03 Outubro 2013
A primeira reunião do Papa Francisco com os oito cardeais que o aconselham sobre a reforma da Igreja perpassou uma ampla gama de temas, incluindo a reforma da burocracia vaticana e o papel dos leigos, disse o Vaticano nessa quarta-feira.
A reportagem é de Joshua J. McElwee e John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 02-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O grupo também falou sobre a preparação de um estudo para melhorar o trabalho pastoral da Igreja junto às famílias, disse o porta-voz do Vaticano, o padre jesuíta Federico Lombardi.
O porta-voz ofereceu alguns detalhes das reuniões do grupo em uma coletiva de imprensa nessa quarta-feira. Mas Lombardi disse que os observadores não devem esperar muito mais informações sobre as sessões, dizendo que elas são um "conselho para o governo do papa".
As reuniões não devem gerar documentos para análise por parte dos fiéis, disse Lombardi. O papa irá comunicar quaisquer decisões tomadas como resultado do conselho dos cardeais de forma pessoal, disse ele.
"Temos que nos libertar da expectativa de documentos ou de decisões desse conselho", disse Lombardi. "Os frutos estão nas boas decisões do papa, tomadas no conhecimento das necessidades da Igreja universal, por parte dos cardeais e das outras pessoas que o papa possa consultar".
O grupo dos cardeais, conhecido oficialmente como o Conselho dos Cardeais, está se reunindo no Vaticano, pela primeira vez, de terça a quinta-feira. O encontro, o primeiro desse tipo, gerou especulações sobre que tipo de coisas poderiam estar na agenda dos cardeais ou que tipo de reformas poderiam resultar daí.
Na segunda-feira, o Vaticano anunciou que o papa havia formalizado a estrutura do grupo dos cardeais com uma carta formal no sábado, pedindo-lhes para ajudar a reformar a burocracia vaticana e "me ajudar no governo da Igreja universal".
Além das reuniões dos cardeais, o foco da coletiva de imprensa dessa quarta-feira também esteve na mais recente entrevista do papa, publicada nessa terça-feira pelo jornal italiano La Repubblica.
Na ampla entrevista, concedida a Eugenio Scalfari, o editor ateu do jornal, o papa toca diversos temas sensíveis, chamando a corte papal de "lepra do papado" e dizendo que o governo dessa corte é muito "Vaticano-cêntrico".
Respondendo a perguntas dos jornalistas nessa quarta-feira, Lombardi disse que o papa "não contesta" o que foi escrito. Se o papa quisesse questionar a precisão da entrevista, ele o teria feito, disse Lombardi.
O porta-voz também disse que o papa se sente livre para expressar-se de maneiras diferentes, confiando que o público entende que existem diferenças quando ele fala em diferentes âmbitos, das homilias às entrevistas, passando pelos ensinamentos oficiais.
"Eu acho que o carisma do papa é óbvio, assim como o seu desejo de se comunicar diretamente com as pessoas", disse Lombardi.
"Essa é uma mensagem muito clara do interesse do papa no diálogo sem preconceito", continuou Lombardi.
O porta-voz disse que as reuniões dos cardeais começaram nessa terça-feira quando o papa e os cardeais fizeram uma breve revisão da estrutura da Igreja desde o Concílio Vaticano II, realizado em Roma, de 1962 a 1965.
Outros temas discutidos, segundo Lombardi, foram: comunhão, participação e colegialidade na Igreja; a opção preferencial pelos pobres; e as diferentes responsabilidades de todos os membros da Igreja.
A reforma do Sínodo dos Bispos também foi um "tema principal" do primeiro dia de reunião, disse Lombardi. O Sínodo dos Bispos é um órgão consultivo dos bispos de todo o mundo, instituído depois do Concílio Vaticano II e destinado a aconselhar o papa no seu governo da Igreja.
O papa já disse várias vezes que gostaria de reformar esse órgão, que tem um secretariado permanente no Vaticano, mas não faz parte da burocracia central.
Falando ao secretariado em junho, o papa disse que ele e seus cardeais conselheiros precisam "encontrar um caminho para a coordenação entre a sinodalidade e o bispo de Roma".
Lombardi disse que outro tema analisado pelo grupo dos cardeais é a reforma da burocracia vaticana. Incluída nessa discussão, afirmou, está a relação de vários escritórios do Vaticano com o papa e o papel do secretário de Estado do Vaticano, que nas últimas décadas tradicionalmente tem atuado como uma espécie de primeiro-ministro do pontífice.
Há "amplas sugestões" em termos de ideias de reforma, disse Lombardi, acrescentando que as pessoas não devem esperar que as conclusões sobre qualquer das matérias virão rapidamente.
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Reuniões do papa com os cardeais não terão nenhum relatório público - Instituto Humanitas Unisinos - IHU