17 Outubro 2013
Os Concílio na história entre Evangelho e poder: um subtítulo que já expressa com clareza a orientação do último livro de Luigi Sandri, o jornalista que sonha com um novo Concílio ecumênico e com uma Igreja finalmente livre do poder, apaixonada unicamente pelo Evangelho.
A reportagem é de Marco Davite, publicada na revista Riforma, das Igrejas evangélicas batista, metodista e valdense italianas, 18-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mil páginas dedicadas a todas as mulheres condenadas ao longo dos séculos à fogueira como bruxas, mandadas em nome de Deus à crudelíssima morte pela credulidade popular e pelo poder civil e eclesiástico.
Mil páginas densas de história, de teologia, de crônicas de lutas internas pelo poder que envenenaram a imagem da Igreja e afastaram milhões de crentes. Mil páginas que relatam, com uma prosa simples e convincente, dois milênios de história de uma instituição que teimosamente entrou no caminho da transformação de Igreja conciliar a monarquia absoluta, admiravelmente sintetizada na exclamação rabugenta de Pio IX: "Eu sou a tradição, eu sou a Igreja".
Uma afirmação que não pode deixar de repercutir outra, mais evangélica, do movimento Nós Somos Igreja, que, no nosso tempo, dá voz àquela alma conciliar que – embora sufocada – está sempre presente no povo de Deus. Conversamos a respeito com o autor, o jornalista Luigi Sandri.
Eis a entrevista.
Com o seu livro Cronache dal futuro, você nos acostumou a um pensamento criativo sobre os temas da Igreja de Roma: o que imaginou ao escrever este novo livro sobre os Concílio (Dal Gerusalemme I al Vaticano III, Ed. Il Margine, 2013)?
Eu imagino isto: um novo Concílio ecumênico autenticamente universal, já desejado pelo ex-secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Konrad Raiser, que eu chamo de "Jerusalém II", em que todas as Igrejas, sem primogenituras, se encontrem juntas para resolver os problemas que impedem a intercomunhão eucarística.
Uma bela utopia, um pouco como a Jerusalém celeste prefigurada no Apocalipse...
Eu não acredito. O mundo segue rápido, e as Igrejas, se ainda quiserem ser ouvidas, devem demonstrar que sabem se unir nas coisas fundamentais, antes de tudo na partilha eucarística, senão são motivo de riso.
Mais do que isso, fazem chorar... Mas talvez algum sinal de esperança pode vir das aberturas do Papa Francisco, que optou por se apresentar como bispo de Roma em vez de papa da Igreja universal?
Certamente há novidades nesse pontificado. Novidades que, porém, correm o risco de se dispersar se não forem recolhidas e relançadas por um novo Concílio Geral da Igreja de Roma, que eu chamo de Concílio Vaticano III. A Igreja Católica Romana deve aceitar ser uma voz entre outras e fazer um novo concílio geral que, obviamente, só pode valer para ela. Depois, todas as Igrejas juntas, interrogando-se sobre o Evangelho de Jesus, deveriam fazer um Concílio Ecumênico, cada uma com a sua própria voz, tentando ser testemunhas fiéis da mensagem cristã no nosso tempo. Acho muito significativa a fórmula do primeiro Concílio Ecumênico, o que nós chamamos de Jerusalém, em que os anciãos e os apóstolos usam esta fórmula: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...". Este deveria ser o novo rosto da Igreja.
Um caminho cheio de obstáculos, a julgar pelo estado atual do diálogo ecumênico...
Há mil razões para esperar, mas naturalmente as incrustações históricas, os jogos de poder que existem em todas as Igrejas, começando pela católica, são tão grandes que, às vezes, a esperança vacila.
* * *
Vacila, e com razão. A proposta de uma Igreja autenticamente conciliar é perdedora há mais de mil anos. É preciso uma fé inabalável para continuar a "esperar contra toda a esperança". Mas quem sabe o novo que avança neste pontificado "franciscano" consiga criar um terreno mais fértil também para uma semente tão obstinadamente ignorada.
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