30 Setembro 2013
"Acompanharemos o papa em Assis e rezaremos com ele junto ao túmulo de São Francisco". O cardeal Giuseppe Bertello, governador vaticano e único curial entre os oito conselheiros que se reunirão pela primeira vez no início de outubro, confirma a participação, desejada por Bergoglio, na viagem papal aos lugares sagrados papais do Poverello.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 28-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No dia 4 de outubro, os cardeais encarregados de colaborar na reforma da Cúria farão parte da viagem para a "cidadela da paz". Alguns membros do "Conselho da Coroa" já estão em Roma, onde participaram das plenárias das congregações das quais fazem grupo parte. O grupo dos oito cardeais encarregados de ajudar o papa no governo da Igreja e na reforma da Cúria, com o qual o pontífice se reunirá no Vaticano nos dias 1º, 2 e 3 de outubro, "é constituído para oferecer conselhos ao papa e não para tomar decisões próprias", destaca o porta-voz vaticano, Federico Lombardi, acrescentando "que se trata de uma primeira reunião, que será seguida por outras, e que os participantes se aterão a critérios de privacidade sobre os conteúdos das consultas".
Na segunda-feira, 13, o diretor da Sala de Imprensa irá realizar um briefing sobre a reunião do papa com o grupo dos oito cardeais, em particular sobre a natureza, a preparação e os tempos de trabalho. Fazem parte do "G8": Giuseppe Bertello, o ex-núncio na Itália e em San Marino, e presidente do Governatorato do Vaticano; Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo emérito de Santiago de Chile (ele deixou o cargo por causa do limite de idade); Oswald Gracias, arcebispo de Bombaim e presidente da Conferência Episcopal da Ásia; Reinhard Marx, arcebispo de München e Freising (Alemanha ); Laurent Monswengo Pasinya, arcebispo de Kinshasa (República Democrática do Congo); Sean Patrick O'Malley, arcebispo de Boston (EUA); George Pell, arcebispo de Sydney (Austrália); e Óscar Ándres Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa (Honduras), além de coordenador dos oito conselheiros. O secretário é Dom Marcello Semeraro, bispo de Albano, que foi secretário especial do Sínodo de 2001.
Em torno dos trabalhos do "diretório" há uma grande expectativa, a tal ponto que na Cúria já dão um passo atrás: "É a primeira de uma série de reuniões, não se deve esperar tudo de uma vez". Por que não "integrar" o trabalho da comissão dos oito cardeais encarregados pelo papa de estudar a reforma da Cúria com a obra de uma "agência laica totalmente fora da órbita da Igreja?", propõe a revista Il Regno, através de um artigo do jesuíta e historiador do cristianismo John O'Malley, que considera "mais provável que uma agência desse tipo faça certas perguntas, que nem passariam pela cabeça dos membros da Igreja".
Quanto à "reforma da Cúria no sentido de uma maior colegialidade" (tema ao qual estavam apontadas muitas das expectativas dos primeiros meses do pontificado de Jorge Mario Bergoglio), O'Malley assinala, em particular, dois problemas a se considerar: o fato de que "hoje os homens e as mulheres não aceitam facilmente a ideia de que um corpo de elite distante e sem rosto se arrogue o direito de lhes dizer o que pensar e como se comportar", e que hoje é difícil "encontrar um laço teologicamente crível entre Pedro e o simples pescador da Galileia, e Pedro príncipe dos apóstolos à frente de um grande escritório burocrático central".
Entre os pontos práticos que é preciso "remediar", o jesuíta norte-americano, que é professor da Georgetown University, em Washington, indica a "falta de comunicação entre congregações, secretarias e outros escritórios da Cúria"; os "procedimentos para o recrutamento de pessoal da Cúria, que às vezes parecem responder a um sistema clientelista mais do que a critérios meritocráticos"; a necessidade de um mecanismo que assegure que "os chefes dos vários escritórios sejam considerados responsáveis pelo desempenho dos seus deveres e não lhes seja permitido agir sem uma estrita supervisão".
O'Malley lembra que a doutrina sobre a colegialidade se tornou o "para-raios" do Concílio, e que nenhuma outra encontrou uma " oposição mais inflexível", já que "os seus inimigos se deram conta do caráter radical que ela tinha e das suas implicações". Por fim, "o Concílio ratificou a doutrina, mas não foi capaz de lhe dar a forma necessária para torná-la operativa na Igreja". A colegialidade, observa o historiador do cristianismo, tem "implicações enormes para a Cúria", já que significa que ela não age em nome da Igreja, mas como sujeito que serve a outros sujeitos em um nível mais baixo para ajudá-los a fazer o que devem fazer.
O primeiro objetivo do grupo é aconselhar o papa "no governo da Igreja universal", o segundo é "estudar um projeto de revisão da Pastor Bonus" (28 de junho de 1988), de João Paulo II, que organizou a Cúria Romana em cinco grandes setores: Secretaria de Estado, com um papel central e proeminente, o que criou muitos incômodos nas outras esferas vaticanas; Congregações; Tribunais Eclesiásticos; Pontifícios Conselhos; Escritórios e Órgãos.
Nos últimos 110 anos, houve três grandes reformas da Cúria: Pio X, com a Sapienti Consilio (1908) a adequou ao fim do poder temporal depois da tomada de Roma no dia 20 de setembro de 1870; Paulo VI com a Regimini Ecclesiae Universae (1967) a adequou ao Concílio Vaticano II; João Paulo II na Pastor Bonus (1988) ao novo Código de Direito Canônico de 1984.
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O ''G8'' para a reforma com Francisco em Assis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU