Kennedy e o Brasil

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29 Outubro 2013

Foto: http://glo.bo/Sfbfh

Há 50 anos, no dia 22 de novembro de 1963, uma sexta-feira, morria John Kennedy, presidente dos EUA, atingido por três tiros em Dallas. Lyndon Johnson assumiu a presidência, e, quatro meses depois, um golpe militar fez o Brasil mergulhar em 21 anos de ditadura. Como se sabe, o governo americano deflagrou na época a operação Brother Sam, revelada no Brasil, em 1976, por Marcos Sá Corrêa, então repórter do “Jornal do Brasil”. Tratava-se de uma força-tarefa americana para dar apoio logístico aos militares golpistas caso eles tivessem que enfrentar a resistência por parte de forças leais ao presidente João Goulart. Meio século depois, o historiador Carlos Fico, autor de O Grande Irmão: da operação Brother Sam aos anos de chumbo”, analisa a intervenção americana nos assuntos brasileiros, que continua até hoje.

A entrevista foi publicada na coluna de Ancelmo Gois, jornalista, pubicada no jornal O Globo, 27-10-2013.

Eis a entrevista.

Se Kennedy não tivesse sido assassinado, a Brother Sam teria acontecido?

Teria. Era uma política de Estado. Desde Eisenhower havia uma preocupação para que não surgissem novas Cubas na América Latina. Kennedy autorizou em 1962 preparativos para desestabilização e queda do governo João Goulart. Ele tinha uma ideia de que a América Latina era a região mais perigosa do mundo. Por influência do irmão Robert, ele ficou impactado pela estratégia de guerrilha, estudou muito o assunto. Em relação ao Brasil, isso implicava desestabilizar Goulart, inclusive mandando dinheiro para políticos de oposição. Kennedy passava uma imagem de renovação, mas a operação aconteceria mesmo se ele estivesse vivo.

A existência da operação influenciou Jango para que não houvesse reação armada ao golpe?

Foi decisiva. Ele foi avisado da operação por San Tiago Dantas (ex-ministro de João Goulart) com o golpe já em curso. Jango não resistiu porque tinha índole pacifista, mas também porque soube da decisão dos EUA de reconhecer o novo governo logo em seguida ao golpe.

A divulgação de que os EUA espionam e-mails até de presidentes mundo afora, inclusive no Brasil, é uma nova forma de intervenção?

Não mudou nada. Os EUA são um país bélico, vivem em estado de guerra. A reação da nossa presidente e da Angela Merkel à espionagem é retórica. As documentações de espionagem antes, durante e depois do golpe militar eram abundantes e sofisticadas. É lógico que a revelação de espionagem, como aconteceu agora, é sempre chocante. Mas os EUA são assim.