21 Outubro 2013
Entre as suas muitas outras inovações, Francisco tem despontado como "o papa dos telefonemas-surpresa", frequentemente telefonando para pessoas com as quais ele nunca realmente se encontrou para um bate-papo. Isso continuou em meados de outubro, quando Francisco telefonou para Andrea e Tahereh Sciarretta, um casal da cidade italiana de Chieti, que tem um bebê de 17 meses que sofre de um distúrbio espinhal grave e que tinha escrito ao papa sobre a sua situação.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 18-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Naturalmente, o Vaticano não anuncia esses telefonemas nem divulga transcrições, em parte porque é o próprio Francisco que faz as ligações, de modo que os seus assessores nem sabem que eles aconteceram até depois do fato.
Se o mundo fica sabendo da conversa é porque a outra parte diz algo, o que apresenta o risco de que qualquer coisa que o papa tenha dito possa ser distorcido no relato.
Por exemplo, os Sciarretta atualmente estão tentando garantir a terapia com células-tronco experimental para a sua filha, um procedimento que foi bloqueado pelo Ministério da Saúde italiano. Algumas reportagens sobre o telefonema do papa sugeriram que ele havia manifestado apoio ao seu pedido e até mesmo que ele tinha prometido intervir junto às autoridades italianas.
O padre jesuíta Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, foi obrigado a negar esses relatos "nos termos mais absolutos", dizendo que o papa tinha de fato telefonado para a família Sciarretta para expressar sua proximidade e prometer sua oração, mas que ele não tomou qualquer posição política.
O episódio ilustra uma profunda dor de cabeça para os responsáveis pela comunicação do Vaticano nos dias de hoje. Dado o estilo livre e espontâneo de Francisco e a sua propensão a se expressar fora dos canais habituais, como eles podem evitar a confusão sem tentar amarrar as mãos do papa – um exercício que, para quem conhece Francisco, provavelmente seria infrutífero em todos os casos?
Até certo ponto, Lombardi e outros encontram-se presos na seguinte dinâmica: "Você estará condenado se o fizer e também estará condenado se não o fizer".
Se eles tentarem esclarecer o que Francisco disse, as pessoas vão acusá-los de editar ou de corrigir o papa, culpando-os como os mandões do Vaticano que temem perder seu alcance sobre o poder, como consequência da sua recente e totalmente benigna tentativa de esclarecer algumas coisas da entrevista de Francisco ao jornalista italiano Eugenio Scalfari.
Por outro lado, se ficarem quietos, as deturpações podem se tornar uma metástase.
Uma solução seria se Francisco fizesse os seus próprios esclarecimentos, dada a generalizada "hermenêutica da suspeita" sobre as declarações provenientes de qualquer outra pessoa. A dificuldade com relação a isso, também ilustrada pelo caso Scalfari, é que Francisco pode se encolher ao fazê-lo, porque ele não quer constranger alguém. (Uma fonte que falou diretamente com Francisco sobre a entrevista disse que o papa reconheceu que as recordações de Scalfari eram um pouco "imaginativas" em algumas partes, atribuindo isso à idade avançada de Scalfari.)
Em todo caso, é improvável que o dilema desapareça. Parece claro que Francisco está disposto a correr o risco de ser mal interpretado ocasionalmente como o preço a ser pago por não construir muros ao seu redor para evitar o contato direto com o mundo exterior.
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O telefone do papa ataca novamente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU