Por: Cesar Sanson | 30 Setembro 2013
O filme: El Método (O que você faria?), foi o segundo filme apresentado no ciclo de cinema sobre o trabalho: O Trabalho em mutação, fruto da parceria entre o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores -CEPAT, a Pastoral da Universidade da PUC-PR e o Curso de Ciências Econômicas da PUC- PR, e se propõe a refletir sobre o Mundo do Trabalho, nos seus principais aspectos.
Texto síntese, elaborado por Darlin Sampaio, pesquisadora do CEPAT e coordenadora do evento.
Nesse encontro, contamos com a assessoria do professor Cesar Sanson,(na foto) ativista social, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e que foi por longos anos coordenador do Cepat. Contamos também, com a presença de 53 participantes, entre alunos de vários cursos, ativistas sociais, e profissionais da área administrativa e RH de empresas.
Cesar Sanson, após a exposição do filme, destacou que a melhor metáfora que define o filme El Método do argentino Marcelo Piñeyro é a última cena. Uma avenida devastada, com carros tombados, focos de incêndio, lixo espalhado e absolutamente nenhum transeunte. Uma imagem que evoca uma conflagração da qual ninguém sobrevive.
Segundo ele, o Método Gröholm, abordado no filme – simulacro de uma junção de diferentes métodos utilizados pelas grandes corporações transnacionais para recrutar executivos para suas empresas – também é devastador. Não há vencedores. O competidor que sobrevive manifesta o que de pior e abjeto reúne a condição humana.
Para Sanson, assim é a globalização. O mercado globalizado requer alto grau de competitividade. Tal qual um game ao menor vacilo o competidor é deletado. Nessa disputa não há espaço para comiserações pessoais. É vencer ou vencer! Trata-se de um vale-tudo, menos jogar o oponente pela janela do asséptico e clean escritório de recursos humanos da transnacional situado num luxuoso edifício. Constranger, humilhar, coagir, submeter o outro a situações vexatórias faz parte do jogo.
Segundo o debatedor, uma olhada rápida pelo mundo do trabalho permite perceber a grande obsessão pela competitividade que é cobrada pelos acionistas das grandes corporações. Na obtenção de bons resultados, o lucro, vale de tudo: deslocalização de plantas industriais, trabalho escravo, terceirização etc. O professor citou o recente caso da conhecida marca de roupas Zara, uma empresa espanhola que foi denunciada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), pela utilização de trabalho escravo, na sua produção em São Paulo. Essa empresa, entretanto, não é a única que explora a mão de obra, sobretudo de imigrantes em condições análogas à escravidão.
O mais grave, diz o professor da UFRN é que a competitividade deixou de ser uma categoria econômica e passou a ser também uma categoria cultural. Todos nós somos instados a ser competitivos. Essa lógica instalou-se na sociedade e no mundo do trabalho, e não deixa que os trabalhadores e as trabalhadoras percebam outras manifestações, como o filme revela. Os executivos em avaliação, até sabiam das manifestações nas ruas por conta de um encontro do G8, mas não a conseguem enxergar. A metáfora sugerida é que de fato não a querem enxergar. A não visualização corresponde a uma negação da solidariedade.
Egoísmo: ideia basilar do neoliberalismo
O professor discorreu sobre Adam Smith e a sua obra A Riqueza das Nações na qual o sentimento do egoísmo - o clássico exemplo do padeiro, do cervejeiro e do açougueiro- é central na organização do mercado e aos poucos vai assumindo forma hegemônica de pensar e agir até se tornar sem limites no capitalismo. Max Weber na sua obra O espírito do capitalismo e a ética protestante, revela que inicialmente o capitalismo ainda pressuponha certa ética - parte do ganho obtido, era distribuída em salários, a outra utilizada para gerar novos empregos e uma última para o lucro.
Mas, hoje, nas grandes empresas os executivos são acorrentados à lógica de só gerar produtividade e lucros, pois o compromisso é com o lucro dos acionistas. O professor comentou o caso do Nissan, onde um alto executivo ficou conhecido como o “exterminador de empregos” em função da lógica do lucro a qualquer preço.
Na obsessão por competitividade, não há ética
A lógica da obtenção do lucro pressiona não só os executivos das grandes corporações, mas se instalou no mundo do trabalho e rompeu com procedimentos éticos. O pior, segundo Cesar Sanson é que o conjunto da sociedade assumiu o discurso da competitividade e sua ferocidade.
Os laços de solidariedade foram cortados. A lógica do mundo do trabalho é de cada um por si, e de preferência levando vantagem econômica. Os critérios de empregabilidade que são utilizados pelas empresas para contratação são altamente exigentes e muitas vezes desnecessários. Os trabalhadores e trabalhadoras sentem-se diminuidos, não preparados e qualificados diante de tantas exigências. Os critérios são reducentes.
Há todo um discurso e avaliações psicológicas que perpassam as justificativas de contratação ou não. Fala-se na importância de trabalho em equipe, por exemplo, mas desde que este, reverta-se para a produtividade e a lucratividade.
Segundo Cesar, as jornadas de junho revelam que a questão da mobilidade está associada a nova lógica insana do mercardo de trabalho. A correria necessária para dar conta da “empregabilidade”, exigência do mercado numa metrópole que dificulta o deslocamento, as pessoas ficam presas, imobilizadas.
O filme apresentado passa uma visão pessimista, pois o egoísmo vence o amor. Mostra ainda as dificuldades, enfrentadas especialmente pelas mulheres. Trata-se além dos rotineiros preconceitos por ser mais velha, ter filhos, ou então, por estar ligada ao biológico, gerar filhos e os afazeres domésticos. As chances de ascensão profissional são reduzidas e seletivas. Entre um homem e uma mulher, a grande chance, o privilégio será masculino. Tudo parece ser uma grande condenação.
O debate realizado no evento foi muito produtivo. A presença de profissionais de grandes empresas e do RH de algumas, confirmaram algumas das práticas mostradas pelo filme. O processo seletivo é mesmo excludente e não está só colocada, evidentemente a capacidade do possível contratado. Outras questões pesam nos processos seletivos, e eles não são edificantes. Longe estão, de serem moralmente éticos. O descarte do executivo com consciência social e ambiental revelou bem isso.
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"A competitividade não é mais apenas uma categoria econômica, tornou-se também cultural" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU