na lista estão:
- O arcebispo da Philadelphia, dom Charles Caput, que disse, em uma entrevista concedida à NCR em julho, que as pessoas da ala conservadora da Igreja “não estão muito felizes” com a eleição de Francisco.
- Dom Blase Cupich, bispo de Spokane, Washington, que rejeitou os pedidos para que a Igreja dos EUA desativasse suas ações na área da saúde por conta de uma ordem do Governo Federal acerca da cobertura de serviços contraceptivos. Ele descreveu tais pedidos como “táticas de intimidação”.
- O arcebispo de Baltimore, Dom William Lori que, como encarregado ad hoc do Comitê Episcopal para a Liberdade Religiosa, liderou a luta contra o decreto, que foi expedido pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, como parte da implementação da lei de reforma dos serviços de saúde.
- Dom José Gomez, arcebispo de Los Angeles, chefe do Comitê Episcopal para a Migração, que ficou em destaque no ano passado por conta do lobby no Congresso, em nome dos bispos, em favor das medidas de reforma na legislação referente à imigração.
De acordo com o arcebispo de Galveston-Houston, Joseph Fiorenza, que presidiu a Conferência de 1998 a 2001, o futuro da cena católica norte-americana vai depender do tom e do foco que os bispos decidirem adotar.
Os bispos podem estar procurando por líderes que “irão assumir o tom e o estilo do Papa Francisco e que querem que a Igreja nos Estados Unidos esteja em sintonia com aquilo que o Papa está tentando conquistar na Igreja Católica por todo o mundo”, disse.
John Carr, que trabalhou como o encarregado do Comitê Episcopal para as questões ligadas à justiça social de 1987 a 2012, disse que seus antigos colaboradores estão passando por “uma batalha por (...) qual tipo de liderança é apropriada para estes tempos”.
“Se você pensa que estamos certos – sobre a vida, a família e a justiça – então você envolve e convence”, disse Carr, que é agora o diretor da Iniciativa Católica sobre Pensamento Social e Vida Pública da Georgetown University. “E você consegue. É isso o que é Francisco”.
“Se você pensa que estamos perdidos, então você se acanha, se protege e preserva o que tem”, continuou. “E ocasionalmente dispara alguns raios”.
Embora Fiorenza não tenha feito eco à linguagem bélica de Carr, ele disse que se os bispos querem “seguir mais de perto o estilo e a mentalidade do que agora está se tornando o ‘fator Francisco’ na Igreja”, eles precisam visar “um governo em um espírito de colegiado”.
A fim de corresponder à inflexão do Papa, disse Fiorenza, a conferência pode ter que começar a “mostrar uma boa vontade para o diálogo, mesmo com aqueles que não compartilham nossas crenças ou opiniões sobre as coisas”.
“Nós devemos ter aquela boa vontade para respeitar os outros, tendo um diálogo respeitoso mesmo com aqueles com os quais discordamos”, declarou.
A Irmã Sharon Euart, da congregação das Irmãs da Misericórdia, que trabalhou como secretária geral associada da Conferencia, de 1988 a 2001, disse que os bispos devem perseguir aquele senso de colegialidade consultando-se com várias outras organizações católicas dos EUA, com o objetivo de “identificar áreas de preocupação mútua e potencial colaboração”.
Os homens que os bispos vão eleger como seus novos líderes poderiam procurar as opiniões de outros líderes a fim de estabelecerem suas prioridades para os próximos três anos, disse Euart, que agora é coordenadora executiva da Canon Law Society of America, em Washington.
“O Papa Francisco tem enfatizado a consulta no governo da Igreja”, disse Euart, “ligar a decisão das prioridades da Conferência Norte-Americana dos Bispos Católicos à uma ampla consulta poder fortalecer o sentido de communio entre os fiéis”.
Lynch expressou desconfiança quanto à mudança de tom da Conferência dos Bispos, graças aos novos líderes, dizendo que a Conferência “tem servido à vontade de seus membros” – os bispos apontados para as dioceses dos EUA nas décadas passadas.
“Eu não vejo diversas mudanças nos próximos três anos”, disse ele. As prioridades não mudarão “enquanto não mudarem os membros e enquanto disserem ‘Essa agenda é uma coisa do passado, vamos nos importar com aquilo que está acontecendo mais acima e estabelecer as prioridades’”.
Além da eleição de seus líderes, os bispos votarão também, nesta assembleia, o orçamento de 2014 e a avaliação das dioceses do país, planejada para 2015. Os bispos estão programados também para aprovarem as novas traduções litúrgicas para os ritos da Confirmação e Matrimônio, os últimos em uma série de novos textos aprovados por bispos de todo o mundo anglófono, algumas vezes com longa oposição e debate, a partir da publicação pelo Vaticano, em 2001, de um novo conjunto de normas para a tradução dos originais em latim.
Também estão na agenda a declaração proposta acerca da pornografia e uma atualização do arcebispo de San Francisco, Dom Salvatore Cordileone, que dirige o subcomitê de Promoção e Defesa do Matrimônio.
John Gehring, que foi colaborou brevemente no setor de comunicação dos bispos nos anos 2000, declarou que a agenda para o encontro de 2013 mostra que “os bispos dos EUA têm sido definidos recentemente por aquilo que lhes opõe”.
Ao notar que os bispos não planejam abordar o tema da crise econômica ainda presente, Gehring disse que eles não estão “aproveitando a oportunidade de seguir, por assim dizer, o método de Francisco, e colocando os problemas relacionados à pobreza e à justiça econômica de volta ao primeiro plano de suas agendas”.
Uma declaração pastoral dos bispos dos EUA sobre a economia, submetida à votação na assembleia plenária do último ano, fracassou em angariar os dois-terços de votos necessários para a aprovação. Fiorenza criticou a declaração durante o encontro de 2012, dizendo que ela usava uma linguagem que seria “ridicularizada” no mundo acadêmico católico e fracassava em fazer referência à longa história do ensinamento católico acerca dos direitos dos trabalhadores de se sindicalizarem e de pressionarem por justos salários e condições de trabalho.
Gehring, que atualmente é o diretor do programa católico sem fins lucrativos Faith in Public Life, disse que se os bispos quiserem “enfatizar uma agenda católica mais ampla”, eles devem aceitar a sugestão do cardeal de Boston, Dom Sean O’Malley, que coordenou um encontro com cerca de 60 legisladores do estado de Massachusetts, em outubro, para construir alianças.
Referindo-se às notícias que dizia que O’Malley, diretor do Comitê Episcopal Pró-Vida, não mencionou o aborto durante o encontro, disse “Esse é um tipo interessante de exemplo do qual os outros bispos devem aprender”.
Gehring declarou também que as atuais mudanças na Igreja Católica foram “uma oportunidade incrível” para os bispos dos EUA.
“Minha verdadeira esperança é que os bispos moderados, que são frequentemente abafados por uma minoria barulhenta de guerreiros culturais, tomem de volta o microfone”, disse. Há uma oportunidade para trazer está voz de volta”.
Um item não está presente formalmente na agenda dos bispos em Baltimore: se os prelados que se espera que Francisco aponte para postos nos EUA nos próximos anos irão ou não apoiar aquelas fileiras moderadas.
Fiorenza asseverou: Nós esperamos apenas que o Espírito Santo guie o Papa em sua escolha dos bispos que ele apontará para os Estados Unidos”.
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Eleição da presidência da conferência dos bispos americanos. Novo tom ou acanhamento? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU